Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa | Jornalista
COMÉDIA DOS ERROS OU A TRAGICOMÉDIA BRASILEIRA
04/07/2025
COMÉDIA DOS ERROS OU A TRAGICOMÉDIA BRASILEIRA


NESTE BLOG
 

1) COMÉDIA DOS ERROS OU A TRAGICOMÉDIA BRASILEIRA

2) AINDA A TRAGICOMÉDIA QUE VAI VIVENDO O BRASIL

3) FINALMENTE, A FESTA E UM OLHAR SOCIAL

4) O HOSPITAL DO AMOR ESPERANDO LULA

 

 

 

COMÉDIA DOS ERROS OU A TRAGICOMÉDIA BRASILEIRA

O Brasil, um presidencialismo esfarrapado 

 

William Shakspeare, o maior dos dramaturgos viveu entre os séculos dezesseis e dezessete, escreveu trinta e sete peças teatrais, entre elas a que teria sido  sua primeira obra: A Comédia dos Erros, que é uma sucessão de equívocos, de trapalhadas, desconexões, tudo dosado com o humor fino do genial filho de Stratford-Upon-Avon, cidadezinha inglesa que, por causa dele convive com a fama.

Shakspeare  na pequenez do seu mundo, ajudou a acelerar a passagem do medievo para os tempos chamados modernos, fazendo da Grécia antiga ou da Roma dos cezares o palco preferido para as suas fabulações, que atraiam camponeses rudes e nas solenes casas de espetáculos londrinas a elite orgulhosa da nobreza britânica.

Um detalhe é que suas peças, onde transbordavam cultura,  e os dramas do seu tempo, invariavelmente eram concluídas com um happy – end, tal e qual os filmes americanos.

Já a nossa tragicomédia brasileira tem um excesso de protagonistas e uma carência secular de autores, os dramarturgos, que não conseguem nos apontar o caminho dos finais felizes.

Lidamos com uma crise sistêmica ou orgânica, real ou falseada, e assim vamos atravessando séculos. Corporações representando interesses, na sua maioria escusos, se apossaram  da República, e nela insistem em fazer os festins particulares.

A política restou contaminada pelo que é escuso ou disseminador do ódio, mas, apesar de tudo o Brasil  moderniza-se, reduz a infâmia da  desigualdade social, se mostra avançado em vários setores, e até, apesar de tudo, causa inveja a gente instalada no primeiro mundo. 

Pelo que temos de grandioso em recursos naturais, na imensa capacidade de trabalho e engenho criativo da nossa gente, deveríamos há algum tempo termos ultrapassado o Japão, a França, a Itália a Inglaterra, o Canadá e a Rússia, e deveriamos ser a quarta economia do mundo.

Em um país imenso onde se acha ouro escavando os leitos dos rios da amazonia, onde sobram recursos naturais estratégicos, estamos divergindo sobre a necessidade de exterminar o garimpo ilegal, enquanto já deveríamos ter ali uma espécie de Vale do Silicio na floresta unindo tecnologia com preservação do meio ambiente.

Mas, ao invés  de cuidarmos do essencial, em muitos aspectos paramos no tempo. Nos perdemos na prática de uma política que se revela uma espécie de contaminação social, onde duas coisas antigas, mortas e enterradas, ressurgem e se confrontam, numa espécie de alegoria ou teatro do absurdo onde estariam a duelar numa arena repleta de bárbaros ou idiotas, o comunista Fidel Castro e o fascista Benito Mussolini.

Essa espécie de encenação atemporal não nos interessa, mas, desgraçadamente, faz parte da tragicomédia  da qual não conseguimos nos desembaraçar , para, enfim, enxergarmos o happy end.

 

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AINDA A TRAGICOMÉDIA QUE VAI VIVENDO O BRASIL

Quando os poderes se desentendem, tudo pode acontecer.

 

Na economia,  tudo sinaliza positivo, à  exceção dos interesses rentistas, sempre que se imagina dar mais espaço para quem realmente produz e gera riquezas. Por que não extinguir as isenções? Isso é mais eficaz do que acabar ministérios, conter despesas miúdas, quando se está diante de um quadro que impede os cofres públicos de acrescentarem centenas de bilhões, a uma arrecadação que já é soberba e visceralmente injusta.

Mas o clima no Congresso não favorece a sensatez. Por outro lado o governo comete erros absurdos, como foi  essa transferência para o STF de uma decisão insólita do Congresso, todavia expressando uma insatisfação, onde se juntam o bolsonarismo  raivoso e demolidor, com os interesses de cada corporação que ali existem. E não são poucas. Mas o desajuste vem de longe, já existia e era velho, no início do Lula-3, que após o oito de janeiro imaginou-se alvo de uma solidariedade quase unanime dos brasileiros enojados com aquelas cenas de estupidez.

Mas ai entrou Janja a convidar repórteres para visitarem o Alvorada  e irem ver, de perto, o abandono, o estado lastimável que o casal Bolsonaro-Michele havia deixado no imóvel luxuoso onde viveram por quatro anos. E houve a acusação de que muita coisa havia sido surrupiada.

E nada disso aconteceu. Havia alguns pontos marcados pelo passar do tempo, e os objetos de copa e cozinha estavam guardados num depósito ao lado.

Aí, o coro do bolsonarismo ressabiado ganhou corpo, engrossou, e não parou mais.

O próprio slogan do governo: União e Reconstrução, não ajuda, foi presunçoso,  ao mesmo tempo  agressivo. E vieram os casos do PIX, da roubalheira, aliás antiga na previdência, e Lula viu faltar chão na sua sonhada caminhada para o quarto mandato, que ele nem deveria ter colocado na sua agenda.

E chegamos ao que está sendo vivido agora. Um STF constrangido com a “ missão” que o governo lhe jogou ao colo, e que poderá acender ainda mais a crepitante fogueira, do choque entre poderes.

Finalmente, entra um bombeiro, chegam outros, e parece que haverá uma  saída sem maiores traumas.

Mas, no exterior, sempre em busca de um protagonismo internacional que teve nos dois primeiros mandatos, quando a geopolítica mundial era totalmente diversa desta  conturbada que hoje vivemos, o

 presidente brasileiro lança agora a ideia de uma moeda a circular entre os BRICs, começando o afastamento do dólar. E Trump responde prometendo represálias.

Moeda forte com circulação internacional, não se faz por simples ato de vontade, seja de um país ou de vários deles somados.

O dólar não será trocado por outra moeda, ainda por muito tempo. Nem os países dos BRICs, desejam isso. China e Índia têm portentosas reservas em dólar. As reservas do Brasil também não são desprezíveis. Aliás, foram construídas por Lula.

A absoluta preponderância do dólar somente cristalizou-se após muito tempo do reinado da Libra Esterlina , quando, sobre o vasto Império Britânico o sol nunca sumia no horizonte.

A Segunda Grande Guerra nem findara, e ja em 1944, reuniram-se em Bretton Woods os representantes das potencias  antecipadamente vencedoras do confronto mundial arrasador, e seus aliados, para desenharem a paisagem do pós-guerra.

Roberto Campos, o nosso “Bob Fields”,( avô do ex-presidente do Banco Central que lhe herdou o nome) era um modesto diplomata de segunda classe, que acompanhava o nosso Ministro da Fazenda àquela decisiva e histórica reunião. No livro Lanterna de Popa, o futuro homem forte definidor das políticas públicas brasileiras após 1964, descreve o acanhado constrangimento do nosso representante,  que pouco entendia daquilo, em meio às discussões onde brilhava nada menos do que o Lord John Maynard Keynes Ele tirara o mundo com suas ideias  da  grande depressão ( 1929-1933) quando o presidente Roosevelt aderiu a elas e criou o New Deal.

Por mais  respeitado e famoso que fosse, Keynes não conseguiu salvar a moeda inglesa. Logo substituída em todo o mundo pelo dólar, com a força dos Estados Unidos, que decidiam a guerra e acumulavam créditos, enquanto os outros países poderosos, ( Rússia, França, Inglaterra,  vencedores, estavam devastados e devedores, e a Alemanha, Itália e Japão esmagados). Todos, passariam a  depender do dólar americano para garantirem a sobrevivência. E então surgia o novo império mundial hegemônico que, sem dúvidas, anda combalido, mas, tem ainda muito gás para gastar.

Já lá se vão oitenta anos de predominância do dólar, e tentar  frear esse predomínio não parece tarefa que caiba ao bico de um presidente brasileiro, agora enfraquecido dentro do seu próprio país.

Melhor tentar aqui dentro, ir transformando, se possível, num vaudeville  descontraído e alegre a nossa resiliente e tristonha tragicomédia.

 

 

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FINALMENTE, A FESTA E UM OLHAR SOCIAL

Levando dignidade aos que estão fora das festas, mas dela tiram o sustento.

 

O São João aqui, ou as festas juninas, já merecem uma outra denominação, vez que se espalham até o final deste julho.

O governador Mitidieri realmente transformou em realidade aquela premonição ousada de Fabiano Oliveira, quando Secretário do Turismo,  imprimindo o slogan definitivo.  Os outros eram inventados e substituídos quando entravam ou saiam governadores.

O Sergipe País do Forró foi tirado de uma música de um artista sergipano, com a licença dele, Rogério,  e oficializou-se, transformando-se no apelo turístico chamativo de um Sergipe efetivamente povoado em todos os quadrantes pela animada festa dos meses de junho.

Mas ainda estávamos um tanto distante de ser efetivamente um” país do forró”.

Existia em Aracaju o Forró Caju,criado por Jackson Barreto quando Prefeito e levado à nossa praça central a fausto Cardoso, um espaço exíguo, enquanto ia perdendo fôlego a festa na rua São João, já se extinguira aquele da Vila João Costa e um outro da Rua Ribeirópolis , todos um tanto desenxabidos e desprezados pelo poder público. Jackson também reverteu a decadência da festa na rua São João, e daí em diante, todos os prefeitos João Alves, Deda e Edvaldo, deram folego à festa.

Valadares no governo criou o Gonzagão, um espaço em homenagem a Luiz Gonzaga e muito usado nos festejos de junho.

Prefeito de Socorro e depois de Areia Branca, Zé Franco fez festa nos dois, e ficou no calendário turístico o Forró Siri. Em Areia Branca a festa  ganhou dimensão nacional enquanto Souza foi prefeito, depois, entrou em decadência, perdendo para a concorrência de Socorro e Aracaju. Agora, o prefeito Thalysson

 de Francisquinho, deu impulso ao São João de Areia Branca, enquanto o pai, Prefeito de Itabaiana, faz o forró na monumental Festa dos Caminhoneiros.

E há o São João com mais densidade histórica e apego às tradições culturais que é o de Estancia.

 

Fábio Mitidieri fez a grande transformação, criou a Vila do Forró na Orla da Atalaia que ganhou enorme dimensão, e se transformou no principal ponto de atração turística , com o forró ampliado pelo mês de julho. Ele faz cálculos e demonstra que entram mais recursos provenientes do turismo do que aqueles gastos com as festas, além da geração de empregos, e estimulo aos pequenos negócios.

Mas aconteceu algo importante, conferindo um diferencial à festa.

Antes, quando acabava a festança, nas madrugadas ou com o sol já brilhando, aparecia uma legião de homens e mulheres que passavam a noite esperando o término, para garantirem o pão. Os catadores de latinhas.

São dezenas, que vivem desse oficio, alguns, moradores de rua. Ficavam ao relento, e deles ninguém lembrava. Agora, recebem tratamento digno. Foi reservado para eles um espaço onde podem dormir e se alimentar, antes e depois que concluem a sua exaustiva faina.

Foi uma ideia da Secretária  de Ação Social Érica Mitidieri.

Vários prefeitos, entre eles Machadinho de Canindé ,que este ano refez o São João esquecido,  o de Lagarto, Sérgio Reis, Luana de N. S. da Gloria, Francisquinho de Itabaiana, Thalysson de Areia Branca, Vado Gavião de Poço Redondo , gostaram da iniciativa, e, nas festas que fizerem, os catadores terão o devido amparo da Prefeitura. A ideia pegou, e vai ser posta em pratica em todas as festas de todos os municípios.

 

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O HOSPITAL DO AMOR ESPERANDO LULA

O hospital de Lagarto próximo de tornar regional.

 

O Hospital do Amor em Lagarto, um ramo do complexo de hospitais criados por Henrique Prata, poderá ser transformado em Hospital Regional para o tratamento do câncer em Sergipe, Alagoas, Bahia e Pernambuco. Lula teria assegurado que virá a Sergipe para oficializar a ampliação do atendimento, que é todo coberto pelo SUS, e passando a beneficiar  quatro estados. Em Lagarto existe o Polo da Saúde da Universidade Federal de Sergipe, e a ele se junta o especializado em câncer, com o diferencial de atender apenas pelo SUS, e tratar  todos os pacientes como se estivessem nos hospitais particulares que atendem a elite.

O prefeito Sérgio Reis entende que Lagarto poderá tornar-se uma referencia para o nordeste, com a ampliação do complexo da saúde abrangendo a oncologia.

Juquinha ,o dirigente do novo Hospital que foi concluído em menos de dois anos e  está ampliando suas instalações, registra o atendimento de centenas de pessoas provenientes de vários municípios sergipanos e que chegam também de outros estados.

Para a vista de Lula ser confirmada, aguarda-se apenas a conclusão de um entendimento que está sendo elaborado com a Secretaria de Estado da Saúde.

No mês passado faleceu a doutora Scylla Prata. Era a mãe de Henrique Prata e dedicou parte da sua vida à administração do Hospital criado pelo seu filho. Com mais de noventa anos frequentava diariamente as instalações em Barretos, e  dava sequencia ao trabalho do marido e do sogro, este, sergipano, pioneiros no avanço da oncologia brasileira. Um trabalho ao qual Henrique Prata deu uma  extraordinária dimensão.

 

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MATERIA PUBLICADA EM 11/05/2015

 

CENAS DA DITADURA PARA QUEM  NÃO A CONHECEU  E A DESEJA DE VOLTA  (2)
 

(Em memoria de Guido Azevedo, advogado de presos políticos, e, como deputado, presidente na redemocratização, da nossa Assembleia Constituinte )

 

Com a chegada do coronel Tércio Veras, que simultaneamente assumiu em Sergipe dois comandos: o revolucionário e o do exército,   acabou-se o tempo do “vice-rei “ e, destronado,  o tenente Rabelo pediu transferência para a reserva no posto de capitão. 

O coronel Veras era um militar moderado e sociável, mas, tinha  irresistível atração pelo uísque.   Se  excedia quando os vapores do álcool lhe consumiam a sensatez, e  patrocinou algumas cenas lamentáveis, inclusive em residências de políticos e empresários que, mesmo sabendo das prováveis conseqüências,  faziam questão de convidar o coronel e homenageá-lo com todos os salamaleques dispensados  aqueles que podem, e mandam.

Puxar saco de militares tornou-se um contagiante hábito. Essa é uma das características das ditaduras, quando a sobrevivência ou a escalada na vida  ficam a depender  da boa vontade dos donos  do poder. 

Houve um jantar em homenagem aos militares oferecido pelo presidente da Assembléia  Fernando Leite,  ameaçado de represálias porque era compadre do ex-presidente Juscelino Kubitscheck. Ele assumira por alguns dias o governo na ausência do governador Celso Carvalho. O “patriótico ágape  “, como  o banquete foi denominado, na linguagem sebosa de um redator  oficial, terminou causando  sérios constrangimentos. Um coronel,   do alto das suas estrelas, não aceitou sentar à mesa onde também participaria do jantar o comandante do minúsculo destacamento da FAB, que era apenas  suboficial.

Esses episódios ficariam apenas entre as bizarrices que o excesso de poder sempre provoca, e poderiam figurar no extenso “febeapá , “ o festival de besteiras que assolava o país, a antológica coleção da realidade cotidiana da “redentora” , com a qual  o humorista Stanislaw Ponte Preta enriqueceu o seu mordaz acervo de anedotas. Stanislaw, o heterônimo de Sérgio Porto, ainda conseguia fazer humor, mas isso no Rio de Janeiro, escrevendo na Última Hora,   depois, no resistente Pasquim, enquanto ainda vivíamos aquele tempo que o jornalista  Élio Gaspari, chamou de “ditadura envergonhada “. Na periferia do Brasil, onde estavam cidades como a Aracaju acanhada,  na sua indigente carência de civilização, qualquer mequetrefe   achava-se no pleno direito de censurar. Jornalistas e radialistas  conviviam com o medo,  exercitando a capacidade de  fazer  autocensura, sem a qual a sobrevivência tornar-se –ia impossível.

Os governadores do período autoritário,  participaram  da ditadura que nascera feroz, (período  de Celso de  Carvalho) depois, se aquietara um pouco, para encrespar em 68, com o Ato Institucional nº 5. Coube, tanto a Celso como depois a Lourival Baptista, este, em instante ainda mais traumático, contribuírem para o alívio das tensões e o abrandamento possível das  mesquinharias . Os outros, em períodos mais ou menos difíceis, João  Garcez, ( interino 9 meses ) Paulo Barreto , Jose  Leite,  Augusto Franco, general Djenal  Queiroz ( interino 9 meses) e João Alves, já  eleito pelo voto direto,  em plena abertura política de Figueiredo, tiveram  atitudes distantes dos radicalismos, e sempre  que possível, contemporizadoras.

Em fevereiro de 1976 os torturadores chegaram a Sergipe.

Vieram fazer, nos porões do quartel do 28 º , cuja oficialidade foi afastada, a prática ignóbil da tortura aplicada a presos políticos,  suprema forma de covardia contra quem não aceitava pensar e agir  de acordo com o poder das baionetas, conquistado sob aplausos de grande parte da sociedade.

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