Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
AS ENCHENTES NO RIO GRANDE DO SUL E O EXEMPLO DE MARCELO DÉDA
11/05/2024
AS ENCHENTES NO RIO GRANDE DO SUL E O EXEMPLO DE MARCELO DÉDA

NESTE BLOG:

1)AS ENCHENTES NO RIO GRANDE DO SUL E O EXEMPLO DE MARCELO DÉDA

2) A EXTREMA DIREITA E O LIVRO VERDE DO AIATOLÁ KHOMEINI

3) ENTRE O FÍGADO EXPLICADO E  O VOTO HOMENAGEADO

4) GILTON A BIOGRAFIA E O AMIGO GALLOTI

5) ENTRE A VISÃO EMPRESARIAL E  UMA TRAGÉDIA SERGIPANA

 

 

AS ENCHENTES NO RIO GRANDE DO SUL E O EXEMPLO DE MARCELO DÉDA

 

A tragedia no Rio Grande do Sul.   Marcelo Deda e as enchentes em Sergipe.

 

 

A tragedia   que devasta o Rio Grande do Sul e comove o Brasil, é o clímax de uma sequencia de eventos climáticos que demonstram a vulnerabilidade   de  Porto Alegre, às margens do Guaíba, e das cidades às margens dos rios dos Sinos,  Taquari e outros.

Esta catástrofe que acontece agora, revela que todo o território do Rio Grande do Sul é, igualmente vulnerável, inclusive nos planaltos, nas montanhas, onde houve o desabar de encostas, em um número invulgar.

A calamidade superou a imaginação mais ousada do extremo pessimismo,  ou da ficção  mais absurda.  Quase todo o território do extenso rincão gaúcho , dos pampas às praias, dos alagados às serras,  foi coberto pelas águas. O Rio Grande tem quase 12 milhões de habitantes, e a Grande Porto Alegre, abriga um terço deles. Os gaúchos contribuem para formar 7% do PIB brasileiro.

A catástrofe não é apenas gaúcha , é uma tragédia nacional. E os brasileiros têm compreendido a dimensão do desastre e das consquências que se abaterão sobre todos nós , gaúchos, ou baianos, amazonenses, ou paulistas, goianos ou capixabas......

Diferente do que aconteceu há  três anos, quando um presidente  que não conhecia o exato significado da palavra compostura, fez comentários jocosos sobre as enchentes no sul baiano; agora, Brasília ajustou os ponteiros, os poderes se irmanaram, entraram em cena todas as forças de segurança, entrou em cena, sobretudo, a solidariedade imensa, a revelar que a pandemia nefasta da odiosidade política não contaminou  a lucidez,  a alma de toda uma Nação.

Talvez, o drama no Rio Grande do Sul  tenha servido para unir mais o país, ampliar a sensação de brasilidade,   sentimentos essenciais para a consolidação de uma comunidade, e a sua comunhão com uma terra   que, de tão extensa, as vezes faz o sul desconhecer o nordeste,  o sudeste  ignorar a Amazônia.

Não é fácil criar laços de união e identidade ao longo de oito milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados.  A Rússia, os Estados Unidos,  China, Canadá e Brasil, são os únicos  países que se mantiveram íntegros, com mais de oito milhões de quilômetros para deles cuidar. Mas, só o Brasil viveu até agora, sem choques  étnicos, atritos graves sobre costumes, religiões, ou históricas desavenças, que possam gerar tendencias fortes ao separatismo.

Entre os gaúchos, paranaenses, catarinenses, a gente do sul branqueada pela imigração europeia, frutificam aqui e ali alguns focos inexpressivos que alimentam o separatismo, ou, muito pior, surgem células  de superioridade racial, e até o câncer não apenas grotesco, mas terrificante, do ideário nazista,  menosprezando o resto do Brasil mulato, e  imaginando um estado branco e independente.

Entre os gaúchos, há um  número de excêntricos, não desprezíveis, que discutem se o ente federado não seria mais prospero e feliz caso transformado numa República Farroupilha , ou República Austral,  ou, até, antes da Segunda Guerra, grupos arrogantes  imaginavam viver numa República Germânica ou Teutônica do Sul. Inspiravam-se na ideia do direito da “ raça ariana “ ao espaço vital, (lebensraum) saída da cabeça imunda de Adolf Hitler.

Suponhamos se viesse a existir um Rio Grande do Sul como república independente, o que seria dele diante de uma tragédia dessa dimensão ?

A mesma pergunta pode ser aplicada a qualquer outro estado ou região, o que faz tornar sem graça aquela música falando num nordeste independente.  Embora divertida, e aparentemente inofensiva, melhor seria deixar de ser executada, para não estimular maléficos sentimentos subjacentes.

Vale uma outra pergunta para aqueles neo-anarco liberais,  que vivem a pregar o Estado Mínimo.

Por que, diante de crises econômicas ou desastres naturais sempre passam a exigir políticas públicas a serem postas em prática pelo governo central ?

Por tudo isso,  uma tragédia como esta vivida pelo resistente e sempre esperançoso povo gaúcho, servirá, certamente, para que, unindo-se o Brasil   seja possível superá-la, e, ao mesmo tempo, fortalecer-se a busca de mais entendimento, de mais união, entre todos os que fazem parte desta República Federativa.

  Onde se combinam, por fatalidade geográfica no Rio Grande do Sul,  fatores meteorológicos tão adversos,  tornando mais destruidoras as intempéries, é imperioso  que haja prioridade para as ações preventivas, e a convivência mais harmoniosa com as forças da natureza.

 

No caso das favelas, ou até condomínios de alto luxo localizados em áreas impróprias , um, por absoluta necessidade,  decorrente da extrema pobreza, outro, pelo hedonismo superando o bom senso, o Poder Público se torna complacente ou incapaz.

Diante disso, lembramos aqui de um momento vivido pelo governador Marcelo Déda, quando houve  uma enchente  mais fortemente sentida no  município de Maruim, onde o acanhado e exaurido rio Ganhamoroba , desembestou-se, indo muito além do seu leito. Então, o governador deslocou-se para ver de perto os estragos e adotar providencias   imediatas,  outras, de médio e longo prazos, visando evitar calamidades semelhantes no futuro.

 O governador foi  ao Lachez de Baixo, onde  diversas casas paupérrimas foram arrastadas pela enchente, ou ficaram gravemente danificadas.

A manhã já andava alta. Findas as chuvas, havia um forte sol de verão ajudando a enxugar a terra encharcada. No Lachez, algumas  famílias retiravam colchões e roupas molhadas e  colocavam  tudo ao sol, sobre uma calçada de pedras calcarias muito brancas, depois de lavadas pela enxurrada.

 Deda foi cumprimentar o grupo,   depois,  saiu a visitar  cada casa  atingida.  Numa delas,  uma mulher   sentada na soleira da porta foi agressiva: “O senhor vem fazer o que aqui, vem prometer e depois não fazer nada ?

Não entre não, vá embora.”

 

Déda foi respondendo paciente e manso, afinal, estava diante de uma cena forte de sofrimento humano. E tudo que era humano lhe merecia respeito. Explicou o que pretendia fazer, e ao seu redor formou-se um grupo, e do

meio dele uma das mulheres perguntou: “Déda quando você vai começar a consertar essas casas,  e a gente voltar a ter onde morar ?”

Déda respondeu falando alto:” Aqui, com o prefeito, já combinamos um local digno onde vocês todos irão ficar abrigados. Vamos pedir recursos ao presidente Lula.  Bolsa família para quem não tiver,  garantir a alimentação de todos, e assegurar uma vida digna para  vocês. Mas, esses restos de casas vou mandar demolir tudo.

  Já consegui com o Prefeito um local ,  é ali adiante onde fica mais alto,  todos irão morar em casas novas e seguras “.

Foi uma revolta geral, enquanto Déda explicava que não seria irresponsável para reconstruir casas num local onde outra enchente destruiria tudo outra vez.

Os protestos continuaram, mas Marcelo Deda permaneceu inflexível.  Despediu-se, garantindo que ninguém ficaria desabrigado.

Todos que perderam as casas e não tinham opção para morar em outro local , ficaram abrigados no prédio de uma Escola que estava desativada. Providenciou-se cama, moveis, televisão, e não faltou comida.

Mas o conjunto no local seguro demorou para ser inaugurado.

Quando ficou pronto, coube a Jackson Barreto fazer a entrega. Déda já estava hospitalizado.

Mas, se houver uma nova enchente,  e a Prefeitura neste período tiver mantido a proibição de outras casas no local, os que agora vivem no novo conjunto, estarão seguros.

Certamente, lembrarão agradecidos do gesto na ocasião incompreendido de Marcelo Déda.

 

 A EXTREMA DIREITA E O LIVRO VERDE DO AIATOLÁ KHOMEINI

A sombra do Khomeini sobre o cenario politico brasileiro. 

 

No fim dos anos setenta havia em Paris um exilado muito vigiado. Era o aiatolá iraniano Rudollah Khomeini. Ele reunia-se todo tempo com outros exilados, e mantinha contatos com setores da sociedade iraniana descontentes com o Xá Reza Palhavi, o poderoso autocrata, com visão modernizadora, mas, cercado por todos os luxos e licenciosidades da corte. Dizia-se,  herdeiro do Trono do Pavão, que chegava aos dois mil anos, e , descendente de Ciro, o Grande,   criador do império persa. 

Em outubro  de 1979 o aiatolá Khomeini chegou a Bagdad , e dias depois instalou-se no comando da República Islâmica do Irã. O Xá fugira para o exilio com a sua família, depois que as multidões tomaram as  ruas

  e os militares  recusaram-se a combate-las.

Começaram os fuzilamentos  daqueles vistos como inimigos do regime teocrático.

As prisões se encheram , enquanto a teocracia ditava as normas a serem obedecidas pela população. Exigências absurdas, principalmente aplicadas às mulheres. O ramo xiita do islamismo, tornou-se a única  prática religiosa permitida.

O Estado Teocrático,   em  qualquer época, e em qualquer país onde exista,  configura  um retorno ao obscurantismo, à noite medieval da intolerância.

 Quando no Brasil surgiu a República, houve a separação entre a Igreja e o Estado. O Brasil tinha uma religião oficial, o catolicismo.

Igreja e Estado em muitos aspectos se misturavam.

Os bispos, arcebispos e cardeais tinham prerrogativas quase idênticas às de chefes de Estado, mas, sobreviviam outras religiões.   Havia os Evangélicos, tínhamos comunidades   árabes – islamismo-  de judeus – judaísmo-  e centenas de milhares ligados às religiões afro-brasileiras, estes, sempre maltratados. Embora o Império não tenha sido caracterizado como perseguidor de religiões, a discriminação sempre existiu. O ensino em instituições católicas estendia-se por todo o Brasil e em quase todos os níveis. No Rio Grande do Sul onde o ramo Luterano era influente, ( os imigrantes alemães ) criou-se a primeira escola em Canoas, alguns anos depois de fundada a República. Também no Rio Grande do Sul   nos anos sessenta foi criada a Universidade Luterana. O presidente general Geisel, foi o único que não se declarou católico nos últimos cinquenta anos. Ele era Luterano. Getúlio era agnóstico, mas,  batizado na igreja católica.

 O Estado Laico é uma conquista dos tempos modernos e dos Estados democráticos, estabelecendo a liberdade de culto, o integral respeito a todas as crenças, mas, sem manifestar adesão ou preferência por  nenhuma delas.

Em instalações públicas não pode haver símbolos religiosos, sejam quais forem eles, mas o Estado deve assegurar  que todos os templos funcionem livremente.

Nessa sexta-feira, dia 10 de abril, estava programada a visita a Aracaju da Madame Bolsonaro. Nada foi informado, mas a visita teria sido pela segunda vez cancelada.

Assim, não houve o evento político-eleitoral do qual ela participaria como estrela e “ profeta”.

A senhora Michele tem fala mansa,  ao contrário do esposo, não agride, nem grita impropérios.

É educada, embora sua fala da mesma forma que a do marido, careça do recheio indispensável   de alguma cultura geral. Os dois, demonstram que não apreciam os livros, nem a leitura.

A senhora Michele declara-se evangélica, e tem permanentemente a companhia de pastores nos seus palanques.

A sua proclamada religiosidade, não lhe disfarça a intolerância e o preconceito.

A senhora Bolsonaro, que tem aspirações até de chegar à Presidência da República, afronta a Constituição, talvez por ignorância, e nas suas falas, tem defendido o fim do Estado Laico, e o nosso retorno, ao atraso dos Estados Teocráticos.

 Quem seria nele o nosso aiatolá ?

 

 

 

 

 

 ENTRE O FÍGADO EXPLICADO E  O VOTO HOMENAGEADO

A politica não se faz com o fígado.

 

E o fígado não é adjetivo ofensivo.

 

O advogado e professor Jose Rollemberg Leite, apesar dos seus afazeres numa das bancas advocatícias mais referenciadas do Brasil a  Eduardo Ferrão, encontra tempo para debruçar-se  sobre livros e arquivos e estudar a realidade brasileira. E traduz  o que pensa  com muito engenho e arte nos seus escritos.

 

 Ele  lançou agora o livro Urnas & Leis( crônica eleitoral brasileira 1532- 1932).

A cirurgiã- doutora Sônia Oliveira Lima,  publicou, faz poucos meses o livro, Fígado Verdade e Mitos.

 Entre uma cirurgia e outra, e sempre convocada para dar aulas, fazer cirurgias pelo Brasil afora, e no exterior, a doutora Sônia tem a ânsia de transmitir conhecimentos, e não lhe bastam, apenas, as Cátedras nas duas Universidades, a UFS e a UNIT. Por isso, participa de Projetos de Extensão Social e dedica-se à variadas pesquisas.

O político Marcelo Déda costumava dizer que não fazia política com o fígado, a exercia, exclusivamente, com o coração.

Na verdade, ele   era um artífice da política com  a alma,  o diferencial de uma inteligência privilegiada, e uma vontade imensa de aperfeiçoar as práticas da vida pública.

 No seu livro,   a Dra. Sônia desfaz o equívoco de que o fígado seria um órgão a produzir maus humores. E ela aborda um dos mitos gregos mais difundidos, o de Prometeu, apenas, um semi-deus , que ousou roubar o fogo, privilegio de Zeus, o deus mais poderoso, e exclusivista. E com ele ter descido do Olimpo, para disseminá-lo entre os homens.  Zeus era também vingativo e cruel, acorrentou Prometeu a uma rocha, e complementou a tortura sádica : durante o dia abutres lhe devoravam o fígado, que, à noite se reconstituía, e o suplício se eternizava.

A médica, no seu livro, destaca o fígado como o único órgão do corpo humano que se auto-regenera, e sem precisar de remédios. O que os gregos já sabiam há milênios, e com isso produziam metáforas e elucubravam a sua imaginosa mitologia, a nossa medicina foi descobrir  muitos séculos depois.

O advogado, no seu livro, assegura que a política também se auto- regenera,  precisa, para isso, de um único remédio: o voto.

Medicina e Política as vezes se encontram, pelo menos dando lugar às  metáforas.

Resumindo: os dois livros são extremamente importantes. O do advogado José Leite, para demonstrar que a arte de agir na vida pública  consiste, na sua essência, naquela capacidade ou habilidade  de evitar que entre os seus praticantes possam  surgir as “ inimizades figadais”.

Por isso, nos dias de hoje a sua leitura é fundamental.

O da médica para esclarecer  que o fígado, “o filtro do corpo”,  de tão benéfico, não merece ser transformado em um adjetivo injurioso.

UMA SUGESTÃO A RESPEITO DESSES DOIS LIVROS

Os dois livros, do advogado Jose Leite e da médica Sônia Lima são extremamente válidos para dois públicos distintos: aquele, ligado às ciências sociais, e  o outro, relacionado às ciências médicas.

 Assim, sendo o Secretário da Educação e Cultura Zezinho Sobral, que vem impedindo que a competência adicional  ao seu cargo, não se transforme apenas em algo acessório, e tem efetivamente se voltado  para a área cultural,  ele então teria sensibilidade para  avaliar a ideia de publicar ou transformar em e-book, os dois trabalhos.  Isso, com a devida autorização do autor e da autora.

O livro do advogado Jose Leite, que o coloca em  nível de um Raimundo Faoro, com o célebre Os Donos do Poder, poderá ser também entendido como uma busca da sensatez.

Nesses tempos turbulentos, a pesquisa da razão através  da história,  dos exemplos, e da valorização das instituições democráticas, poderá  ser uma contribuição para um bom retorno à convivência civilizada.

O livro da médica Sônia Lima, seria uma leitura  pedagógica,  esclarecedora, e até desmistificadora, para os que lidam com as políticas publicas de saúde, ou da rede particular, da mesma forma para os alunos e vestibulandos das  áreas da  Saúde.

 Todos teriam acesso às informações básicas sobre o fígado, e num desafio aos laboratórios dominantes,  revelando virtudes da fitoterapia, utilizando-se ervas ou plantas, com a advertência

 de que, tanto os remédios “ naturais” como queles industrializados, provocam efeitos danosos, principalmente ao fígado, que suporta toda a carga  dos fármacos exagerados como do álcool em excesso.

Um analgésico, age rápido, alivia a dor, mas as suas causas permanecem,  usado intensamente gera danos irreparáveis.

Enfim, seria uma conquista para muitos sergipanos o acesso a estes dois livros.

 

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GILTON A BIOGRAFIA E O AMIGO GALLOTI

Gilton, a biografia e as velhas amizades.

 

O advogado e político Gilton Garcia tem uma característica: ele sabe conservar velhas amizades.

Ao ser publicada o livro  biográfico intitulada Gilton Garcia, Uma Jornada,  ele  ocupou-se em fazer dedicatórias, enviando-o  para aqueles velhos amigos residentes fora de Sergipe.

Um desses amigos foi o ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Octávio Galloti. A família Galloti é useira e vezeira em brilhar e dar exemplos virtuosos nos Tribunais Superiores,  ao decorrer de três gerações. Sua filha, ou seria neta? Maria Izabel,  é ministra do STJ, e com muito destaque nas suas atuações.

Galloti foi um dos mais cultos juristas a ocupar o Supremo Tribunal Federal entre os anos oitenta e a virada do milênio, quando aposentou -se, chegando aos setenta. Ainda não havia, lamentavelmente, a Lei da Bengala.

Hoje, aos 94 anos, ele vive em Brasília e  mantém-se intelectualmente bastante ativo.

Gilton, quando ainda estudante, foi trabalhar em Brasília, no gabinete do ministro da justiça Pedroso Horta, isso, em 1961, quando Jânio Quadros fazia o seu governo vapt- vupt.

Morando no Hotel Pálace, Gilton conheceu outro hóspede, o advogado Luiz Octavio Galloti, já reconhecido como  grande jurista. Tornaram-se amigos, e mantinham conversas frequentes.

Agradecendo o recebimento do livro, Galloti enviou a Gilton um atencioso bilhete que transcrevemos:

“ Ao caro amigo Gilton Garcia, a par da boa lembrança de velhos tempos, despertada pelo seu contato, agradeço o oferecimento da excelente e consagradora biografia, enriquecida com fatos que merecem inspirar  as novas gerações.

Afetuoso abraço, Luiz Octavio.”

 

ENTRE A VISÃO EMPRESARIAL E  UMA TRAGÉDIA SERGIPANA

100% da renda do livro de Juliano destina-se ao externato São Francisco de Assis

 

A duas mãos, um cenario controverso da história sergipana. 

 

Quando um empresário passa a escrever livros, há um sinal evidente de que entre aqueles que tocam as empresas, existe algo mais do que a ânsia pelo lucro. É  a alentadora constatação de que o capitalismo, e os que o fazem, podem ser participantes das transformações e de sintonia com a modernidade, que exige, cada vez mais, uma dose sempre alentada de conhecimentos, ultrapassando, tantas vezes, o âmbito exclusivo dos negócios.

O empresário Juliano Cesar Faria Souto,  iniciou-se nos negócios, sob a orientação pragmática e ética do seu pai Raimundo Juliano, um self made man, dono  uma simpatia imensa, que se transformava também, em exitoso marketing.

Juliano César foi além: buscou uma sólida formação acadêmica, que une à experiencia do dia a dia.

E neste livro Cultura Empresarial, ele tem como objetivo maior o compartilhamento da sua experiencia e conhecimento  com todos os que mourejam nas empresas, e vivenciam os sucessos e agruras de ser empresário, num país ainda com a exigência absurda de mais de  20  tributos e taxas a serem sacrificadamente    atendidas.

Ana Maria Fonseca Medina, faz algum tempo já ocupa um lugar destacado entre os  que lidam com a arte literária em Sergipe. O primeiro livro dela a Ponte do Imperador, lhe fez merecer  a admiração que vai percorrendo as   suas obras, sempre com foco na história sergipana.

Cludefranklin Monteiro, advogado e professor, tem uma ascensão rápida no panorama cultural sergipano, e destaca-se como historiador, que se esmera nas mais alongadas e estafantes pesquisas. Assim, vai garimpando  as joias   ocultas nos baús da historia  ainda não revelada.

Os dois se juntaram para uma empreitada delicada, onde  ainda remanescem as paixões de uma época em que faustistas e olimpistas se digladiavam e polarizavam , pelo menos , as elites reduzidas da intelectualidade, e a outra, também restrita, que  centrava o poder e a riqueza, com a preponderância dos Engenhos e os seus senhores.

O titulo do livro As Exéquias do Monsenhor Olímpio pode parecer soturno, afinal, fala de uma morte, de um cruel assassinato.

Como se sabe, no início do século vinte o arrojado deputado federal e fulgurante orador Fausto  Cardoso liderou uma rebelião que derrubou o presidente da Província, e ele se colocou discricionariamente em seu lugar.

Foram derrotados os olimpistas, os seguidores do sacerdote e politico Olímpio Campos. Sobre esses episódios já escreveu um livro que é icônico, o escritor  e médico, ou médico e escritor, tanto faz, porque nas duas atividades ele é um expoente: Francisco Rollemberg.

Fausto foi assassinado por um militar que integrava a Força Federal desembarcada em Aracaju para conter a revolta.  Um tiro mortal  que até poderia ter sido acidental ou resultante dos desafios que o impetuoso Fausto Cardoso fazia à tropa que lhe apontava os fuzis.

Mas, criou-se a ideia de que Olímpio Campos o adversário momentaneamente derrotado teria sido o autor intelectual do crime.

 Fausto tinha a alma fogosa, era um revolucionário à moda do liberalismo nascente, Olímpio Campos um religioso austero nos costumes, ortodoxo no trato com as coisas da Igreja, zeloso ao extremo com os recursos, tanto os seus que eram exíguos ,

como aqueles dos cofres públicos, muito longe de serem abarrotados. Avesso às mudanças o Monsen hor Olímpio parecia até ignorar as transformações na Igreja, ocorridas no século sétimo e oitavo, quando um asceta resolveu trocar o isolamento do mundo nos mosteiros , pela prática da ação e o foco  no resgate da cultura originária da Grécia, mantida em escaninhos indevassados até então. Era São Bento, o criador em Monte Cassino da ordem dos Beneditinos, modernizadora, em  confronto com a predominância dos Mosteiros onde a vida consistia em repetir cânticos e orações.

De certa forma o choque entre Faustistas e Olimpistas, traduzem, naquele cenário sergipano o progressismo incipiente contra o conservadorismo rançoso  .

O absurdo e cruel , de certa forma covarde, assassinato pelos filhos e parentes de Fausto do então senador Olímpio Campos no centro da capital, Rio de Janeiro, foi uma vingança sem motivo, porque no tiro que prostou Fausto, não havia nem o dedo nem a inspiração  de Olímpio Campos. Mas é essencial que o livro de Medina e Claudefrnklin seja lido, para que esses eventos que o tempo torna mais nebulosos, sejam melhor entendidos.

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