Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
A “HIBERNAÇÃO”, O CINISMO E A PETROBRÁS
29/11/2019
A “HIBERNAÇÃO”, O CINISMO E A PETROBRÁS

(A FAFEN finalmente começando a deshibernar)
Anunciando o fim da “ hibernação” das FAFENS,  sergipana, e  baiana, a PETROBRAS publicou nos jornais  uma  matéria exaltando a grande conquista.
Ocupando página inteira havia o texto: 
“ TEMOS UMA ÓTIMA NOTÍCIA PARA VOCÊ.”
A Petrobrás fechou acordo para que uma nova empresa assuma a operação das suas fábricas de Fertilizantes da Bahia (Fafen–BA),  e de Sergipe Fafen (SE). Com isso as unidades vão voltar a produzir, gerar empregos e riquezas para a sociedade.
O retorno à operação das fábricas, localizadas em Camaçari, na Bahia, e no município de Laranjeiras, em Sergipe, vai também atrair novos investimentos para os estados e para todo o nordeste.  


Ou seja, mais empregos, mais renda e mais desenvolvimento para a região.
O QUE NÓS CONSTRUÍMOS JUNTOS VAI CONTINUAR TRANSFORMANDO O NORDESTE.”
Talvez, para compensar a fragilidade da informação e a péssima qualidade do texto, a direção da Petrobras tenha ocupado um desnecessário espaço na mídia.
Mas a euforia em   nada  se justifica.  Antes de festejar “novos empregos , mais renda e mais desenvolvimento para a região", a petroleira estatal deveria prestar contas a respeito da decisão de fechar as duas indústrias, estratégicas para o país , desativando completamente a produção de insumos, essenciais para uma vistosa cadeia produtiva, onde  se incluía o polo de fertilizantes, pesadamente afetado pela esdrúxula decisão. A “hibernação", esse eufemismo descabido, fez parte do açodamento de desmonte da empresa, iniciado no governo Temer, quando o farsante Pedro Parente, simulando recuperar a petroleira, montou um esquema mafioso de extorsão do povo  brasileiro, através do artificio malandro da vinculação do preço dos combustíveis à variação do dólar. Com a gasolina e o diesel subindo até duas vezes por semana,  gerou-se uma injeção de recursos que fortaleceu os cofres da Petrobrás, ao tempo em que eram reduzidos custos, com uma visão de curtíssimo prazo, ou seja, um saque praticado contra a Nação e a própria empresa, para exibir lucros extraordinários, que fizeram a festa de acionistas, na sua maior parte fundos estrangeiros de investimentos. O festim impudico só acabou quando houve a explosão social dos caminhoneiros em pé de guerra.
O país empobreceu, perdeu empregos, mas Pedro Parente e seu grupo de saqueadores saíram felicíssimos da empreitada.
Segundo os argumentos apresentados pela Petrobrás, as fábricas de fertilizantes eram deficitárias, não interessavam mais à empresa que deveria ser enxugada, e concentrar-se, apenas, na prospecção e produção de petróleo e gás.
Até aí tudo bem. Mas, por que cerrar as portas das empresas, transferir servidores ou demití-los? Teriam feito mesmo uma estimativa correta sobre o tempo que levaria até que aparecessem grupos interessados no arrendamento?
Quando iniciou a “hibernação" a Petrobras noticiou que haveria compensações para as prefeituras afetadas pela perda de receitas em consequência da paralização de diversas atividades, e do desemprego.  Dessa forma, a própria empresa admitia que o fechamento da Fafen seria uma providencia socialmente perversa.
Analisemos apenas o caso da Fafen sergipana.


Em torno da fábrica gravitava um polo de fertilizantes com mais de uma dezena de empresas. Uma frota com centenas de caminhões fazia, constantemente, o transporte da amônia e ureia para outros estados, além do trajeto mais curto até as misturadoras. A Fafen produzia também a ureia pecuária, sendo a única no país, além de outros insumos de menor porte que alimentavam cadeias produtivas paralelas.
De repente as portas da Fafen fecham.  Os prejuízos causados foram incalculáveis. Um volume enorme de perdas acumuladas, em consequência do desemprego, da paralização da frota de caminhões, do colapso no polo de fertilizantes; os custos acrescidos com a importação dos produtos, a redução na receita dos municípios, também nos impostos estaduais, a falência de restaurantes, hotéis, bares, a queda nas vendas do comércio em geral.
Em resumo: a hibernação foi um desastre econômico e social, cuja dimensão em termos monetários ainda não foi precisamente calculada.
Para agir com honestidade, transparência, sobretudo com responsabilidade social, a Petrobras teria de demonstrar através de números exatos, qual a vantagem da hibernação para a própria empresa, e se ela existiu, como compensar as outras perdas, jogadas nas costas sofridas do povo sergipano.
Isso não houve e nunca acontecerá. 
Por isso, o festivo anúncio  da negociação que teria sido bem sucedida, com um grupo empresarial brasileiro, aliás com excelentes referencias, foi mais uma demonstração da farsa e da insensibilidade como o problema vem sendo conduzido no âmbito da Petrobrás, uma empresa que de repente perdeu os vínculos que efetivamente existiam com o interesse público,  quando os ladrões de antes a invadiram, e agora, o descompromisso com o país, com o povo brasileiro, que os novos gestores  demonstram.
O arrendamento não é ainda um negócio plenamente assegurado. O grupo arrendatário somente baterá o martelo quando os pontos nebulosos, que ainda existem, forem inteiramente clarificados. E o principal deles é preço do gás fornecido pela Petrobrás, que é o mais elevado do mundo.
Ou seja, a mesma Petrobrás com o seu gás “folheado a ouro” que inviabilizou as Fafens, agora, poderá também inviabilizar o arrendamento, se mantiver a mesma escorchante politica de preços que consegue estabelecer, por força do inconcebível monopólio.
Há, todavia, nisso tudo, a participação eficiente e construtiva do ministro das Minas e Energia Bento Albuquerque.  Com a interveniência direta dele será possível efetivar o arrendamento.
Sergipe, felizmente, tem a chave para o encontro de soluções.
Na reunião que houve em Salvador com a Petrobras, o governador Rui Costa, e o grupo arrendatário, o governador Belivaldo Chagas, apresentou a sugestão de um entendimento a ser formalizado com a GOLAN, a multinacional que fornecerá o gás para a termoelétrica CELSE, que começa a funcionar em janeiro na Barra dos Coqueiros. A GOLAN já tem, há meses, fundeada no litoral sergipano, a usina de regaseificação, um navio enorme, de 304 metros, que converterá o gás liquefeito vindo do Qatar. Todos os estudos prévios já foram elaborados na área da Secretaria do Desenvolvimento, comandada pelo engenheiro e professor Jose Augusto Pereira. Executivos da GOLAN teriam manifestado interesse no fornecimento, e é possível que o gás trazido do Oriente Médio aqui chegue a preços competitivos, tudo o que é preciso para que o arrendamento, de fato, seja formalizado.
De qualquer forma o anuncio do fim da hibernação representa um avanço, um passo à frente dado pelo governo federal, depois da longa peregrinação feita pelo governador Belivaldo, por sua equipe, onde se assinala a presença do assessor para assuntos de gás e petróleo Oliveira Junior, e a abertura de caminhos para uma sintonia com Brasília,  trabalho onde  mais se destacou o Deputado Federal Laércio Oliveira, junto com outros parlamentares, líderes empresariais, a Assembleia Legislativa, sempre proativa sob a presidência do deputado Luciano Bispo.
Segundo o ex-governador Albano Franco, que participou de todas as tratativas, a estratégia adotada foi inteligente, e deu resultados.


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Nesses tempos em que se avoluma uma onda de insatisfação com a prestação dos serviços públicos, coisa que acontece agora intensamente no Brasil, mas, igualmente, em países desenvolvidos, como a França, a Itália, o Reino Unido, cresce, paralelamente, a ideia de que a solução estaria na fórmula ultraliberal, a quase extinção do Estado, tal como o conhecemos. Mas, a própria receita ultraliberal vem dando mostras de esgotamento,  desde quando o Tatcherismo e o Reaganismo, aplicados na Inglaterra e nos Estados Unidos, não alcançaram os objetivos desejados, e  contribuíram para que se ampliasse o fosso enorme entre os muito ricos e os pobres, que se multiplicaram muito, desde a década dos anos oitenta, quando Margareth Teatcher e Ronald Reagan tentaram  legar  um exemplo de como o Estado pode encolher, ou sumir, e a sociedade como um todo auferir os benefícios. No Chile, laboratório no Terceiro Mundo das experiencias da Escola de Chicago, a coisa desanda por completo, com a fome avançando sobre a classe média, e os protestos nas ruas.
Trump, surge como um tardio reaplicador da fórmula ultraliberal, e os pobres americanos , agora,  ultrapassam a casa dos cinquenta milhões, e a Saúde se torna um beneficio inacessível, desde que eliminaram as conquistas do sistema conhecido como o Obamacare, algo semelhante ao SUS brasileiro, que, com todas as suas precariedades, ninguém imaginaria extinguir.
Nem tanto ao mar nem tanto à terra, sempre a solução existe onde não há exageros, tais como o ultraliberalismo, ou seja , uma liberdade econômica absoluta, com benefícios voltados para os muito ricos; ou o estatismo completo ,que resulta sempre de visões totalitárias, e cria uma casta de parasitas poderosos, transitando pelas engrenagens burocráticas que se tornam monstruosas.
A máquina publica não pode deixar de existir, e, havendo dedicação e competência, nela podem ser enxergados espaços razoáveis de eficiência.
O funcionalismo publico sergipano, que faz agora a tarefa nada agradável de submeter-se ao recenseamento, atendido no Sergipe Previdência, tem conforto, rapidez, e um corpo de servidores atenciosos e bem treinados. Dir-se-ia com esse nosso velho complexo de derrotados: “parece coisa de Primeiro Mundo “.
Nada disso, apenas, o presidente do SERGIPREV, José Roberto, contribuindo, demonstrando competência, para que a denominação Serviço Público, deixe de ser sinônimo de desmazelo

 

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