Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
DO LIVRO DE CERVANTES AO ESVERDEADO ALMEIDA LIMA
14/06/2019
DO LIVRO DE CERVANTES AO ESVERDEADO ALMEIDA LIMA

(Almeida, verdinho, verdinho)

Para o grande escritor e filósofo espanhol Miguel de Unamuno, o livro Dom Quixote do seu conterrâneo e homônimo Miguel de Cervantes, estaria entre as três maiores obras literárias da humanidade. Unamuno, que escreveu sobre o sentimento trágico da vida, fez uma “biografia” do personagem de Cervantes, o fidalgo empobrecido Alonso de Quesada. Ele, de tanto remexer em antigos escritos sobre façanhas, há séculos passados,  dos fabulosos cavaleiros andantes, acabou por turvar o próprio juízo, e os seus miolos, se alguns tivera, derreteram.

No desvario de Dom Quixote, que se fez cavaleiro andante, sem atentar que o tempo das gestas heroicas há muito já tinha passado, Unamuno identifica o caos da ausência da razão, não apenas no indivíduo, mas na própria sociedade.

Em moinhos de vento, ao longe, Dom Quixote enxergou enormes e perigosos dragões, contra os quais investiu com sua lança em riste, esperando merecer fama e gloria pela proeza. Acabou-se esborrachado, gemendo no chão ao lado do seu esquálido cavalo Rocinante, e do fiel escudeiro Sancho Pança, um pouco menos carente de juízo do que o seu próprio senhor.

Mas, o que tem a ver Almeida Lima, o ex-senador, ex-prefeito de Aracaju, ex-tumultuado Secretário da Saúde com as façanhas de Dom Quixote? Nada, absolutamente nada. Mas, seria possível, alguma vez descobrir pontos de aproximação em diferentes desvarios. Ressalvando-se que a criação central de Cervantes, era um ser humano, puro, repleto de vontade para, como ele próprio declarou: “desfazer agravos, endireitar sem – razões, reprimir injustiças, minorar abusos e satisfazer dívidas”.

Erasmo de Rotterdam no seu livro famoso Elogio da Loucura, cuida de identificar também diferentes espécies de desvarios.

Almeida Lima agora esverdeou. Que ninguém se assuste, não se trata dos efeitos de alguma hepatite, ou febre terçã.

O ex-senador, agora, é quase um Menino do Dedo Verde, tal e qual o personagem de Maurice Druon. Não sendo mais menino, Almeida poderá reivindicar um título compatível com a sua idade.

Coroa do dedo verde, seria apropriado?

Almeida é, agora, a nova estrela do Partido Verde, que o recebe com a antecipada garantia de que será o candidato do PV à Prefeitura de Aracaju. Almeida, antes de ser verde já foi prefeito, entrou, quando era vice, e Jackson saiu para candidatar-se ao governo de Sergipe. Não foi um mau prefeito, mas, saiu da pior forma possível, esquecendo-se de pagar dívidas, e disso se queixam antigos servidores municipais.  Almeida foi Senador. João Alves, quando ainda perfeitamente lúcido, contava, recriminando a si mesmo, apenas uma parte do que fez para carregá-lo nas costas, vencendo a imensa rejeição. Naquele tempo o verde de agora já andava às turras com o primo Jackson, que tivera, antes, também o mesmo peso a carregar, e queixava-se muito do parente ingrato.

Mas Almeida deve ter certeza de que possui até hoje um insuspeitado carisma. A especial característica que o tornaria popular, quase adorado pelas massas, em especial o povão que com ele tanto se identifica. Com essa convicção firme, e até pelas evidencias muito lógica, sente-se fortalecido para disputar uma eleição majoritária, talvez lamentando ter vendido a Rádio Liberdade AM, que comprou quando prefeito, e hoje seria um veículo útil para multiplicar  o imenso afeto que a grande maioria da população aracajuana tem por Almeida Lima. Sócio de Almeida Lima naquele empreendimento pelo campo da mídia, foi o hoje Conselheiro do Tribunal de Contas, Clóvis Barbosa, na época secretário municipal.

Mesmo sem a rádio Liberdade, Almeida, sem dúvida, terá amplo acesso à mídia. Com aquele seu jeitão simples, popular, simpático e atraente de falar, fará crescer ainda mais os seus índices de plena aprovação, até que chegue a campanha eleitoral.

Aqui e ali registram-se porém discrepâncias, que poderiam fazer pessoas menos informadas supor, que há na sociedade sergipana um sentimento forte de rejeição a Almeida, e que isso poderia dissolver a sua candidatura a Prefeito de Aracaju, cidade onde essas “idiossincrasias” (palavra tão recorrente nas falas do  saudoso e virtuoso José Carlos Teixeira) mais se fazem sentir em relação a determinados políticos.

Os líderes do Partido Verde devem estar certos na opção por Almeida, que deve estar consumada, convencidos que foram pela segura narrativa do mais novo “soldado do verde”, como ele hoje se define, de que tudo não vai além de meros e diminutos episódios pontuais, que em nada afetariam a imagem do novo “cavaleiro da esperança verde”.

Uma boa performance que alguns criativos marqueteiros teriam sugerido ao “soldado  do verde”, seria, que ele se tornasse de fato um soldado, mas não da infantaria, os que andam a pé, e aderisse à cavalaria, procurando imitar o Dom Quixote, providenciando para ele um Rocinante, e  também um pajem, ou escudeiro, não necessariamente barrigudo como Sancho Pança. A ideia dos marqueteiros:

“Num dia aprazado, Almeida faria um triunfal desfile pelas ruas de Aracaju, montando um cavalo pintado de verde, vestido com terno e gravata verdes, tendo ao ombro dois papagaios, que já são verdes mesmo, levando ao colo uma jaca, e pendurada ao pescoço uma melancia, ambas, igualmente verdes.

Sem dúvidas os aracajuanos logo identificariam a firmeza das convicções verdes do candidato verde à nossa Prefeitura.

Mas, felizmente para ele, Almeida não é candidato no pequeno município de Santana do São Francisco, o antigo Povoado Carrapicho, onde se faz uma primorosa cerâmica artesanal de barro.

Lá no dia da padroeira da cidade, em julho do ano passado, estavam numa missa celebrada na apinhada igreja Matriz o governador Belivaldo Chagas, o ex-governador Jackson Barreto, o engenheiro químico Ricardo Roriz, ex-prefeito, e muitos outros políticos. O padre, ao encerrar a parte litúrgica da Missa pediu aos fieis que permanecessem, porque ele desejava dizer algumas palavras, evidentemente fora do contexto da celebração.

O padre elevou bem à voz, estufou o peito já no átrio da igreja. Postou-se bem na frente do governador e soltou breves e incisivas palavras: “Governador Belivaldo, eu quero lhe agradecer em meu nome, em nome de todos os fiéis da minha Paróquia, em nome mesmo de todos os habitantes do nosso município e da nossa região: muito obrigado governador, muito obrigado mesmo por ter demitido da Secretaria da Saúde aquele homem que tanto mal fazia à saúde dos sergipanos, aquele, agora felizmente, ex-secretário Almeida Lima”.

Nem terminou de falar, por toda a igreja ressoaram os aplausos fortes, vibrantes, numa adesão unanime as palavras do pároco.

É, pode ser que tudo não passe mesmo de uma idiossincrasia pontual, pequena, irrelevante, coisa lá dos cafundós do Judas.

Em Aracaju, com certeza é diferente.

O CAPITÃO QUE DEMITE GENERAIS

(O general demitido pelo capitão Presidente)

O capitão Bolsonaro, agora nosso presidente, bate reverencial continência para a bandeira norte-americana.  Solene, quase contritamente, repete continências ao maluco-feiúra, Olavo de Carvalho, sociopata, arauto do ódio e da conflagração permanente entre os brasileiros.

O capitão não precisa mais bater continência aos generais. Hoje, pelo voto livre dos brasileiros, que protestavam sem rumo certo contra um clima de degenerescência política e ética, o capitão foi eleito.  Sendo presidente, e chefe supremo das nossas Forças Armadas, a ele, os mais altos oficiais – generais obrigam-se à continência de praxe, e por hierarquia.

Acontece, que Olavo de Carvalho, o energúmeno que se intitula filósofo, sob aplausos dos filhos do capitão, destratou, insultou, ofendeu rasteiramente generais brasileiros, entre eles, até ao ex-comandante do Exército, o general Villas Boas. Destituído de sentimento humano, o calhorda, que traça dos Estados Unidos os rumos do governo Bolsonaro, referiu-se depreciativamente à condição de enfermo do sempre reverenciado general Villas Boas, obrigado a mover-se numa cadeira de rodas. Ao general Mourão vice-presidente da República ele o afagou com o delicado termo: “cagão”, também extensivo a outros generais, entre eles, o agora abruptamente exonerado Santos Cruz.

Quem é ele? Se o Exército brasileiro tem soldados aos quais render homenagens, Santos Cruz seria um deles. Só uma passagem da sua vida militar: comandou, no Congo, tropas da ONU, consequentemente internacionais, num sangrento conflito, do qual,  saiu com a dignidade do reconhecimento de todos os países cujas tropas chefiou.

Santos Cruz, ao serem insultados os colegas de farda pelo cafajeste mor Olavo de Carvalho, saiu em defesa de todos eles, e foi ainda mais pesadamente atacado pelo pulha que agride à distancia. Estranho em tudo isso foi o silêncio do presidente Bolsonaro, chefe supremo das forças armadas, colega de oficio dos outros agredidos, ainda mais seus Ministros de Estado. Em vez da solidariedade que era uma decorrência da respeitabilidade do cargo que ocupa, Bolsonaro botou “panos quentes”, justificou, eis o absurdo, a atitude do farsante tresloucado, e   justificou também o apoio explícito dos seus filhos  ao mesmo personagem. Eles até o exaltaram, quando o abjeto descia ao nível mais rasteiro das agressões.

A atitude mais grotesca ainda veio do próprio capitão presidente: conferiu uma das maiores condecorações do Brasil ao mentecapto virulento Olavo de Carvalho.

Marinha, exército e aeronáutica se mantiveram impecavelmente calados.

Mas a demissão do general Santos Cruz, está atravessada na garganta do generalato, como também na garganta de todos os brasileiros sensatos.

Aqui, transcrevemos um “tijolinho” publicado na  coluna do mais lido jornalista brasileiro, o sergipano de Frei Paulo Ancelmo Góis, sob o titulo “MENOS UM NA NAU DOS INSENSATOS.”

“Na equipe do governo abrutalhado de Bolsonaro & filhos, sobrevivem ainda uns poucos luminares e insignes. Com a demissão do ministro Santos Cruz, a nau dos insensatos perdeu um dos seus lemes.”

Aqui, ousamos acrescentar ao insigne Ancelmo: uma nau que perde seu rumo pela ausência de quem a comande, com dificuldade  consegue singrar por algum tempo em mares aquietados de bonança; em mares tempestuosos, a singradura é apavorante, e o naufrágio inevitável.

ENTRE A CELSE QUE CONSTROI E A VALE QUE TANTO DESTROI

(A biblioteca que estava deteriorada foi reformada)

Alguém lembra por quantos anos a mineradora, Vale operou em Sergipe ? Com o nome Vale do Rio Doce, pouco mais de dez anos até ser privatizada no governo de Fernando Henrique Cardoso. FHC tem inegavelmente muitos méritos, foi, sem dúvida, o presidente  mais preparado intelectualmente. Quanta saudade dos tempos em que ele nos representava no exterior, tratando com inteligência, cultura, dos temas mais complexos da atualidade, fosse sobre política, economia, conflitos internacionais, direitos humanos, evolução social. FHC é um manancial prodigo de conhecimento, uma figura respeitada nos ambientes acadêmicos internacionais.

Quanta diferença. Trocamos a inteligência pela mais  rude e rasteira grosseria.

Mas FHC cometeu um erro nas suas privatizações, quando vendeu a preço vil a mineradora, e com ela as astronômicas reservas minerais brasileiras. O Estado não pode abrir mão numa área das mais estratégicas. E vejam o que a VALE nos fez, continua fazendo, e mais ainda fará em volume de desastres sucessivos.

Em Sergipe a Vale explorou por trinta anos a única mina de potássio existente no Brasil e no hemisfério sul. Controla ainda o nosso porto off-shore, e por pura ganancia não sintoniza com os projetos em andamento, que marcarão a grande demarragem da nossa economia. A Vale também comprou a ferrovia Leste Brasileiro. Prometeu muito, nada fez. E a ferrovia hoje está paralisada.

Em todos esses anos em Sergipe a Vale nunca teve uma iniciativa social, um simples gesto solidário que fosse a Sergipe. Nunca fez parte da nossa vida , nunca teve uma iniciativa que fosse para dar apoio a Sergipe e aos sergipanos, além das suas tarefas exclusivas de retirar minério processá-lo  e vender o insumo para as fábricas.

A CELSE, um conglomerado de grandes empresas que aqui constrói a térmica da Barra dos Coqueiros, vai inaugurar o empreendimento no próximo ano, logo em janeiro; mas já tem uma presença destacada na vida do estado, na vida de Aracaju. Com recursos da Centrais Elétricas de Sergipe, já foram inauguradas as reformas do Arquivo Publico, agora, da Biblioteca Pública Epifânio Doria, e brevemente a remodelagem do Teatro Tobias Barreto, cuja manutenção a CELSE também assumirá. Há ainda, como verbas de compensação, recursos que serão destinados ao desassoreamento e despoluição do rio Poxim, e recuperação da reserva ambiental do Morro do Urubu, também uma área de lazer.

Entre a CELSE e a VALE, quanta diferença!

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