Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
A BUSCA PELO GENERAL MOURÃO
13/08/2019
A BUSCA PELO GENERAL MOURÃO

Se o presidente Bolsonaro não fosse tão ególatra insensível, e intelectualmente obtuso, ele já teria providenciado um remédio, ao seu alcance, para amenizar os graves prejuízos que a sua boca rota vai causando ao país.

Bolsonaro teve um mérito: entre a vitória nas urnas e a posse, ouviu os militares que se fizeram seus conselheiros. O resultado foi um Ministério que, exceto os apontados pelo debochado Olavo de Carvalho, e dois ou três da sua própria cota, ou dos seus filhos, reúne um qualificado número de técnicos civis, e os oriundos da caserna, estes, indo além da atividade castrense fim, que é enfrentar a guerra, aperfeiçoaram-se nas academias, e estão sempre engajados num Projeto de Brasil, que vai muito além do especifico adestramento com as armas.

Assim, o Ministério age, coordena, e é operacional, todavia, começa a sentir as consequências imediatas das falas desconexas do presidente, dos atritos que ele provoca, das desconfianças que semeia, das mesquinharias, retaliações e vinganças com as quais recheia as suas falas.

A grande oportunidade para o começo rápido da recuperação econômica foi perdido no início do mandato, quando num raro clima de muito otimismo, Bolsonaro preferiu acirrar sua guerra ideológica particular, esqueceu-se de convocar todos os brasileiros para um esforço concentrado, visando animar a economia e reduzir o desemprego.

Com relação à China, nosso maior parceiro comercial, houve a necessidade da ida urgente aquele  país, de uma missão de alto nível chefiada pelo vice presidente Hamilton Mourão.

Logo de início, o presidente querendo mimosear seu “amigo" o hoje decaído e periclitante ainda Premier israelense Benyamin Netaniahu, prometeu-lhe transferir a nossa Embaixada  de Tel Aviv para Jerusalém.

Jejuno em política externa, sem nenhuma ideia do que seja a geopolítica incandescente do Oriente Médio, e das características do universo árabe-muçulmano, o capitão quase coloca a perder um longo, paciente, e qualificado trabalho da nossa diplomacia, além da persistência competente dos nossos empresários para assumir uma posição preponderante no  endinheirado mercado do mundo islâmico, objeto de uma acirrada competição, na qual o Brasil assumiu a dianteira como exportador de carnes, soja, e outros produtos.

O agronegócio quase entrou em pânico, a EMBRAER, com o amplo horizonte de vendas aberto para o sofisticado jato  de transporte e operações militares, o KC-380, dos jatos de médio porte e executivos, além do Super-Tucano, viu suas vendas ameaçadas. O vice-presidente, a parte majoritária e competente do Ministério, mobilizaram-se para reverter o clima desfavorável.

Mas a lista de impropriedades é longa, e tem obrigado o porta-voz, general Rego Barros a exercitar ao máximo sua rara habilidade em adequar as falas presidenciais ao espaço da racionalidade.

De nada adianta jogar pedras sobre o passado, querer “refazer o Brasil". O Brasil já está feito, consolidado, isso se deveu a muita gente, a tantos presidentes, a alguns que foram estadistas, aos nossos intelectuais, artistas, cientistas, escritores, quase todos eles agora afrontados e insultados. O presidente investe de forma grosseira contra integrantes do seu próprio governo, uma atitude absurda, que os seus filhos levam ao paroxismo da desconfiança e da suspeição. A nossa diplomacia é respeitada, o nosso povo, a nossa gente tropical, com seus hábitos, sua generosidade, sua forma plena de viver, de sentir, de amar, criar, fazer carnavais, samba, xote, baião, essa mistura de etnias, de religiões, uma característica da alma acolhedora e afetiva do brasileiro, todo esse acervo de história e cultura, que é um patrimônio exemplar da nacionalidade, está debaixo da inexplicável ojeriza que Bolsonaro sente, e externa com tanta agressividade, atingindo tudo o que não estiver acomodado no espaço impreciso e tumultuado da sua mente  em estado de ebulição delirante.

Aborreceu-se com o Ministro das Relações Exteriores da França, que veio ao Brasil especialmente para conversar com ele. Não lhe deu satisfação alguma, ignorou a audiência previamente marcada, foi cortar o cabelo, e postou nas redes a foto.

Falou mal da Primeira Ministra alemã Ângela Merkel, a mulher governante mais em evidencia no mundo, fez chiste com o Presidente Macron, da França.

Resultado: pôs a perder o trabalho do seu próprio governo,  que deu sequencia ao que já vinha há vinte anos sendo construído: o acordo de livre comércio com a União Europeia. Agora, esse acordo torna-se improvável.

A Alemanha anunciou que irá suspender os recursos para o Fundo de Preservação da Amazônia . A Noruega deverá fazer o mesmo. É coisa de uns 200 milhões  de  reais. Sem esse dinheiro,    vários projetos científicos em andamento, vários experimentos de produção integrados à floresta serão paralisados. O presidente diz que os recursos não farão falta, e nisso revela insensibilidade e indiferença.

Naquele jeito debochado que parece fazer parte de uma complicada personalidade, Bolsonaro deu a sua sugestão  aos brasileiros defensores do meio ambiente: um intervalo de 48 horas entre as idas ao sanitário, ou ao mato.

Iniciou -se, ao que parece, uma etapa escatológica de governar.

Coincidência ou não, foram divulgadas logo depois, pelos próprios órgãos oficiais, as desalentadoras cifras que revelam a queda continuada da nossa economia, alcançando dois trimestres. No entendimento do mercado e dos economistas, surge a evidência clara de que chegamos outra vez à recessão. Paulo Guedes pede mais um ano ou dois para mostrar resultados.

Difícil operar num governo onde o próprio presidente torna-se  fator de instabilidade.

Bolsonaro, se possuir efetivamente aqueles sentimentos tão calorosos de patriotismo que tanto apregoa, poderia ter um gesto de nobreza, que não seria  a renúncia, apenas, uma mudança, não do seu conturbado estilo pessoal, mas, de comando no governo.

No regime parlamentarista o Congresso exerce controle direto sobre o governo. Isso, os hábeis presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado David Alcolumbre, já estão fazendo, ampliando o protagonismo construtivo, para ultrapassar o espaço de turbulência gerado no Planalto.

Completando essa tendência direcionada a um parlamentarismo informal, o presidente Bolsonaro poderia ter o elevado gesto de conferir ao vice-presidente general Hamilton Mourão, as prerrogativas de um Primeiro Ministro  de fato, não de direito. Ele coordenaria o governo, moveria os cordéis da política interna e externa, e iniciaria um amplo diálogo em nome da pacificação nacional, se possível, estabelecida em torno de um projeto exequível e inclusivo para o país; fazendo convergir, numa direção certa, as energias incomuns do povo brasileiro.

Bolsonaro, comandante supremo das Forças Armadas, poderia presidir paradas militares, quando o capitão continuaria a inflar o ego, recebendo a continência de almirantes, generais e brigadeiros.

Refeita a convivência, aposentadas as bizarrices, e reinventados os fatores indispensáveis à vida de todas as sociedades humanas: o   bom senso,  o equilíbrio,  a racionalidade e a confiança,  finalmente, assim, os brasileiros reencontrando o otimismo, poderiam percorrer aquela sonhada trilha que leva ao futuro.

E sem deixar de frequentar o vaso sanitário todos os dias.

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UM DEPUTADO NA LOJA COTINGUIBA

A Loja Maçônica Cotinguiba, a mais antiga em Sergipe, tem como diretriz básica a participação na vida social, buscando enfocar temas de interesse público. Isso é um procedimento usual nas atividades internas. Vez por outra, a Loja promove palestras ou debates em sessões abertas, e convida pessoas fora dos seus quadros para fazerem exposições sobre temas da atualidade.

Nesta quarta-feira, dia 14, o convidado será o deputado estadual José Macedo Sobral, -Zezinho Sobral- que é agrônomo, advogado, e, já tendo sido Secretário de Estado, convive diretamente, e estuda  os problemas sergipanos.

Tema: Perspectivas para o Desenvolvimento de Sergipe.

Local: Loja Maçônica Cotinguiba, Rua Santo Amaro, 171 (Centro). Horário: 17:30 h.

A sessão será aberta ao público, e o Venerável Carlos Augusto Bittencourt de Oliveira, está convidado todas as pessoas interessadas no tema.

BELIVALDO EM BUSCA DA CHINA

Belivaldo movimenta-se em direção à China. Já tem viagem marcada junto com empresários que investem em Sergipe, principalmente nas áreas de geração de energia, petróleo e gás. Nesta quarta-feira, 14, ele estará visitando o Consulado chinês para o nordeste, sediado no Recife.

No Consulado o governador manterá entendimentos com a Consul Yan Yuqing, e levará um repertório de informações preliminares sobre perspectivas para investimentos chineses em Sergipe. A China, maior consumidor mundial de gás  (foram 280,3 bilhões de metros cúbicos em 2018). A China tem a mais avançada tecnologia para a utilização do gás natural, e é o país hoje com maior volume de investimentos no exterior. Assim, o governador Belivaldo vai oferecer Sergipe, sabendo que os entendimentos com a China, exigem algo mais do que simples números. Há que se construir laços de afinidades e confiança.

EDVALDO, BOLSONARO E O PT

Edvaldo Nogueira fez uma rápida viagem, e logo reassumiu. Contando os dias úteis foram somente cinco. Um lazer rápido que ele se concedia a ter com a esposa. Mas, tomou o cuidado de mandar descontar na folha de pagamento os dias não trabalhados. Comportamento aliás raro, mas que deveria ser usual.

Não deixaram de chover críticas, pela viagem, e pelo agradecimento que fez em público a Bolsonaro, por ter contratado, sem problemas, um financiamento da Caixa para construir casas populares, Mais críticas, principalmente saídas de integrantes do PT, que não conseguem renovar os argumentos e ainda batem na tecla envelhecida do “golpe" de Temer contra Dilma, e desejariam que o prefeito  deixasse de lado os aracajuanos, e saísse a gritar tolamente: Lula Livre, Fora Bolsonaro.

O MUSEU NÃO FECHOU

O Museu da Gente Sergipana não vai deixar de funcionar. Interrompeu as atividades por algum tempo, até que seja feita uma revisão em todo o sistema elétrico. Houve um curto circuito, e prevenção nunca é demais. O Instituto BANESE que mantem o Museu, e o arquiteto e poeta Ézio Déda que o administra, seguem um rigoroso código de segurança.

O ROMANCE DE MARCELO RIBEIRO

Seguindo aliás uma tradição tanto de família como dos médicos, seus colegas sergipanos, Marcelo Ribeiro incursionou com sucesso pela poesia, e também pela arte de biografar e descrever fatos, preferencialmente registrados na música, nas artes plásticas.

Agora, ele solta-se pela ficção, e se faz romancista. Exatamente o campo onde o escritor cria, recria, inventa, reinventa, mexe e remexe com a realidade, faz a sua visão de mundo, das pessoas. O romance é o grande desafio de quem se faz escritor, e Marcelo Ribeiro resolveu enfrentá-lo. Pelo que já fez, manejando o texto, deverá surgir agora um novo romancista sergipano, integrando a galeria dos nossos maiores.

O Convite para a noite de autógrafos:

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O GENERAL GEISEL E O CÔCÔ NA REPÚBLICA

Entre os meses de julho de 1993 e maio de 1995, o ex-presidente Ernesto Geisel fez uma série de depoimentos aos pesquisadores do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, Maria Celina D’Araújo e Celso Castro. Geisel vivia seus últimos anos, era então o executivo principal de uma empresa privada, a petroquímica NORQUISA, e enfrentava um câncer  que o levou a internamentos sucessivos em hospitais. Quando o depoimento ficou completo, os pesquisadores foram fazer uma visita ao ex-presidente. Ele estava perfeitamente lúcido, informou que iria ler todo o texto, e logo  o assinou, ressalvando, porém, que a publicação dependeria da autorização prévia dele, ou do seu representante legal.

Geisel faleceu em 7 de agosto de 1996. Após a sua morte os pesquisadores entregaram o trabalho concluído à viúva Lucy Geisel, e ela delegou à filha Amália Lucy que era historiadora, a responsabilidade pelo destino da volumosa pesquisa. Amália Lucy  autorizou a publicação do livro, denominado Ernesto Geisel.

Desse livro publicado em 1997 e que teve 4 edições, retiramos trechos em que ele  falou ligeiramente num depoimento feito em 28 de julho de 1993, sobre um capitão reformado, chamado Jair Bolsonaro, que era deputado federal. Disse Geisel:

“Neste momento em que estamos aqui conversando, há muitos dizendo: “Temos que dar um golpe! Temos que voltar à ditadura militar!” E não é só o Bolsonaro não! Tem muita gente no meio civil que está pensando assim. Quantos vêm falar comigo, me amolar com esse negócio: Quando é que o Exercito vai dar o golpe? O senhor tem que agir, é preciso voltar. São as vivandeiras.

“É sempre a política entrando no Exército, isso é mais ou menos tradicional. Tenho a impressão de que à medida que o país se desenvolve, essa interferência vai diminuindo. Presentemente, o que  há de militares no Congresso? Temos o Bolsonaro, porque o Bolsonaro é um caso completamente fora do normal, inclusive um   mau militar."

O general presidente nem imaginaria que na cadeira presidencial que ele ocupou, com tanta austeridade e decoro, 33 anos depois, aquele capitão que considerava “fora do normal e um mau militar", estaria sentado. E levado pelo voto livre de 57 milhões de brasileiros.

E jamais imaginaria, com certeza, que o capitão viesse, no mais alto cargo da República,  a falar sobre cocô.

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