Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
Fechar a República e fazer o balanço
13/04/2017
Fechar a República e fazer o balanço

Medem-se, na França, as convulsões político–institucionais do país pelo algarismo que precede a palavra República, denominação à qual os franceses, a cultura política francesa, conferem uma especial valoração.

A cada República corresponde uma Constituição que retrata os anseios, as aspirações populares, também, a ideologia prevalecente no aparato estatal. No caso das Constituições outorgadas, configura-se o desapreço pela democracia, ou a necessidade pontual de medidas ditadas pela urgência das circunstancias em atropelo.

No Brasil, só muito recentemente, começou-se a tratar com alguma reverencia o termo República, enxergando-a como o formato político que privilegiaria o respeito à coisa pública, indo à raiz semântica do termo latino. Mas, essa exaltação das característica inseparáveis da forma republicana de governo, limitou-se aos círculos intelectuais, ao espaço acadêmico, aos teóricos da política. Aqueles que na prática movem-se no terreno político, na sua grande maioria nem sabem os significados contidos no termo, nem desejam saber, até porque, todos, pela maneira como se conduzem, são o inverso do que seria a forma republicana de exercitar a democracia, a arte do governo, ou o lidar com a ciência política.

Marcelo Déda, virtuoso político que perdemos, era um intelectual confrangido pela defasagem entre as suas concepções republicanas e o dia a dia da miúda politica que vivemos. Talvez por isso, ele, como se fosse um missionário  que nunca desiste de propagar a sua fé, repetia, insistentemente, a palavra República, com a eloquência  e a elegância da sua oratória magistral. Para Marcelo Déda não existiriam  ¨Republiquetas¨, até porque, se assim fossem denominadas, nada teriam de republicano para que merecessem o termo, ainda que pejorativo. Segundo Déda as Repúblicas não se desmerecem.

Se fizermos a cronologia das nossas conflagrações políticas, sem nos ater à metodologia, ou aos rigores acadêmicos, teríamos chegado agora ao período da 7ª República, que, exaurida, estaria necessitando de uma passagem para uma outra, que simbolizaria o renascimento. As nossas ¨repúblicas¨, é triste, porém forçoso admitir: nunca mereceram o termo.

Sem estabelecermos uma datação precisa através do dia e o mês de cada Constituição que vivemos, começaríamos, com o ideal republicano em desencontro com o Império, fazendo surgir, pelas patas do cavalo de  Deodoro, o instante vitorioso de uma minoria letrada, diante da passividade de uma nação de analfabetos, e de semialfabetizados presunçosos,  que se desinteressaram pela sorte do Império depois que a Princesa Izabel retirou-lhes o imundo direito de possuírem escravos.

A Primeira República subsistiu até a Revolução de 1930, quando os revolucionários liderados por Getúlio amarraram os seus cavalos ao obelisco da Avenida Rio Branco, bem próximo ao Senado da República, e tendo um pouco adiante o Palácio do Catete, do qual   sairia escoltado pelo Cardeal Leme, e por alguns militares que lhe bateram as continências de estilo, o deposto presidente Washington Luiz. Nascia a efêmera 2ª República.

A 3ª República veio rápido, logo em novembro de 1937, quando  Vargas, tornando-se ditador,  outorgou  a Carta que se fez famosa como    ¨Polaca¨, e anunciou ao Brasil e ao mundo que estávamos aderindo ao modelo fascista de Mussolini, o déspota bufão que o instalara na Itália;  imitávamos, também,  a mesquinharia portuguesa do déspota rançoso Salazar, e não fazíamos restrições ao nazismo do déspota, seboso –devastador, Adolf Hitler, na sua Alemanha nazificada.

Em 1945, a queda de Getúlio ensejaria o surgimento da ansiada 4ª República, ou a constatação de que se isso não o fizéssemos estaríamos cuspindo sobre os ossos deixados na Itália, no fundo dos oceanos, daqueles brasileiros que lutaram e morreram na Segunda Grande Guerra, da qual saíramos ao lado da parcela dos vencedores.

A 5ª República nasceria tristemente festejada pelos que desacreditaram na democracia, ou que se diziam seus salvadores. Aconteceu em março – abril de 1964, quando prevaleceram as baionetas, que ainda conservavam um certo escrúpulo em demasiadamente exibir-se.

A 6º e malsinada ¨República¨, surgiu pela pena descompassada com o tempo e a dignidade humana, sendo desenhada raivosamente pelos sabujos rabiscadores do texto nefando do Ato Institucional n º 5, que nos devolveu, no tempo, ao convívio selvagem da força e da submissão.  Quando um titubeante e amedrontado marechal Costa e Silva assinou o que lhe puseram em frente, teria reverberado, num emudecido solilóquio, a frase síntese do erro coletivo verbalizada pelo ministro – coronel Jarbas Passarinho ao sufragar o imundo texto autoritário: ¨Às favas com os escrúpulos¨.

Seria admissível a fixação do prazo dessa ignóbil 6 º República até o dia, em 1976, em que o general Geisel retirou do seu trono no Ministério do Exército o general Frota, e desarticulou a rede radical dos que pretendiam afiar as baionetas e eternizar o AI – 5.

A 7ª República começou, aliás muito mal, quando morreu Tancredo Neves, o estadista que a ela imprimiria rumo e dignidade. Como que antevendo as consequências, o general Figueiredo preferiu sair de mansinho pelos fundos do Palácio, para não ter de entregar a Faixa Presidencial a José Sarney, que ele tão bem conhecia. Ali, começavam os descaminhos da Nova República nascente. Aos trancos e barrancos chegamos, agora, a um ponto crucial do impasse, estamos na undécima hora.

Precisamos fazer nascer a 8ª República, que não será obra desse Temer iniquo que aí está. Não deverá ser também a tarefa repugnante de nenhum autoritário ¨salvador da pátria¨, seja ele fardado, togado, ou de macacão. Não poderemos, também, apressar o fim da iniquidade dos Padilhas, dos Gedeis, dos Moreiras, e companhia. É imprescindível, para que a economia não degringole ainda mais, que Temer chegue até o fim do seu mandato, se não espúrio, pelo menos, agora, atraiçoado.

Devemos cumprir o calendário eleitoral, e fazer isso embutido com a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, dela excluídos os políticos atuais, para que, sobre os escombros repugnantes desta malfadada República de meliantes, falida e vergonhosa, possa surgir a montagem democrática, pluralista e social, de uma arquitetura de Brasil diferente. E expurgado.


PÉ DE PATO MONGOLÔ 3 VEZES

Há em Sergipe, um cidadão que ambicionou dominar a política e a economia do estado. Traçou um intrincado esquema de interesses para chegar aos seus objetivos. Chegou, mesmo, a acumular um poder enorme. Mas, nas pessoas em que encostou buscando apoio ou somação de forças, quase todas essas sofreram, ou estão a sofrer pesadas consequência. Um leitor nos manda uma relação das desditas acontecidas, e relacionou, nominalmente, o que afirma serem as vítimas do cidadão que ele considera um pé frio, desses, que embora não se acreditando em bruxas, pelo sim pelo não, é recomendável manter uma certa distância.

De um tempo para cá, o ex-governador João Alves tem sofrido uma série de desditas, e sendo derrotado em eleições, ele, que era um campeão imbatível de votos. Viu-se envolvido em denúncias, tornou-se réu, embora seja um homem que ao longo do tempo foi perdendo patrimônio, e tenha um volume imenso de realizações importantes por todo o estado. Agora, a senadora Maria do Carmo surge na lista enorme da Odebrecht. Formam, os dois, um casal de idosos, que terá pela frente um sofrido processo de desgaste e constrangimentos. Certamente, serão inocentados ao fim de tudo, mas as marcas ficarão, deteriorando a imagem política dos dois. Por insondáveis caprichos do destino, eles tiveram de conviver e fazer projetos políticos com aquele cidadão repleto de habilidades.

O ex-conselheiro do TC, Flávio Conceição, poderá ter cometido erros, mas é um cidadão que serviu enquanto pode servir a muitos amigos, que deliberadamente nunca fez mal a quem quer que seja, e poucos políticos em Sergipe não o procuraram em busca de apoio, de ajuda, no decorrer das agonias da campanha. Ele tinha excelentes relações com empreiteiros. Flávio caiu em desgraça algum tempo depois de aliar-se ao referido cidadão, articulador ambicioso em demasia.  Flávio chegou a ser preso, perdeu o cargo de Conselheiro. A hoje conselheira Angélica Guimarães, quando deputada e na presidência da Assembleia, atendeu pressurosamente ao indigitado cidadão.  Ela enfrenta problemas na Justiça.

Na Assembleia, onde o cidadão sempre arquitetando coisas, durante um tempo exerceu fortíssima influência, dois deputados foram suspensos pela Justiça, e não podem, sequer, pisar nas calçadas do Legislativo, para o qual foram eleitos. Na Assembleia de Sergipe 18 parlamentares estão sendo processados por conta de uma subvenção, sugerida exatamente, pelo cidadão que se tornou, de fato, o controlador de tudo o que sucedia na chamada Casa do Povo. Só agora, com o trabalho hábil, inteligente e conciliador do presidente deputado Luciano Bispo, a AL iniciou um roteiro de recuperação da imagem, e tem sido protagonista em importantes debates, políticos, sociais e econômicos.

Marcelo Déda, num certo momento, disse que se penitenciava do papel de bombril  que desempenhara quando aceitou a aliança política com o cidadão aqui enfocado. Sofreu muito em consequência daquela aliança, que já desfizera, mas isso abreviou-lhe a vida, diante dos empecilhos de ordem política que teve de enfrentar, estimulados pelo cidadão que, naquele tempo, manipulava os cordéis da política sergipana.

Dois empresários do setor dos transportes, que comandavam empresas em ascensão, juntaram-se politicamente ao cidadão muito hábil em criar expectativas. Um deles, viu dissolverem-se as suas empresas, deixando consequências graves para toda a família. O outro, enfrenta problemas quase idênticos.

O senador Eduardo Amorim, inseparavelmente próximo do aqui referenciado cidadão, vinha atravessando uma fase positiva de ascensão política, mas, perdeu fragorosamente a eleição para o governo do estado. Agora, aparece na lista demolidora da Odebrecht. É inocente até que se prove o contrário, mas, não escapará do enorme desgaste político.

O deputado federal Valadares Filho tinha uma eleição considerada certa e segura para a Prefeitura de Aracaju, até quando juntou-se ao cidadão insinuante. Todos sabem o resultado. Um auxiliar direto do cidadão que alguns crédulos dizem ser ¨carregado¨, suicidou-se em circunstancias estranhas, não por suspeitas de ter sido assassinado, absolutamente, mas, pelas causas que teriam motivado o gesto extremo.

Há outros problemas que poderiam ser listados, inclusive, envolvendo pessoas ocupando altas posições, todavia, a lista já se faz longa, e é melhor recorrer aos amuletos, às frases de desconjuro. Então: ¨Pé de Pato, Mongolô três vezes.

QUEM NUNCA PEDIU  AJUDA QUE ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

Não há no Brasil um só político que não tenha um dia recorrido a um empresário em busca de ajuda financeira para a campanha. Antes, isso se fazia abertamente, sem constrangimentos, nem motivos para esconder o apelo.  As eleições estão muito caras, são dispendiosíssimas, mas, nunca houve tempo em que eleição fosse um torneio barato.

O eleitor, sob o argumento de que todo político rouba, passa a exigir uma remuneração pelo voto. Essa prática, que é também um sinal grave de descrédito da classe política, eleva os gastos que se ampliam pelas demandas crescentes de alguns indivíduos que têm alguma parcela de liderança nas comunidades. O eleitor vende a sua ¨mercadoria¨ que é o voto. Os chefes políticos vendem caro o apoio, baseados nos votos que dizem controlar. Disputar eleição tornou-se coisa inacessível para a maioria dos políticos sem recursos suficientes para custear despesas normais, pior ainda para as ¨anormais¨.

Os cargos eletivos se tornam privilégio de quem tem muito dinheiro, ou coragem e disposição suficiente para garimpar recursos, venham eles de caixas 1, 2, ou seja lá o que for. Sempre foi assim, e continuará sendo, com mais cuidados, evidentemente, a não ser que uma adequada reforma política venha a alterar o panorama atual.

OS MANGUEZAIS DE ARACAJU

Aracaju é privilegiada por ter manguezais dentro da cidade. Mas esse bioma tão essencial à vida marinha, está sendo maltratado. Tornaram-se depósitos de lixo, sofrem com a descarga de esgotos sem tratamento. A Reserva Tramanday morre à vista dos responsáveis que nada fazem, da mesma forma, trechos dos mangues da 13 de Julho.

SERGIPE QUASE FORA DAS GARRAS DA LAVA JATO

Sergipe ficou quase fora da extensa lista de delações dos dirigentes da Odebrecht. Mas surgiram, apontados por delatores, os nomes dos senadores Eduardo Amorim e Maria do Carmo. A senadora, em virtude da idade não será submetida ao mesmo processo desgastante de depoimentos. As acusações referem-se, no caso de Maria, à busca de recursos para a campanha.

O senador Valadares não consta na lista, e assim, a sua cotação política cresce, enquanto Eduardo Amorim fica numa posição incomoda, que quase o impossibilitará de concorrer a um cargo majoritário. A senadora terá mandato até 2022. Valadares tem terreno livre para disputar a reeleição, ou até tentar a eleição ao governo.

A oposição tem carência de nomes para a disputa majoritária, desde que o deputado federal Laércio Oliveira sentindo-se mal acomodado, trocou de grupo, e o deputado federal André Moura, por sua vez, não quer correr o risco de uma eleição majoritária, tendo pela frente a larga possibilidade de reeleger-se, provavelmente, sendo recordista de votos.

O RETORNO DO PÉ DURO

O hoje raríssimo gado pé duro, miudinho, enfezado, rústico, embrenhado nas caatingas, dali, fazendo o habitat que lhe possibilita viver e reproduzir, já formou a quase totalidade do rebanho bovino no nordeste. O pé duro é o resultado da adaptação perfeita ao meio, do rebanho inicial de gado europeu de pequena estatura, trazido ao Brasil pelos portugueses no início da colonização.

No nordeste, eles ao longo do tempo adquiriram uma capacidade enorme de resistir no semiárido, enquanto iam reduzindo a estatura, ao mesmo tempo, a exigência da alimentação farta e da água sempre disponível.  Nos períodos de seca, garantem o suprimento de água indispensável, retirando-a das bromélias como a macambira, de todos os tipos de cactos, que com seus chifres curtos e pontiagudos os desbastam, destroem os espinhos, a casca áspera, e se alimentam com a massa suculenta dos caules ou das folhas.

O pé duro foi desaparecendo quando chegaram ao sertão os zebús, de boa qualidade genética, e também rústicos, como o nelore, o guzerá o sindi. Mas, para eles era preciso fazer pastos, desmatar, ou seja, quase acabam a caatinga, o resistente bioma, que torna possível a variedade da vida nas vastidões semiáridas.

Com o desprezo do pé duro e também dos bodes e cabras, acelerou-se a devastação da caatinga, e o solo raso ficou exposto às enxurradas periódicas, à inclemência do sol, ao efeito deletério das queimadas. O solo degradou-se, se foi transformando em desertos, aqui e ali mostrando as suas manchas desnudas, onde a vegetação some por completo.

Criar gado no semiárido, é agora, com as mudanças climáticas uma atividade quase impossível.

Constatando a realidade desestimulante, o agrônomo Jose Dias, um remanescente do tempo em que se fazia, efetivamente, a chamada ¨extensão rural¨, ou seja, a presença constante, do engenheiro – agrônomo, do veterinário, do técnico agrícola, que orientavam, supervisionavam, sugeriam, elaboravam projetos, abriam caminho ao crédito bancário, se integravam às comunidades de agricultores e criadores de gado, de caprinos, ovinos e galinhas.

Ainda conservando o entusiasmo daqueles tempos de recém formado, Zé Dias sugere estudos para determinar, no semiárido, se  a volta do pé duro agora quase em extinção, seria algo mais rentável e mais adequado à preservação ambiental do que o nelore, que exige pasto, e com a sofisticação dos cruzamentos em busca de uma genética mais apurada, vão perdendo a rusticidade característica,  tornando-se mais vulneráveis às estiagens, enquanto os pastos, com o tempo, definham. Zé Dias começa a fazer cálculos sobre o rendimento de um nelore, comparado com dois ou três pés-duros na mesma área.

Haveria, no final, o ganho pelo pé-duro de uma arrobação superior, embora com uma carne que não seria tão suculenta, todavia de boa qualidade. O pé-duro e o bode poderão ser, desde que criados em áreas da caatinga, sem desmatamento e em sistema de espaços alternados, uma alternativa econômica válida para pequenos criadores, além disso, reduziriam a degradação ambiental hoje em acelerado processo, e a caatinga seria preservada.

SÃO CRISTOVÃO OU O MILAGRE ACONTECENDO

São Cristovão era um município infelicitado pela incompetência aliada à cupidez de gestores   classificados como incorrigíveis peculatários pelo incansável Juiz Costa Neto. De eleição em eleição, a esperança de ver o município soerguido, parecia dissipar-se. Agora, parece que ocorrem promissoras mudanças. O prefeito Marcos Santana e o vice, Adilson Junior, mudam o desalentador panorama. Reinstalam-se os bons costumes, as boas práticas administrativas, das quais os cristovenses já haviam perdido a lembrança, após tanto tempo de desmandos.

OS 12 GOVERNADORES NA MIRA DA JUSTIÇA

Dos 24 governadores de estados, metade deles faz parte da lista dos investigados. As acusações vão desde corriqueiros envolvimentos com empresários em busca de recursos para campanhas políticas, até coisas bem mais graves, que denotam, sobretudo, a prática da rapinagem devastadora, que tem sido o comportamento infamante de grande parte da nossa desvirtuada classe política.

Sergipe, felizmente, não figura ao lado de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Goiás, Acre, Alagoas, Rio Grande do Norte, Tocantins e Maranhão.

Sempre relembrando o que diz Albano Franco sobre o fato de Sergipe ser pequeno e aqui todos se conhecerem, ressalte-se que por isso não é nenhuma surpresa a ausência exemplar de Jackson Barreto, numa lista que, de qualquer forma, sejam ou não culpados os governadores, não deixa de ser   deprimente.

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