Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
A festança do povo e os carnavais de escândalos
17/02/2018
A festança do povo e os carnavais de escândalos

A FESTANÇA DO POVO E OS CARNAVAIS DE ESCÂNDALOS

                 A festa do povo acabou. Na folgança das ruas ao embalo dos ritmos acelerados o povão esqueceu agruras, sufocou tristezas, desabafou na liberdade dos gestos, na transgressão de limites do cotidiano ou na licenciosidade de ânsias reprimidas, tudo aquilo que o sufoca, oprime e também revolta. O carnaval é o divã que o brasileiro furtou de Sigmund Freud, dispensando o analista, e o multiplicou aos milhões para o uso coletivo, democrático e sem repressões que constranjam.

         Na quarta-feira de cinzas, após o alongamento da folia, no último arrastão, uma espécie de letargia se espalha. Seria um cansaço misturado com lassidão, indolência e apatia. O carnaval, a festa do povo, é como se fosse a válvula que alivia a carga de débitos sociais na panela de pressão do dia a dia do trabalhador, o cotidiano de violência, do transporte ruim, do hospital sem vaga, das contas de luz, do salário encolhido, do subir e descer dos morros onde ficam as favelas, entre elas a Rocinha, aquela que Bolsonaro quer metralhar lá de cima, com helicópteros, quando for presidente.

GALO DA MADRUGADA 2018

         O carnaval é o nosso antídoto contra a convulsão, a revolta social, o terror revolucionário. Quem criou o antídoto foi exatamente a maior vítima da panela de pressão prestes a explodir: o povo. A elite torceu o nariz, no começo até mandou reprimir. Depois aderiu, mas guardou a devida distância nos seus guetos de luxo, os clubes, os salões sofisticados onde faziam bailes à fantasia. Nas ruas o povo ainda levava pau da polícia, quando entendiam que a brincadeira passava dos limites. Mas a fuzarca cresceu, tomou as ruas, e a elite acabou por render-se àquela criação da “gentalha”. No Recife, por exemplo, a rançosa casta dos engenhos, que se isolava no Cabanga, no Internacional, tem hoje seus bisnetos frevando no gigantesco Galo da Madrugada. No Rio o baile do Copa esvaziou. Em chão tropical sambar de smoking chega a ser um acinte ou incômodo insuportável. O carnaval adequou a moda ao clima dos trópicos, simplesmente sintetizando a roupa, confinando-a quase ao espaço das genitálias, ainda o tamanho que resta dos nossos costumes, ou duvidosos pudores. Restava, por que em alguns episódios sumiu por completo. Nisso, os puritanos de olhos vesgos enxergam o sinal dos tempos e ouvem trombetas anunciando o fim. Já se foram mais de dois mil anos, desde quando os romanos, orgulhosos dominadores do mundo, faziam suas bacanais, saturnais, lupercais, esta, coincidentemente em fevereiro.

         Surgia o espaço dos dias licenciosos, que resistiu pelos séculos, atravessou a sombria Idade Média, onde crepitavam fogueiras assando hereges, enquanto os cardeais e seus acólitos faziam ímpias orgias de sexo coletivo em seus palácios.

         Aquelas cenas dos jovens e musculosos mancebos, seminus, ajoelhando-se solícitos sobre o asfalto quente de uma rua de Salvador em surubas homoeróticas, não pode ser vista como um ato libertário e de demolição de preconceitos, apenas, um desnecessário gesto de animalização do sexo, afrontando a normalidade das coisas e, assim, ampliando o furor do fanatismo homofóbico.

         Aqueles a quem o carnaval tanto incomoda, apegam-se a algumas cenas de violência ou escândalo para engrossar o argumento moralisteiro. A esses senhores de face carrancuda a descontraída alegria muito os incomoda.

         Talvez nem tenham consciência de que o carnaval os tem livrado do massacre das massas, que se tomariam de fúrias incontroláveis caso não houvesse a ilusão do carnaval e a esperança de que outros irão acontecer, enquanto, no tempo de espera, repetem-se, estes sim, os degenerados carnavais de escândalos, que assolam a República.

 

A PF PERMANECE ÍNTEGRA E O SEGÓVIA DESMORALIZADO

         Não se poderia esperar uma outra atitude que não fosse a cumplicidade de um chefe da Polícia Federal, que formou uma dupla de embuçados nas mafiosas noites palacianas, com o presidente que o nomeou e que, por ele, deveria ser investigado. Segóvia, homem de confiança de José Sarney, foi por ele recomendado a Temer. E, como se sabe, o presidente tem algo como se fosse um incurável dedo podre. Esse dedo podre, que sustenta uma dissoluta caneta, sempre fez afagos fraternais a tantos parceiros, que outras canetas, por escreverem linhas retilíneas, os levam à cadeia.

         No imenso teatro ao ar livre que Niemayer projetou e rapidamente construiu, atendendo a uma urgência do governador Brizola, nesse carnaval que passou, transitou um carro alegórico da escola de samba Tuiutí. Houve então aquela que foi a maior, a mais intensa e mais emblemática vaia da história do Sambódromo. Voltou-se toda a plateia com raiva de indignação cívica, apupando vigorosamente um presidente simbolizado na figura de um vampiro com a faixa verde amarela ao peito. Esse Vampiro do dedo podre não para de sugar a honra da República.

UM VAMPIRO NA PRESIDÊNCIA

         A Polícia Federal tornou-se um dos seus alvos prediletos, desde que a desqualificou tentando invalidar um laudo técnico expedido pelo corpo de peritos de alta qualificação, atestando a veracidade daqueles diálogos noturnos do vampiro com um outro embuçado da sua intimidade, o agora preso bilionário Joesley Batista.

         A Polícia Federal, a melhor avaliada instituição da República, começou a cambalear desde quando o vampiro e o embuçado iniciaram a conversar nessas suspeitas jornadas noite a dentro. Segóvia desacreditou o trabalho da própria PF ao dizer que uma “mala só não é prova de nada”, referindo-se, com desprezo, à diligencia feita por delegados federais para flagrarem o assessor de confiança de Temer, Rocha Loures, carregando aquela mala com 500 mil reais. Depois, ameaçou delegados e anunciou o arquivamento de um inquérito que devassa aquelas tão antigas, como tão bem conhecidas, transações que o Vampiro do dedo Podre sempre manteve com o setor portuário, um dos focos das tenebrosas transações.

         Os delegados federais reagiram com altivez. A honra da Polícia Federal escapou íntegra das investidas vampirescas e, ao ainda chefe da PF Fernando Segóvia, não lhe restará outra alternativa digna a não ser exonerar-se do cargo.

 

SEGÓVIA, SEM SAÍDA

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

         Há uma outra vampiresca trama em andamento. Trata-se da criação do Ministério da Segurança Pública. Esse ministério não seria apenas mais um diversionismo para simular a existência de um governo desacreditado ou para reduzir a arrasadora impopularidade que o persegue? Depois dos episódios no Sambódromo, ficou claro que a ojeriza a Temer é agora um fenômeno arraigado na população e que, para ele, não há marqueteiro que dê jeito.

         O Ministério da Segurança poderia ter um nome mais honesto: Seria o Ministério da Sobrevivência. Da sobrevivência do próprio Temer, com a dissolução das prerrogativas da PF na teia burocrático-hierárquica da nova pasta a ser comandada por alguém claramente integrado ao grupo dos “geddeis”. Para isso, o Ministério da Justiça já não mais tem valia, até porque o Torquato Jardim revelou-se tímido para servir a refeição mais desejada pelo Vampiro e sua galera de hematófagos:   

- Prato principal:  sangue da PGR.

- Sobremesa: hemácias da PF.

 

OS ALTARES DO “SEMIDEUS” OU DO LÍDER ANDRÉ MOURA

         Há um deputado federal, também sergipano, colega do líder de Temer no Congresso, André Moura, que tem boas relações com o influente parlamentar, mas, apesar disso, costuma dizer que André começou a agir como se fosse um semideus. Flutua agora como se estivesse muito além de onde alcançam chegar aqueles comuns, simples mortais.

         André despontou com força política saindo do ninho de Eduardo Cunha. Para alguns, o local poderia ser considerado um serpentário, dele saíram impensáveis decisões na Câmara, entre elas o impeachment da presidente Dilma, o que, aliás, não teria sido uma perda para o Brasil, não fosse a devastação moral maior ainda levada ao Planalto. Eduardo Cunha, como se sabe, tinha assegurada fontes copiosas de financiamento para as suas ambições políticas, entre elas a Caixa Econômica Federal, então, tendo como um dos seus diretores o amigo de Temer e operador solícito Geddel Viera Lima, agora também na cadeia.  Quando candidato à presidência da Câmara, calcula-se que Eduardo Cunha teria usado algo em torno de 90 milhões de reais para assegurar os votos dos deputados. André Moura percorreu o país ao lado de Cunha e movimentou uma parte da sua bolsa de donativos.  Eduardo Cunha, como escrevemos aqui, no tempo em que ele era o político mais poderoso do Brasil, tinha duas alternativas: ser candidato à presidência da República ou vestir um macacão de presidiário. Felizmente, para o Brasil, aconteceu a alternativa da cadeia.

ANDRÉ MOURA, EDUARDO CUNHA E O SERPENTÁRIO

Foto: Joel Rodrigues/ObritoNews

         Essas alternativas que se opõem, sempre se colocam no caminho de quem utiliza o poder em benefício pessoal, fazendo, desavergonhadamente a privatização ou captura do que é público.

         Eduardo Cunha alimentava um projeto pessoal desmesuradamente ambicioso. Queria se apropriar do país e, com esse objetivo, já tinha candidatos escolhidos para os governos de diversos estados.

         Foi em decorrência desse “projeto” que veio a Aracaju o deputado federal Lúcio Vieira Lima e, numa reunião com alguns empresários num hotel da Atalaia, lançou a candidatura de André Moura ao governo de Sergipe. Naquele instante, prefeitos, em busca ansiosa de recursos, e empresários, com olho em Brasília, começaram a erguer seus altares de adoração ao nascente semideus. Para todos, André abriu, e abre, portas em Brasília, faz o rastreamento do dinheiro nos ministérios e irriga prefeituras ou empresas.

         Mas, para chegar ao objetivo que lhe foi proposto pelo deputado Lúcio, irmão de Geddel Vieira Lima, o deputado André foi verificando nas pesquisas que seria preciso vencer a enorme rejeição do eleitorado sergipano, maior ainda, quando se sabe que ele seria, ou será também, o candidato do presidente Temer. Hábil, procurou então passar a ideia de que não tinha preferências políticas, quando entrava nos ministérios sem bater à porta, buscando recursos para Sergipe. Isso até colou, porque tanto Jackson, como Edvaldo Nogueira, foram ao gabinete de André, juntando-se à legião de gestores com a cuia na mão. Para Aracaju, efetivamente, foram destravados recursos, mas, para o estado, continua empacado o empréstimo na Caixa Econômica. André, como dono da Sesmaria a que tentam reduzir o estado de Sergipe, leva e traz ministros e todos, a ele, prestam vassalagem. O homem é líder de Temer no Congresso, janta e almoça com o presidente. Políticos, por aqui enrolados na Justiça, também recorrem a André e dele sempre ouvem que se poderá dar uma “mãozinha” junto a algum ministro nos tribunais superiores.

         Mas agora o quadro mudou um pouco. É verdade que o “semideus” ainda nem foi julgado, mas a dura manifestação da Procuradoria Geral da República que o acusa de peculato, formação de quadrilha e tentativa de assassinato e, por isso, pede a sua condenação, pesará muito na decisão que tomará o Supremo Tribunal.

         Por aqui, André já foi condenado em primeira instância algumas vezes e em segunda instância por crime eleitoral. Na última eleição seus votos foram contados separadamente, assim, mesmo considerado eleito, ficou sem tomar posse até que o ministro Gilmar Mendes lhe concedeu uma liminar. Ele escovou o terno da posse e o presumidamente eleito Mendonça Prado teve de recolher o seu ao armário.

         Apesar de ser ao deputado concedido todo o tamanho da presunção de inocência, o potencial de uma acusação como a elaborada pela PGR, não pode ser minimizada no julgamento final a ser feito pelo STF até o inicio de abril.

         Há quem compare o poder a uma gangorra e os que ergueram os altares ao “semideus”, são muito sensíveis a esse movimento de sobe e desce.


 

PETRÔNIO, AQUELA FACE AFÁVEL DO MAU HUMOR

         Petrônio Gomes era intransigente, quase intolerante em relação a princípios. E ele os tinha e os conservava com um rigor que ampliava na medida em que ia constatando a devastação de valores, sem os quais, entendia, a dignidade humana não existe. Bancário do Banco do Brasil, radialista, foi um cronista das coisas e das gentes, as vezes amargo, poucas sonhador, mas sempre no limite da realidade, sem se deixar seduzir pelo lirismo. Era aparentemente carrancudo, como se levasse com ele uma carga permanente de mau humor. Mas os amigos que o conheciam melhor, diziam que aquilo era a maneira que ele usava para blindar-se contra a tentação do riso fácil ou despropositado. Sabia rir, menos com o rosto, mais com a alma, e, no íntimo do aparentemente mal-humorado, havia uma alma em festa. Petrônio entendia que a virtude, deveria ser algo acessível ao gênero humano, embora para isso exigindo tempo, educação, civilidade, respeito ao próximo. Sentia-se gratificado por haver transmitido esse sentimento aos filhos. Sempre foi disciplinado e convictamente religioso.

         A Rádio Cultura, a emissora tradicional da Igreja Católica, fez uma bela homenagem ao radialista Petrônio, que foi um dos responsáveis pela sobrevivência da emissora, mandando celebrar, nas suas dependências, a Missa de Sétimo Dia.

PETRÔNIO GOMES

 

EVALDO CAMPOS QUER SER DEPUTADO FEDERAL

         Procurador federal aposentado, o jurista e professor Evaldo Campos ganhou destaque principalmente como criminalista. Dono de uma oratória eloquente e adornada sempre por recursos poéticos e alusões à literatura e à história, Evaldo faz a diferença por percorrer um trajeto além do que está restrito aos códigos.

         Evaldo é homem inquieto e igualmente despojado em relação a bens materiais. Distribuiu o modesto patrimônio que formou e, até mesmo, a sua aposentadoria com filhos e ex-esposas.

         Continua, em menor escala, suas atividades como  advogado, organiza cursos de oratória e ensina em faculdades particulares. Precisa permanecer trabalhando para manter uma nova família recentemente formada. Ficou sem os proventos da aposentadoria, sem imóveis, mas sem dores de consciência.

         Já foi vereador de Aracaju, pleiteou outros mandatos sem sucesso e nunca se dissociou da luta cívica, que também é parte da Política. Agora, diante da devastação moral que enxerga no país, ele entende que é chegado o momento de sair em busca dos votos daqueles que, indignados, querem uma renovação no cenário político, não exatamente de natureza etária, mas, sobretudo, moral.  Evaldo quer tentar uma cadeira na Câmara Federal, tem credenciais para tanto. Saiu limpo dos cargos que exerceu, nunca deixou de ser um cidadão preocupado com a cidadania e, como assessor jurídico, foi redator, quase solitário, da Constituição do Estado de Sergipe, promulgada em 1989 pelo político repleto de qualidades que foi Guido Azevedo, presidente da Assembleia Constituinte.

EVALDO CAMPOS

 

A MENSAGEM DE JB EM TOM DE QUASE DESPEDIDA

         Jackson preferiu não ir à Assembleia ler a mensagem dirigida ao Poder Legislativo, a última que faria, estando no último ano do seu mandato. Ele dá sinais de que estaria preparando uma bem tranquila transição de poder, algo fácil aliás porque Belivaldo, na condição de Vice e Secretário Chefe da Casa Civil, sempre recebeu atribuições que o fazem ativo em todas as áreas do governo. Jackson preferiu transmitir a atribuição ao vice Belivaldo e o tom da sua mensagem foi quase de uma implícita despedida. Referiu-se, nominalmente, em agradecimento a todos os que estiveram à frente do Judiciário, do Ministério Público e do Tribunal de Contas, no espaço desse segundo mandato. Ao presidente do Legislativo, Luciano Bispo, fez um agradecimento especial e o classificou como figura indispensável ao seu Governo e deu à Assembleia e aos deputados, inclusive os da oposição, o mérito de terem permitido a governabilidade. Belivaldo, quando os elogios se referiam a ele, fez questão de deixar bem claro: “Aqui, eu estou apenas lendo, a afirmação não é minha, não faria elogios a mim mesmo, mas tenho a obrigação de ler, aliás, confesso, com muita satisfação”.

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BELIVALDO CHAGAS

         Jackson demorou-se mais alinhando conquistas consolidadas na Saúde e na Educação, também as obras rodoviárias e ao que já foi feito no setor de saneamento básico. Na Segurança, admitiu a gravidade do problema, afirmou que está havendo redução na criminalidade, mas deixou claro que, sem uma presença coordenadora do poder central em parceria com estados e municípios, o crime organizado dificilmente será vencido. Para o futuro desenhou um horizonte de desenvolvimento baseado a partir do gás natural, ensejando um complexo de indústrias, do início da produção do petróleo e gás em águas profundas e da economia rural fortalecendo-se com a cadeia produtiva do leite e a expansão da cultura do milho.

 

CRIVELLA, O PREFEITO FUJÃO

         O prefeito do Rio de Janeiro, Bispo Marcelo Crivella, seria um perfeito idiota ou um canalha em estado puro. Perfeito idiota, se estivesse a imaginar que, transitando entre a Alemanha, Áustria e Suécia, enquanto o caos tomava conta da cidade que teoricamente lhe caberia administrar, realmente imaginaria cumprir suas atribuições de prefeito da segunda maior cidade brasileira; e, ainda mais que, postando mensagens enrolado em capotes, falando sobre o frio sueco, os cariocas iriam mesmo acreditar que ele estaria preocupado e assumindo suas responsabilidades. Nesse caso, admita-se que a idiotice teria passado despercebida aos eleitores que votaram em Crivella.

MARCELO CRIVELLA NA EUROPA

         Canalha em estado puro, seria, se estivesse propositalmente enganando, mentindo, lixando-se para o drama da sua cidade e desfrutando das delícias de um circuito europeu.

         Entre as duas hipóteses, seria preciso retirar-se uma média para classificar a atitude de Crivella, como a de um irresponsável egoísta, que colocou, acima dos que nele confiaram, os seus interesses pessoais. O Rio faz a maior festa a céu aberto do mundo, o maior espetáculo do mundo, o desfile das escolas de Samba. O carnaval atrai turistas, faz circular dinheiro, gera empregos, traz felicidade a grande parte da população da cidade. Crivella, sendo bispo do que quer que seja, professando a fé, a enganação ou o fanatismo que preferir, teria de ser, em primeiro lugar, o Prefeito, o organizador, o cuidador da cidade e do seu povo. Correu do Carnaval, talvez numa metáfora do diabo que foge da cruz, inventou pretextos, tão falsos como a sua própria personalidade e lá se foi para a Europa. Caiu o diluviano temporal e Crivella, que não cuidou da manutenção das galerias pluviais,  fez agravar as consequências da chuvarada, mas, ao invés de tomar um avião e retornar rapidamente, ficou lá de longe, a mais de onze mil quilômetros dizendo que acompanhava tudo, mas, fez isso num tom de tanta despreocupação e ausência, que até parecia um marciano falando sobre coisas acontecidas em Júpiter.

         Já o governador do Rio, o comprovadamente inepto Pezão, escapou para o sol de Barra do Piraí e, no carnaval, o Rio tornou-se um cenário de guerra, da guerra dos bandidos em ofensiva livre sobre a cidade e o estado abandonados e indefesos.

         Infeliz Cidade Maravilhosa cheia de encantos mil, quanta falta de sorte, ser terra de Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Roberto Jeferson, de bicheiros, traficantes, bandidos de toda espécie, e agora tendo um prefeito chamado Bispo Crivella.


 

 CLARÊNCIO FAZIA PANEGÍRICOS A TANTOS E MORREU ABANDONADO

         Clarêncio Fontes era filho de poeta, o modernista acanhado José Maria Fontes. O pai, foi um homem descuidado com ele mesmo. Excêntrico e ensimesmado, passou anos e anos encafuado na sua casa humilde, quase nas areias do Carro Quebrado, onde acabava a Rua de Lagarto. Com mulher e filhos, abandonava-se à solidão, partilhada com as centenas de rãs que tinha soltas pela casa e também delas se alimentava. Clarêncio criou-se ali, vendo o pai acumulando livros, muitas vezes lendo-os à luz do poste, quando a energia era cortada. Mas Zé Maria tinha a segurança, pelo menos de um modesto emprego público. Clarêncio, seu filho, foi também poeta, herdou os livros do pai, (existiria melhor herança?) a eles acrescentou tantos outros e colecionava papéis, revistas, jornais, futucava arquivos, hemerotecas, bibliotecas. E escrevia bem. Embora preferisse o estilo barroco. Esse acervo, que era também estorvo, o acompanhou na sua decadência.  

         Clarêncio nunca teve emprego certo. Foi algumas vezes redator  em jornais e emissoras de rádio, mas o álcool o tornava inconstante e logo perdia os meios de sustento. Levou uma vida de sacrifícios e carências. Foi encontrado morto, já tardiamente, enquanto sua esposa doente ao lado nada podia fazer. Ao seu enterro compareceram 4 pessoas, entre elas o escritor Saracura. Morreu silenciosa e humildemente, como silenciosa e humilde foi a sua vida. Fez panegíricos a tantos e todos o deixaram abandonado.

         Registre-se aqui, ressalvadas possíveis omissões, que teve amigos como Kleiber Vieira, o procurador Givaldo Rosa, tantos outros na Academia de Letras, que por vezes o socorriam. Mas, a Clarêncio teria faltado alguma coisa, assim como, sei lá, quem sabe sobre a alma humana, sobre essa coisa chamada destino.......

CLARÊNCIO MARTINS FONTES

 

A INTERVENÇÃO NO RIO É MAIS UM ENGÔDO, APENAS

         Já esqueceram que há pouco mais de um ano, Temer chegou ao Rio  para anunciar a grande operação contra a bandidagem, da qual participariam as Forças Armadas? Esqueceram que, em menos de dois dias, ele mesmo, Temer, anunciava em tom de triunfo, que os roubos de carga no estado  haviam diminuído. Puro engano, de lá até agora os roubos de cargas aumentaram mais de 30%.  Fracassaram as Forças Armadas? Absolutamente não! Apenas, seus chefes, discretos e obedientes à hierarquia, não revelaram publicamente os problemas que enfrentaram, falta de recursos,  sucateamento  dos seus meios. Os tanques, os aviões, os navios, o aparato de guerra brasileiro move-se, apenas, em consequência da extrema dedicação, do espírito de organização e da hierarquia mantida ainda com rigor.

EXÉRCITO NO RIO

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

         O Brasil tem mais de 17 mil quilômetros de fronteira seca, pelo oeste, norte e sul. É uma linha enorme que serpenteia entre pampas, pântanos, cerrados, selvas, montanhas, rios, campos, indo do Rio Grande ao Amapá. O que temos para guarnecê-la? Muito pouco. Á frente das nossas praias, a chamada “amazonia azul”, o Atlântico imenso. São mais de 8 mil quilômetros. O que a Marinha de Guerra, a Aeronáutica tem para guarnecer espaço tão largo? O exército teve interrompido seu programa de modernização.  O tráfico movimenta bilhões de dólares a cada ano. Dinheiro suficiente para corromper policiais, magistrados, políticos e a polícia perde tempo correndo atrás de quem leva gramas de maconha,  uma juíza encarcera uma mulher grávida levando alguns quilos de erva e ela é obrigada a parir na cadeia, enquanto a esposa vigarista do megavigarista Sérgio Cabral, ganha da Justiça prisão domiciliar, porque tem 3 filhos menores para criar.

         Há erros e erros que são históricos, que são tolerantemente mantidos, porque temos um Legislativo péssimo, um Judiciário, para dizer o menos, um tanto contraditório e um Executivo onde se encastelou uma organização criminosa.

         Nesse clima, Temer vaiado tempestuosamente através do boneco que o representava na Sapucaí, tendo fracassado na sua injusta, incorreta e mal elaborada reforma previdenciária, quer agora, outra vez, sair à frente de tropas e aparecer como comandante em chefe.

         A intervenção no Rio é necessária, porque ali já sumiu a autoridade, mas ali também estava a presença federal e tudo fracassou. Sem planejamento, sem comedimento, sem a ânsia de aparecer bem na mídia, talvez fosse possível a tentativa de por um freio na ousadia dos bandidos. O general Braga Neto, o interventor, é oficial competente, operacional, como demonstra a sua folha de serviços, mas irá comandar uma polícia militar eivada de vícios, contaminada pela corrupção, uma polícia civil onde cada delegado tem o seu feudo particular, tudo isso resultado de anos e mais anos de indiferença e omissão. Voltam as forças armadas às ruas, mas os seus integrantes não têm poder de polícia. Foram treinados segundo a doutrina militar, para aniquilar adversários. Irão atirar, como se faz necessário, em bandidos que estejam exibindo fuzis?

         Nesse governo tão desacreditado não existe força moral para que se tomem decisões efetivas e corajosas.

         E, se dentro das Penitenciárias, os comandos de facções transmitirem as ordens: “Toquem fogo em todos os ônibus em Natal, em Fortaleza, em Porto Alegre, em Goiânia?”. Vai haver Força Nacional em número suficiente para ir até os pontos quentes?

         Se Temer não estivesse tão ávido por vencer as cifras de rejeição, entregaria o problema para ser analisado do ponto de vista técnico e operacional. Depois que várias ações de inteligência fossem realizadas, sem alardes, sem solenidades, sobretudo, sem que ele esteja aparecendo para anunciar as medidas, se adotariam as providências que fossem necessárias.

         A primeira medida seria isolar completamente, nas penitenciarias, os chefes das facções, impedindo visitas íntimas e, até, a presença de advogados. Seriam violados “direitos”, certamente, mas não se chegará a bom termo sob formalidades, sem esquecer que, nos presídios, os chefes contam com a cumplicidade de uma parte dos seus carcereiros.

         A coisa é bem mais complicada do que pode supor ou admitir, um presidente, que, aliás, está a correr, ele mesmo, da Polícia Federal.


 

ENVIADOS PARA O BLOG

TEXTO DE ANTÔNIO SAMARONE:

Corpo fechado

         Como não acho graça em carnaval, aproveitei a tarde para ir numa pajelança, aqui na invasão da Gameleira. O catimbozeiro é um velho pernambucano aposentado, que chegou por aqui. Conversa vai, conversa vem, ele me perguntou se eu não queria fechar o corpo. Indaguei: - quanto custa? Ele, perecendo ofendido, disse-me de pronto: nada! Pensei, é comigo, mande brasa. O pajé acendeu umas velas, falou umas coisas que não entendi, e depois de uns cinco minutos, me deu meio copo de cauim. Só dei um gole.

         Ao final da cerimônia, solenemente ele sentenciou: - “seu corpo está fechado para morte súbita, águas vivas e mortas, mordida de cobra, faca fria e bala quente, coice de animal e injúria.” Chega de viver assombrado com a violência.

 

TEXTO PUBLICADO POR DOMINGOS VIANA

         Texto de Pierre Teilhard de Chardin (Nascido em Orcines, 1 de maio de 1881-Falecido em Nova Iorque, 10 de abril de1955), que foi um padre jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês que tentou construir uma visão integradora entre ciência e teologia:

A religião não é apenas uma, são centenas.

A espiritualidade é apenas uma.

A religião é para os que dormem.

A espiritualidade é para os que estão despertos.

A religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados.

A espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior.

A religião tem um conjunto de regras dogmáticas.

A espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo.

A religião ameaça e amedronta.

A espiritualidade lhe dá Paz Interior.

A religião fala de pecado e de culpa.

A espiritualidade lhe diz: "aprenda com o erro"..

A religião reprime tudo, te faz falso.

A espiritualidade transcende tudo, te faz verdadeiro!

A religião não é Deus.

A espiritualidade é Tudo e, portanto é Deus.

A religião inventa.

A espiritualidade descobre.

A religião não indaga nem questiona.

A espiritualidade questiona tudo.

A religião é humana, é uma organização com regras.

A espiritualidade é Divina, sem regras.

A religião é causa de divisões.

A espiritualidade é causa de União.

A religião lhe busca para que acredite.

A espiritualidade você tem que buscá-la.

A religião segue os preceitos de um livro sagrado.

A espiritualidade busca o sagrado em todos os livros.

A religião se alimenta do medo.

A espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé.

A religião faz viver no pensamento.

A espiritualidade faz Viver na Consciência..

A religião se ocupa com fazer.

A espiritualidade se ocupa com Ser.

A religião alimenta o ego.

A espiritualidade nos faz Transcender.

A religião nos faz renunciar ao mundo.

A espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele.

A religião é adoração.

A espiritualidade é Meditação.

A religião sonha com a glória e com o paraíso.

A espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora.

A religião vive no passado e no futuro.

A espiritualidade vive no presente.

A religião enclausura nossa memória.

A espiritualidade liberta nossa Consciência.

A religião crê na vida eterna.

A espiritualidade nos faz consciente da vida eterna.

A religião promete para depois da morte.

A espiritualidade é encontrar Deus em Nosso Interior durante a vida.

 

"Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual...

Somos seres espirituais passando por uma experiência humana..."

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