Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
A SEALBA E O MST EM SERGIPE
02/02/2024
A SEALBA E O MST EM SERGIPE

Neste Blog:

 

1) A SEALBA E O MST EM SERGIPE

2) A BATALHA DE ARACAJU

3) FILÓ MORREU............

 

 

 

A SEALBA E O MST EM SERGIPE

Sergipe integrado ao agronégocio.

 

O  que ninguém acreditava, quase a médio prazo aconteceu: Sergipe tornou-se um polo do agronegócio. E da melhor forma possível, porque, no caso do setor mais dinâmico que é a cadeia produtiva do leite, ela se fez verticalizada, abrangendo na mesma área o curral e a indústria. Isso multiplica empregos e agrega valor, exercendo, localmente, um efeito  de transformação muito mais amplo. 

A industrialização se configura de uma forma, diríamos capilarizada, porque os pequenos laticínios se espalham próximos aos currais,( isso na região do semiárido) enquanto os grandes e médios concentram-se em torno da sede do município de Nossa Senhora da Glória, um modelo que reduz custos pela logística simplificada, deixando-se de transportar o leite a grandes distancias.

O governador Mitidieri entendeu bem  esse cenário e vem ampliando a rede das “ estradas do leite”. Essa visão estratégica iniciou-se com Marcelo Déda, que asfaltou rodovias fundamentais para a expansão da produção leiteira, uma,  para o polo de Santa Rosa do Ermírio em Poço Redondo,  outra, para Capim Grosso em Canindé, onde existem laticínios, um deles de porte médio, e  razoável rebanho.

 

Ao lado da expansão do leite, surgiu o milho, agora indo quase da praia ao sertão, atravessando o agreste, e criando uma lista de municípios que enriquecem visivelmente, como Carira, Ribeirópolis, Nossa Senhora Aparecida, entre outros.

Para o escoamento do milho, Déda construiu uma outra importante estrada, que liga Carira a Glória. Belivaldo dedicou-se a manter essa rede em boas condições de tráfego.

 O fenômeno  do agronegócio instalando-se em Sergipe  resulta, quase unicamente da iniciativa privada, que incorporou tecnologias, usou o crédito bancário, com a novidade de empresários  da área do comércio, indústria e serviços, aderindo à agricultura, atraídos pela valorização do milho e arrendando terras para o plantio.

A pujança desse novo e  entusiasmante tempo revela-se neste final de semana na SEALBA, a feira rural reunindo Sergipe- Alagoas e Bahia. E como não poderia deixar de ser, Itabaiana que a inventou, torna-se pela terceira vez a sede  do evento, já incluído entre os maiores do nordeste.

O Secretário da Agricultura Zeca Silva entusiasmado com a SEALBA, entende que ali está a nossa melhor vitrine.

O engenheiro agrônomo Manoel Moacir, ex-dirigente da EMBRAPA em Sergipe,  entende que não se pode dissociar  o sucesso do milho  e do leite em Sergipe ao fato de que houve inovação e muita tecnologia.

De um modo geral o fantástico crescimento do agronegócio brasileiro é o resultado da tecnologia chegando ao campo, e assim ultrapassamos os Estados Unidos, a Europa, e nos tornamos,  de verdade, um celeiro do mundo.

E o que tem a ver com isso tudo o MST , o Movimento dos Agricultores Sem Terra ?

Em Sergipe, o MST quebrou a espinha dorsal do coronelismo parasitário, aquele modelo descuidado e improdutivo do gado no sertão, solto nas caatingas, do vaqueiro sem receber salário,  sendo remunerado com um ínfima parte dos bezerros que nasciam nos rebanhos sob seus cuidados. Era um modelo de escravatura recauchutado.

Então, começaram as “ ocupações”, e surgiu o conceito abrigado na Constituição da propriedade com função social.

O receio de perderem as terras fez com que aparecessem os  novos atores, que foram levando  capacidade empreendedora ao campo desprezado. Dessa forma, paralelamente, cresceram a agricultura familiar e o agronegócio em escala.

Os conflitos   foram sendo atenuados, e agora prevalece o diálogo, que um Albano Franco, quando governador soube iniciar, reunindo-se, as vezes durante à noite com João Daniel, Frei Enoque e outros líderes, e surgiram resultados concretos como o perímetro irrigado Jacaré – Curituba, que o MST conquistou, e nele trabalham e produzem, os que antes invadiam.

É tempo de acabar essa demonização, tanto do MST como do agronegócio, e imaginar futuros eventos como a SEALBA,  tendo um ao lado do outro.

Sobre a terra devem marchar homens e mulheres com as armas da produção,   arados, tratores, drones, jamais exibindo fuzis.

 Os conflitos em torno da propriedade da terra ´surgem no fundo da História antiga, atravessam as civilizações grega, romana, surgem na Idade Média,  e convivem  com as  gestas que cantam herois à frente dos servos  desafiando os senhores feudais. Na Grécia antiga um legislador e governante Sólon,  criou  uma legislação especial para a posse e uso das terras restritas dos seus solos pedregosos.

Com a Revolução Verde, a entrada dos fertilizantes, a engenharia genética, o foco passou a ser outro: a conquista da tecnologia, sem a qual de nada vale a conquista da terra.

Assim, grandes, médios e pequenos produtores devem fazer uso dos mesmos meios, dos mesmos sistemas  , e o que parecia inverossímil acontece: a tecnologia vai ocupando os lugares da ideologia.

 

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A BATALHA DE ARACAJU

 

Na disputa já estão Yandra, Luiz Roberto, Emília Corrêa,Clovis querendo, e outros que vão sugir,

 

A “ batalha de Aracaju “ que acontece  em outubro deste ano, será apenas uma prévia do confronto final que ocorrerá dois anos depois, em outubro de 2026.

Os que irão dela participar,  já faz tempo estão a “ azeitar as armas “. Eles  sabem muito bem  avaliar os resultados  ou as consequencias dos embates que acontecerão este anos.

 

A eleição municipal,   características  incomuns.  Não existe mais a figura central de uma liderança que prepondera. Com  a generosa ( para não usar outro termo ) distribuição dos recursos do orçamento entre os parlamentares federais, cada um criou o seu próprio nicho de poder, e se tornam independentes, sem o risco de perderem espaço maior, se não estiverem fidelizados ao governo. 

Nas lideranças pulverizadas, ocorre uma avalanche de interesses díspares e conflitantes, e cada um cuida da própria pele. O governador Mitidieri entendeu  bem as circunstancias que o cercam, e faz afagos a cada um. Demonstrando êxito pelo apoio maciço na Assembleia e o trânsito fácil na bancada federal.

Mas, diante da eleição em cada município, será impossível   fazer um acomodamento geral. O ex-deputado André Moura consegue a proeza de liderar dezenas de prefeitos, e com a eleição consagradora da filha Yandra à Câmara ampliou sua margem de poder.

Os governistas construíram o Pacto do Hotel Del Canto, depois de um quase madrugador café ali realizado, onde combinou-se que em Aracaju existirão várias candidaturas, com o extremo cuidado de não aprofundarem divergências inconciliáveis ao longo da disputa. Dessa forma, André deve manter a candidatura da filha Yandra que tem folego próprio, e está em plena campanha, por sinal, com um marketing de excelente qualidade.

 O prefeito Edvaldo Nogueira, exibindo uma vistosa gama de realizações, já sendo aclamado como o melhor prefeito de Aracaju,    lançou todas as cartas  no numero de Luiz Roberto, um advogado, experiente e resolutivo administrador público, que agora Secretário de  Obras do Governo Mitidieri,   por sintonia partidária ou simpatia pessoal  , tornou-se também candidato do governador, e isso praticamente consolidou a sua candidatura. Mas surgirão no campo governista, possivelmente outros candidatos.

Imaginou-se, inicialmente, que o ex-governador Belivaldo Chagas, poderia ser o nome ideal para alcançar um consenso entre os governistas, e assim se tornaria  candidato único do grupo. Ele seguramente seria a mais viável das alternativas, mas, em meio a tantos interesses conflitantes é difícil somar concordâncias. Belivaldo, que

se mostra plenamente satisfeito com o que já alcançou na sua trajetória política, entendendo o que se passava, imaginou com os seus botões, numa metáfora bem matuta: eu nem amarrei ainda o meu jegue em Aracaju, e já estão querendo desfazer o nó.

Reuniu-se com André Moura e lhe disse que ele estava livre para, sem absolutamente magoá-lo, lançar Yandra  candidata.

 Como dirigente estadual do PDS ,  Belivaldo acompanha  e participa  da vida política,   de preferencia olhando as vaquinhas pastarem ao pé da imponente serra do Cruzeiro, na sua terra, Simão Dias.

 

Na oposição, ( por onde realmente ela anda ?) a vereadora  e advogada Emília permanece nas pesquisas em primeiro lugar . Pergunta-se: o que faz mesmo Emília para  merecer tamanha popularidade ?

A mesma pergunta foi feita em relação a Valmir de Francisquinho, o interiorano que se fez candidato  sendo quase desconhecido em Aracaju, e seria hoje governador, caso a Justiça não o houvesse barrado,  num ato discutível, e hoje anulado.

E se Francisquinho, que faz um passeio em Itabaiana de volta à Prefeitura, vier a Aracaju e der mão forte a Emília, juntando ao  discurso de apoio a sua condição de vítima, e implorando ao povo uma reparação da injustiça ?

A eleição em Aracaju talvez permaneça  uma incógnita até a abertura das urnas.

Os bolsonaristas de raiz, que em Aracaju  chegam a uns vinte por cento, como demonstraram as ultimas eleições, andam esperançosos de que o deputado extremista Rodrigo Valadares venha a ser candidato.  Ele é o nome perfeito para expressar  as tendencias  bizarras do grupo. Rodrigo é hoje o enfant gaté  da família Bolsonaro, e, se candidato, teria a certeza de que o ex-presidente aqui viria pedir votos para ele.

Em meio a essas incertezas, o que não sai da centralidade das conversas é como ficará o panorama para 2026, após as eleições deste ano. Qual o efeito que terão os resultados na candidatura à reeleição de Mitidieri. No caso do governador ele demonstra claramente o apoio aos candidatos preferidos , sempre do seu partido, começou isso por Aracaju, e vai fazendo aqui e ali demonstrações pelo interior. Mas há casos onde os dois principais candidatos, são eleitores  certos de Fábio em 2026. Por outro lado,  ele tem buscado apoiar seus candidatos somando lideranças de cada município, mas entende posições assumidas, em face da realidade local. E assim vai cuidadosamente pavimentando o seu caminho.

 

 

 

No campo petista surge a novidade de um advogado, intelectual e ex-conselheiro do Tribunal de Contas,  que se declara pronto a ser candidato do partido a Prefeito de Aracaju. Trata-se de Clóvis Barbosa. Histórico militante da esquerda, era amigo pessoal de Déda, mas, talvez,  não tenha no PT a receptividade que espera encontrar.

Rogério, sempre ele quando se trata de surtos de egocentria , já anunciou-se candidato, desistindo de impor a candidatura da sua esposa.

No PT fervem as disputas internas, embora cuidadosamente  disfarçadas ou minimizadas. Mas, sem o aval  de Rogério nenhuma candidatura será viabilizada, mesmo que, para isso, ele tenha de detonar a  suposta unidade partidária.

As alas que  traduzem a diversidade petista, não se moverão para tolher Rogério, na sua pretensão de tornar-se prefeito de Aracaju, mas, se votarão nele, ai já é outra história.

O ministro Márcio Macedo, não pretenderia envolver-se na disputa deste ano. Ele nem alimenta mais o desejo de tornar-se candidato ao Senado, preferindo disputar uma cadeira na Câmara Federal, talvez, ouvindo sugestão de Lula,    candidato a um quarto mandato  e pretendendo ter ,  uma base mais estável de apoio no Congresso. O PT poderá fazer entre 2 e 3 deputados federais. Márcio e João Daniel certamente serão os mais votados.

Quanto a Valadares Filho, hoje um dos principais assessores de Marcio Macedo no Planalto, que acabou de perder o PSB, numa estranha manobra, já se abriga em outra legenda, mas não deve pleitear sua volta à Câmara Federal, provavelmente preferindo uma dobradinha com Márcio como candidato à deputado estadual.

Tanto Márcio como Valadares Filho não parecem muito inclinados a apoiarem uma eventual candidatura de Rogério à Prefeitura de Aracaju.

 

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FILÓ MORREU............

 

Filó, ou quando a morte acompanha a vida.

 

A noticia surgiu assim, fria, sintética, lacônica, e permaneceu vagueando inconclusa em algumas redes.  Quem seria Filó ?  Homem? mulher? Talvez um cãozinho  ou gato de estimação, nominado carinhosamente.

Filó morreu...........

Quem assim anunciou de forma tão minimalista e vaga, talvez nem pretendesse informar, apenas, anunciando Filó morreu, estaria externando uma dor, ou piedade.

Na sede de Canindé do São Francisco, quem leu a mensagem sucinta  , entendeu, lamentou; alguns, até se comoveram e choraram. Embora a noticia fosse apenas a confirmação de uma morte sem nenhuma surpresa.

Filó era conhecida, com ela as pessoas se deparavam em pontos certos da cidade.

  Uma figurinha humana, abatida, esquálida, exibindo no ventre a protuberância enorme de uma hérnia, que a fazia sofrer. Filó vivia , sobrevivia, esmolando. Quando nas suas mãos tremulas chegava alguma nota de cinco ou dez reais, ela descontraia o rosto crispado de uma dor permanente, e sorria, desenhava um abraço, e no rosto de  idade indefinida, rolavam lágrimas de criança.

Quando Orlandinho Andrade foi prefeito de Canindé, ele dedicava uma atenção, um carinho especial e humano, a pessoas como Filó. No dia em que tomou posse no segundo mandato, ele disse que transferia seu diploma de Prefeito para Filó, para Xeleu. Dois mendigos.

Xeleu morreu antes, Filó agora o seguiu. Mas o simbolismo do diploma conferido aos dois desgraçados da sorte, aos dois seres  perdidos  na indiferença da desumanidade, ficou apenas no gesto. Orlandinho morreu.

Sempre houve, antes, uma Secretaria de Assistência que funcionava, a comida chegava aos famintos, o hospital precário recebia e tentava tratar pessoas como Filó.

Mas, há três anos, só a caridade publica mantinha Filó com um fio de vida.

Magrinha, cambaleante, triste, talvez cansada daquela rotina áspera  de existir, um  dia, faz uns dois anos, Filó arrastou-se até uma torre  de telefônica,  e aos poucos se foi arrastando tentando chegar mais alto. Parou estafada pela metade, e fez sinal de que iria pular. As pessoas se aglomeraram em baixo. Ninguém sabia o que fazer, e Filó balançava ao vento.

Chegou então um policial, o sargento da PM Solimões. Ele não é especialista em operações especiais, é doutor em física e mestre em matemática. Mas, sem dizer palavra começou a escalar a torre, aproximou-se de Filó, com voz mansa a aquietava, e logo começava a descida, Filó enlaçada por um dos braços, o outro segurando-se nos ferros, em apoio.

Não havia ambulância, Solimões conseguiu um veiculo que levou Filó ao hospital. Não havia ferimentos. Nela, apenas o peso da vida, o desespero de conformar-se em existir. E ela, resignadamente, continuou a viver.

Caberia a pergunta: Filó viveu ?

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