Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
Em Sergipe é gás "pra ninguém botar defeito"
28/10/2017
Em Sergipe é gás

Diante de uma mesa farta surgem as exclamações: “É comida pra ninguém botar defeito”. Diante de uma feminina exuberância a mesma coisa: “É mulher pra ninguém botar defeito”.

No primeiro caso, do alimento que sobra, comemora-se a fartura, já no segundo é a exuberância daqueles contornos essencialmente femininos que se festeja, numa celebração à beleza, e também ao devaneio onírico onde o erótico não se ausenta.

Tratamos aqui de um outro tipo de fartura, exatamente aquela que move a engrenagem complexa da economia: os recursos naturais. Esses insumos que o planeta oferece, quando concentrados em determinada área, e ainda mais sendo essenciais, estratégicos, fazem a grande diferença entre países que ficam ricos e os que chafurdam na pobreza insolúvel. Essa afirmação deve ser relativizada, pela interveniência de vários fatores ou circunstancias que anulariam os benefícios decorrentes das dádivas vindas da natureza.

As relações de produção, o nível da tecnologia utilizada, as formas éticas ou depravadas da governança, a responsabilidade ou leniência em face dos interesses nacionais, tudo isso influi fortemente, levando, por exemplo, a pequena Noruega a ser um dos países mais ricos do mundo, ou ao desastre países como o Congo, vítima da cobiça internacional misturada com a devassidão moral de uma sucessão de governantes. Aqui no Brasil, o Rio de Janeiro é o exemplo mais evidente da riqueza natural (petróleo e gás) desperdiçada na roubalheira e na irresponsabilidade.

Há muito tempo se sabe que nas profundezas do mar, algo em torno de 3 mil metros debaixo da água, e uns dois mil ou mais embaixo da terra, e a uns 80 quilômetros das praias sergipanas, existem formidáveis reservas de petróleo e gás. Essas jazidas por aqui na nossa frente assemelham-se ao potencial gigante dos campos do pré-sal no Rio de Janeiro e na bacia de Santos, onde alguns poços alcançam níveis superiores a 40 mil barris diários, coisa de Venezuela ou Arábia Saudita. Tudo isso resultado da avançada tecnologia desenvolvida exclusivamente pela PETROBRAS, para perfuração em águas ultra-profundas.

Eike Batista teria de fato alcançado a posição de homem mais rico do mundo, se quem dele recebeu dinheiro para “sortear” áreas para a sua petroleira, a OGX, não o houvesse enganado. Em relação aos campos da bacia sergipana, a PETROBRAS fez algo semelhante, todavia com a benéfica  intenção de proteger os interesses da empresa. Aconteceu durante a visita do então presidente Lula à Índia acompanhado de uma enorme comitiva de empresários e técnicos brasileiros. O “mapa da mina” foi mostrado aos executivos de uma empresa interessada em vir a Sergipe.  Guardaram o “ouro”, mas exibiram a “prata” o que já seria de bom tamanho. Os indianos se interessaram e estão hoje por aqui, quase prontos a começar a retirar do fundo do mar a riqueza.

Mas, por aqui também anda agora a Exxon, gigante mundial que tem um seu ex-CEO, ao lado de Trump na Casa Branca. A petroleira que é a maior do mundo vai acelerar seu projeto na costa sergipana, para estar em 2020, pronta para fornecer os Seis Millhões de Metros Cúbicos de gás natural que a usina termoelétrica em construção na Barra dos Coqueiros irá consumir. Só para que se tenha uma ideia do tamanho do projeto: a SERGÁS fornece aos consumidores sergipanos uma média diária de 330 mil metros cúbicos.

O advogado Wellington Paixão representante, na diretoria, da parcela minoritária que cabe ao estado de Sergipe, considera a SERGÁS uma mola estratégica para impulsionar a instalação aqui de um complexo industrial, desde que haja a garantia do gás fornecido a preços competitivos.

Um olhar sem exageros longe do otimismo delirante de um personagem de Voltaire, e com os pés fixamente postos no chão da realidade, torna possível enxergar o futuro de Sergipe, livre daquele “dilúvio”, antecipado com tanta ênfase pelo senador Valadares, que, nisso, faz o papel de um nigromante fatalista, ou de um Velho do Restelo, olhando o mar oceano com inoportuno medo, enquanto a ousada e jovem marujada lusa iniciava a grande aventura dos descobrimentos.

Entre o Dr. Pangloss, personagem de Voltaire, e o Velho do Restelo, de Camões, é possível buscar o meio termo do bom senso realista. Se assim fizesse, o senador Valadares descobriria que a fartura de recursos naturais, aliada a uma visão estratégica pública e privada que fez nascer a Usina Termoelétrica, e a viabilização do pré-sal sergipano, é exatamente o que fará surgir um complexo industrial de grande porte em Sergipe, cujo embrião foi idealizado e projetado exatamente no governo dele, Valadares, quando se concebeu o Polo Mineral Petroquímico, abortado pelo erro de estar baseado no protecionismo  de um mercado interno fechado, onde escasseavam matérias primas, cujas portas foram surpreendentemente derrubadas pela abertura  ocorrida no governo Collor.

De qualquer maneira o polo do governo Valadares não deixa de ter sido uma antevisão de futuro. O paradoxo, é que, apesar das evidencias, ele parece não acreditar no que acontece, e investe contra um empréstimo solicitado pelo governo, o primeiro, aliás, negociado por Jackson, exatamente para reconstruir e ampliar a nossa rede rodoviária, essencial como infraestrutura.

Talvez, por isso, o senador tenha sido voz isolada, porque descolou-se da questão fundamental, que é gerar empregos e dinamizar a economia. Por isso, na votação do empréstimo perdeu até o voto do único representante do seu partido na Assembleia o deputado Luciano Pimentel, que teve equilíbrio e racionalidade suficientes para ir além da política “fulanizada”.

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UM DÓRIA QUE SEIXAS DÓRIA NÃO GOSTARIA DE ABRAÇAR

Prosseguindo seu carnaval de trivialidades banais, o prefeito paulistano João Dória esteve em Sergipe para fazer uma palestra tão ôca quanto a sua própria cabeça. Mas há quem o ouça quase em êxtase. São os mesmos que sonham ainda com o Brasil das Casas Grandes e das Senzalas e imaginam poder retroceder a essa época, onde seriam senhores com o chicote nas mãos, e o olhar cúpido sobre alguma mucama para “usá-la” da forma que ordenasse.

É o saudosismo do Brasil passadista, dos que, morando em palácios de linhas modernas imaginam que a arquitetura cruel das senzalas abriga ainda uma escravaria ao seu dispor. Para atendê-los veio aquela Portaria retrógrada, ilegal e indecente, liberando praticamente a prática criminosa da escravização de trabalhadores. O moderno Dória disse alguma coisa? Tão “moderno” ele, e conformado com a devastação da imagem do Brasil pelo mundo afora. Por sinal o sentimento anti-princesa  Izabel é tão grande que contamina um ministro infelizmente ainda contaminando a cadeira em que senta no STF.

Ainda bem que a sociedade reagiu, que a Ministra do STF Rosa Weber cassou a portaria celerada, a Procuradora Geral da República Raquel Dodge, teve uma palavra forte de condenação. Tantos outros fizeram o mesmo, e o janotinha que quer ser candidato, o que disse? Nada, porque é servidor obediente do que existe de mais retrógrado na sociedade brasileira.

Mas como João Dória elegeu-se numa megalópole onde um terço da população vive em favelas? Exatamente por isso mesmo. Dizia Joãozinho Trinta: “pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”. No caso de demagogos populistas e mentirosos, é comum identificarem-se preferências em todas as classes. Jânio Quadros foi o maior exemplo dessa mistura de pobres e ricos convergindo para o mesmo candidato. Outro populista, rico e com enorme fama de ladrão, o “rouba mas faz” Adhemar de Barros, recebia votos tanto de “pés-rapados” como de aristocráticos quatrocentões.

“Com biscoito e bolo se enganam os tolos”. E o marketing providencia o biscoito e o bolo. Providenciou-os, tanto para Dória, vendido como modernidade, quanto, da mesma forma para Dilma Roussef, a “gerentona eficiente”.  Descobrem agora os eleitores de Dória que ele não é o que pensavam, verificou-se que Dilma era uma inepta teimosa, sem ideia do tamanho do cargo que ocupava. O mesmo sucedeu com os que  votaram em Aécio, imaginando-o  salvador da pátria, político cercado de virtudes, entre elas a capacidade gerencial e a honestidade, constatando-se, agora, que ele  se fez político para disfarçar o gângster.

O que espanta em tudo isso é que depois de tantas evidências, figuras nitidamente incapazes de governar o Brasil, como é o caso de Dória, Bolsonaro, e nas circunstancias atuais, também Lula, estejam pontuando com destaque, nas pesquisas eleitorais.

Uma coisa é certa, se João de Seixas Dória, de quem agora o Dória paulista se diz parente, com a ojeriza que Seixas devotava aos brasileiros sem brasilidade, aos políticos divorciados da essência virtuosa da Política, aos falsificadores da vida pública, e aos destituídos do sentimento de honra, ele não iria cumprimentar o seu possível parente, quando a Assembleia num ato do qual se arrependerá, decidiu conceder o título de cidadão sergipano, ao dândi que viu na política melhores chances para exercitar o seu  oficio de lobista.

A GALINHA E O DONO LADRÃO

Um ladrão, desses comuns, sem mandato e maltrapilho, corria com uma galinha debaixo do braço, perseguido pelo dono da galinácea. Foi detido pelos policiais. O ladrão, certamente tendo visto na TV o exemplo de outro, empertigou- se, manteve a penosa espremida entre o braço e o tórax e protestou: “Dotô policia, eu estou sendo vítima de uma ardilosa armação, essa galinha eu pedi emprestada ao dono, mas doto ele é um notório bandido”. O dono da poedeira foi preso. O ladrão vítima da armação voltou a atuar no galinheiro.

A HORA DA “INTERVENÇÃO MILITAR”

A “intervenção militar” que tanto tem sido falada como solução para retirar do poder o chefe da organização criminosa, poderia ter ocorrido no Hospital Militar, quando ele lá esteve internado. O oficial apenas subscreveria uma avaliação médica nos seguintes termos: “O paciente encontra-se agora fisicamente inabilitado para exercer as suas funções. Moralmente, ele já se encontra há muito tempo”.

UM APARTAMENTO PARA GILMAR MENDES E BLAIRO

No apartamento seboso, fedorento, de um bairro de São Paulo, onde fiscais do Ministério do Trabalho, (que felizmente continuam no exercício das suas funções que a portaria celerada queria extinguir) fizeram um flagrante do trabalho escravo existente na área quase central da maior cidade do país. Um casal de imigrantes peruanos e mais outras pessoas, apertadas no espaço exíguo, onde havia as máquinas da fabriqueta de confecções e os alojamentos, faziam uma jornada das três da manhã às dez da noite, e recebiam a gororoba que comiam como se fosse salário. Fugiram, denunciaram, e os fiscais chegaram. O dono da senzala urbana está preso. Se a Portaria celerada ainda estivesse em vigor, ele estaria solto e continuaria com a sua senzala industrial.

Para viverem uns três dias naquele apartamento, deveriam convidar o Ministro do STF Gilmar Mendes, que justificou a Portaria dizendo que trabalha exaustivamente, mas, e nem por isso se considera escravo. Para acompanhá-lo, o “rei da soja” Blairo Maggi, ministro da agricultura,  defensor da Portaria, que disse ter sido uma reivindicação das classes produtoras rurais.

O sujeito é tão antiquado que ainda usa essa expressão excludente aplicada apenas a empresários: “classes produtoras”.

E os trabalhadores que eles querem manter na condição de escravos, por acaso não produzem?

UMA REVIRAVOLTA NA POLÍTICA SERGIPANA?

Quem foi ano passado à solenidade na Assembleia, em que foi devolvido simbolicamente o mandato ao deputado Chico de Miguel, cassado pelo regime militar, observou que não existiam insuperáveis inimizades entre o presidente Luciano Bispo e a família do homenageado, principalmente os filhos, a deputada Maria Mendonça e o ex-deputado José Teles Mendonça.

Luciano falou sobre o homenageado, referiu-se à sua incontestável liderança, lembrando que sempre foi adversário político de Chico de Miguel. Ali, houve uma cena construtiva de urbanidade desfazendo radicalismos.

Se a eventual aproximação numa eleição antecipada para a presidência da Câmara de Vereadores, que interessava aos dois, não for apenas um episódio fortuito e pontual, o cenário politico do terceiro maior colégio eleitoral do estado poderá sofrer abalos e mudanças de rumo. O episódio bem recente causou irritação no prefeito Francisquinho, que se considerou traído e por isso derrotado.

Comentários e insinuações sobre possíveis arranhões no relacionamento entre o prefeito Valmir de Francisquinho e os irmãos Mendonça, circulam há algum tempo. Para ampliar ainda mais as especulações, a deputada Maria Mendonça, votou a favor do empréstimo que será contratado pelo governo com a Caixa Econômica. Tanto Maria, como um outro oposicionista Luciano Pimentel, que segue a liderança do senador Valadares, e também votou a favor alegaram que por questões politicas não iriam prejudicar os seus municípios.

OS CHINESES E A MULHER QUE VENDE PRIMAVERAS

Um escritor e sábio chinês Lin Yutang deixou a China antes da revolução comunista, tornou-se cosmopolita, professor disputado pelas grande Universidades e seus livros fizeram muito sucesso. Nos anos cinquenta Lin Yutang estava entre os cinco autores estrangeiros mais vendidos no Brasil. Mas isso não quer dizer grande coisa, porque J. G. de Araújo Jorge também deles fazia parte.

Ninguém melhor do que ele soube tão bem definir as características do seu povo. Com a visão posta desde o estrangeiro, ele analisava a China, o momento pré-revolucionário que atravessava o país ocupado pelos japoneses e lutando para expulsá-los. Aludindo a aquele momento de resistência Yutang escreveu: “A destruição das escolas das universidades das instituições culturais chinesas pelos japoneses não poderia ser mais fisicamente completa. Seria forçada, contudo, a afirmação de que a cultura chinesa moderna está destruída. Os professores e os estudantes de uma universidade demolida em Chekiang, marcharam mil milhas por terra do Sueste e reabriram as suas aulas em Yunnan no Sudoeste. Não é possível avaliar os sucessos do campo de batalha e o desfecho eventual das presentes hostilidades sino-japonesas sem um conhecimento mais íntimo da emergente nação chinesa que nunca foi uma nação, mas só uma civilização”.

Ao contrário da China, o Brasil é efetivamente uma Nação, que tenta há muito tempo construir uma civilização, mas agora faz uma volta atrás e descamba pela ladeira da incivilidade.

Do livro Com Amor e Ironia, de Lin Yutang um outro  trecho: “É impossível discutir o futuro da China sem saber o significado que damos ao nome dessa vasta entidade racial e nacional, e a tarefa torna-se difícil porque a China se está transformando rapidamente, libertando-se do seu longo passado, e contem em si mesma alguns surpreendentes elementos ou forças de vitalidade que não são percebidos pelo olhar da pessoa que apenas observa a superfície”.

Essas “forças de vitalidade” observadas por Lin Yutang são exatamente aquelas características que fazem a diferença entre as nações. A virtude do político, em cada país, seria identificar e por em marcha essa vitalidade construtiva que fez a China sair da pobreza extrema, para tornar-se a segunda potencia econômica, projetando em vinte e cinco anos ultrapassar os Estados Unidos.

A China resistiu, derrotou o Japão, mas no momento da vitória estava dividida: de um lado o exército revolucionário de Mao Tse Tung  apoiado pela União Soviética  que decidira  a  guerra contra o nazi-fascismo e começava a transformar em satélites os países da Europa do leste, do outro, apoiado pelos Estados Unidos que saíra da guerra como   potencia mundial hegemônica, estavam os exércitos do general Chiang Kai-shek. Derrotados, deixaram a China, atravessaram o estreito e foram criar na ilha de Taiwan, a China Nacionalista, que correspondia a menos de 5% da parte continental, maior do que o Brasil, e onde viviam 800 milhões de habitantes. Surgia um outro imenso país comunista e o bloco orientado pela ideologia marxista hospedava mais de um terço da população mundial. A Guerra Fria chegava ao clímax, americanos e russos se olhando de perto em Berlim dividida, numa Alemanha retalhada, tinham o dedo no gatilho.

A China, embora gigantesca, saiu do foco das tensões, então voltadas para a Europa Central, melhor dizendo, para a Berlim dividida e isolada no meio da Alemanha comunista. Ulbricht, o ditador da Alemanha Oriental títere de Moscou, começava a construir o Muro, e Kruschev espantava o mundo detonando uma bomba de hidrogênio de 50 megatons, anunciando      uma ainda mais poderosa, de cem megatons (equivale a cem milhões de toneladas de dinamite) mas que não iria testá-la, porque quebraria todas as vidraças do gigantesco país.

A China comunista aliada de Moscou foi isolada pelos Estados Unidos que impuseram aos seus aliados a mesma atitude. A China reconhecida, seria apenas a ilha do general Chiang. Claro, o Brasil sempre submisso, adotou a mesma prática, que se revelou idiota, quando o presidente Nixon surpreendeu o mundo indo à China e acertando os ponteiros para bons negócios com o camarada Mao.

A China queria roubar de Moscou à liderança do movimento comunista internacional e radicalizou defendendo as revoluções armadas para derrubarem o capitalismo por todo o mundo. Depois do tumulto sangrento que foi a transição do legado coletivista de Mao para   um modelo onde entrariam as iniciativas individuais no processo econômico, chegou-se a Deng Xiao Ping,  que começou a abertura da economia ,e o regime, de comunista, só mantem agora  a estrutura centralizada e poderosa do governo.

Os chineses têm a rara capacidade de pintar com alguma sutileza até as barbaridades que o regime comete. A Revolução Cultural, um período de absoluto descontrole totalitário cumpria suas etapas de violência associando-as ao nome de flores e às estações.

No Brasil a China causou alguns involuntários transtornos. Jânio Quadros num dos seus momentos de lucidez entre um porre e outro disse, defendendo a abertura de relações com Pequim, que a ilha denominada China Nacionalista, ou Taiwan, não passava de um porta aviões americano ancorado no Mar Amarelo.

João Goulart, o vice, estava na China, numa missão comercial, quando Jânio renunciou, e generais golpistas tentaram por isso impedir a posse e formaram uma ridícula Junta Militar.

O presidente Geisel que teve peito para fazer política externa independente, quebrou a sujeição das Forças Armadas brasileiras ao Pentágono, rompeu o acordo militar que nos humilhava, e estabeleceu relações comerciais com a China.

O general Silvio Frota Ministro do Exército exonerado por Geisel, escreveu depois sempre raivoso no seu livro Ideais Traídos, na sequencia de bobagens que amontoou, que Geisel, ao negociar com a China, abria caminho para a penetração comunista no Brasil. Ainda permaneciam  presos, e foram libertados, os chineses que integravam uma Missão Comercial que estava no Brasil quando ocorreu o golpe de 1964, foram acusados  de crimes contra a segurança nacional e sofreram torturas.

Há 40 anos China e Brasil tinham um Produto Interno Bruto equivalente. Hoje, a China é a segunda economia do mundo, nós, numa oitava posição.

O que teria motivado essa estagnação brasileira e essa disparada da China?

Dirão logo: falta educação. Falta, sem dúvidas, mas não é só isso. Precisamos buscar em nós mesmos aquela vitalidade chinesa de que fala Lin Yutang. Nós a temos, não há dúvidas, por isso conseguimos formar uma Nação, até hoje íntegra e unida, não renunciamos à liberdade da democracia, não cometemos genocídios, nem assassinatos em massa, o que nos diferencia da China, nem temos prisioneiros políticos, o que também assinala diferenças, e o nosso “jeitinho”, é, sem dúvidas, superior às habilidades chinesas, inclusive no empreendedorismo.

Mas infelizmente temos uma quadrilha instalada no poder. Na China esse tipo de gente é fuzilada, e as famílias recebem a conta para pagar as balas que foram disparadas. Já fuzilaram mais de 50 mil, e ainda não resolveram o problema, o que demonstra a ineficácia do método.

Mas há sutilezas entre os chineses das quais talvez nunca consigamos chegar perto.

Sabem o que significa Bai-shun-fu? Traduzindo literalmente, o significado seria puta, prostituta, rameira, mulher de vida fácil, ou de vida livre, marafona, meretriz, piniqueira. Para os chineses, contudo, Bai-shun-fu significa: mulher que vende primavera.

ENTRE MACONDO E O PALÁCIO DO JABURÚ

Macondo é topônimo que não está nos mapas. Lugar fictício, um mundo em pesadelo criado pela imaginação prodigiosa do escritor colombiano Gabriel Garcia Marques. Macondo tornou-se palco das fabulações que passeiam pelo inverossímil, inaugurando um novo estilo literário que seria definido como realismo fantástico. Para algo assim tão inusitado ou além do usual, o escritor utiliza-se de uma narrativa abrigando a ficção superlativa do mágico e do real.  Recorre, longe de ser barroco, a uma multiplicidade de figuras de linguagem, e até dispensa a pontuação para alongar-se em textos imensos, e que não se tornam nem por isso fastidiosos.

Textos assim, como em linhas abaixo tentamos imitá-los, embora de forma medíocre, reconhecemos,  e ainda   recomendando aos leitores, se ainda não o fizeram, que conheçam  o estilo de Gabo, lendo inicialmente Cem Anos de Solidão, Ninguém Escreve ao Coronel.

A imitação:

Em Macondo desde tempos imemoriais molha uma chuva que encharca as pessoas as terras os ares e o tempo se espicha com a inércia de relógios emperrados muros cobertos de musgo  protegem palácios sombrios de um presidente sem idade e sem rosto e  suas  botas ressoam passos trôpegos sobre a mistura de selva e pedras disformes  por onde se espicham os abraços de  tentáculos imensos os galhos e raízes de milenares árvores carunchosas e entre eles passeiam gentes e lagartos pachorrentos  na dolência de um crepúsculo alongado invadindo os dias enquanto o presidente trôpego tateia pelas  paredes untuosas de um lodo antigo e nelas tenta se agarrar.

Assim mesmo, e sem nenhuma vírgula, nesta imitação tosca que fizemos.

Mas aqui não vamos tratar de literatura, muito menos de gramática, todavia, o realismo fantástico não poderia deixar de ser  lembrado nesses inacreditáveis dias que atravessamos, quando a Macondo fictícia  e o Palácio do Jaburú, real, se referenciam como palcos idênticos de uma forma de degradação e apodrecimento que corrói o ambiente e as pessoas que nele vivem.

Macondo já deu um premio Nobel ao colombiano Garcia Marques. Se vivo fosse e estivesse no Brasil, ele, sem precisar recorrer a textos engenhosamente elaborados, apenas com o tom simples e coloquial que usou em um outro livro seu, Memorias de Minhas Putas Tristes, certamente não colocaria as suas personagens tristonhas como habitantes do Palácio do Jaburú, porque, homem gentil, não iria ofendê-las.

DOS ORIXÁS DO TORORÓ AOS BONECOS DO RIO SERGIPE

À semelhança do que existe no Dique de Tororó em Salvador, aquelas esculturas gigantes dos orixás, aqui em Aracaju também teremos um espaço, digamos assim, aquático, posto que  sobre as águas do rio Sergipe, em frente ao Museu da Nossa Gente. Da balaustrada da Ivo do Prado, a obra, uma concepção arquitetônica de Ezío Déda avança, ocupa a margem, e os bonecos gigantes representando figuras do folclore sergipano lá estarão.

Em certos momentos vão parecer flutuando sobre as águas. Ézio é um arquiteto artista, nem todos os arquitetos o são, e esbanja criatividade, às vezes ousadias. Dirão que é uma imitação ou quase duplicata do que fizeram os baianos. Imitar o que é bom e faz sucesso, é inteligente, mas duplicata absolutamente o projeto sergipano não é.

No caso de Tororó, existem apenas os orixás dentro da água, aqui, haverá um espaço para lazer, contemplação abrindo-se aos horizontes das águas espraiadas do rio, e à noite uma iluminação inovadora. As pessoas ali terão uma outra perspectiva de vista abrangente sobre um ângulo ainda indevassado de Aracaju.

Agrega-se à cidade um espaço com potencial turístico, e tudo o que se faz nesse sentido, a longo prazo também agrega valor.

O Instituto BANESE, que tem feito milagres com a escassez de recursos disponíveis, custeará o projeto.

O MONUMENTO A DÉDA EM LAGARTO

O economista e funcionário da Caixa Econômica Oliveira Junior, era um dos maiores amigos de Marcelo Déda. No governo, ocupou os cargos de Secretário da Casa Civil, do Planejamento, e durante curto período foi Secretário da Fazenda, hoje, é assessor do governo para assuntos de energia. Participou de todas as negociações para a vinda a Sergipe da usina termoelétrica agora em construção na Barra dos Coqueiros. Quando Déda morreu, ele, a viúva Eliane Aquino, irmãos, e outros familiares criaram o Instituto Marcelo Déda.

Entre outras atividades na área cultural, o Instituto concentra-se agora na possibilidade de conclusão do Memorial Marcelo Déda no Parque Augusto Franco – Sementeira - e de um monumento dele em Lagarto. Na última sexta-feira Oliveira Junior esteve com o prefeito de Lagarto Valmir Monteiro, que foi solicito, prometendo autorizar e reservar uma área. A construção correrá por conta do Instituto. Oliveira quer agora reiniciar contatos para a conclusão do Memorial de Aracaju, que foi iniciado por João Alves e depois paralisado.

O prefeito Edvaldo Nogueira vai tratar do assunto a partir do próximo ano. Há um fato interessante em Aracaju: as estátuas de personalidades sergipanas colocadas na Orla da Atalaia desde quando foi construída por João Alves, são objeto de grande atração turística, as pessoas tiram fotos ao lado dos personagens, enquanto  escolas  que organizam visitas dos seus alunos, elaboram também trabalhos de classe sobre a vida dos que ali estão representados.

UM SHOPPING EM ITABAIANA

O Shopping em Itabaiana recentemente inaugurado foi o palco para a realização da 4º Bienal do Livro. O Shopping no ultimo dia da Bienal, tinha no imenso estacionamento mais de 600 veículos, e no interior o movimento era intenso. Parece que o Shopping dos irmãos Peixoto, tem o mesmo dinamismo da Feira de Itabaiana, a maior do interior sergipano. Um fato a registrar: o apoio, a participação do empresário Messias Peixoto em todas as etapas da organização da Bienal. Ele, que integra a Academia de Letras Itabaianense, participou diretamente de todos os debates, de todas as palestras, permanecendo durante a Bienal quase todo tempo no local do evento. Juntar empreendedorismo com cultura é sem dúvidas um virtuoso e promissor casamento.

Entre as lojas do Shopping, uma, que parece no gênero ser iniciativa pioneira em Shoppings de Sergipe. Trata-se da Zannix Brasil, um Escritório Virtual, que presta entre outros serviços: contabilidade empresarial, promoção de cursos e reuniões, oferece salas para reuniões, com salas para videoconferência e auditório, faz ainda administração de condomínios e design estratégico, além de locar equipamentos eletrônicos.

OS MAÇONS E JACKSON DISCUTEM  UM PROJETO

Um grupo de Maçons da Loja simbólica Cotinguiba esteve com o governador Jackson Barreto, e com ele trocou ideias sobre um projeto de construção de um templo maçônico, e uma melhor articulação da entidade com o governo do estado, visando parcerias nas áreas da educação, meio ambiente, saúde ou filantropia.

Foi proposta inclusive, a transferência da responsabilidade pela administração de um hospital público à maçonaria, sem ônus algum para o estado. O governador ficou de estudar uma forma de apoio para a construção do templo, e sugeriu que nele funcionasse ao lado, um organismo para cuidar de pessoas vítimas das drogas e também o planejamento de ações.

Os maçons aceitaram a ideia e ficaram de apresentar um projeto ao governo. Na ocasião Jackson Barreto anunciou que o governo irá conceder a maior condecoração de Sergipe ao advogado, professor  ex-Juiz Eleitoral

José Francisco da Rocha, Rochinha, que aos 91 anos é membro ativo da Loja Cotinguiba e o mais antigo, com 65 anos ininterruptos de atividade maçônica. A Loja Cotinguiba é responsável pela administração do Asilo Rio Branco, desde a sua fundação.

Participaram da comissão os maçons José Francisco da Rocha, o Grão Mestre Lourival Mariano, o adjunto Clairton Santana, José Renivaldo Benigno, Orlando Carvalho de Mendonça, Genaldo Moura do Amaral, e o escrevinhador.

DA FESTA DO CAMINHÃO A 4 ª BIENAL DO LIVRO

Itabaiana, capital brasileira do caminhão, que faz anualmente a grande festa de todos os caminhoneiros, terra de gente vocacionada para o comércio, o empreendedorismo de um modo geral, é também já uma referencia na vida cultural.

Isso se deve à Bienal do Livro que completou no mês de outubro a sua oitava etapa. A 4º Bienal do Livro de Itabaiana revelou cifras recordes de vendas, de visitantes, de escritores presentes. Era tudo e muito mais do que sonharam os seus organizadores. Entre eles se incluem os sempre incansáveis, Antônio Saracura e Domingos Pascoal, os integrantes da Academia de Letras de Itabaiana e muita, muita  gente  mesmo, jovem e entusiasmada.

Autografavam seus livros nos estandes, o desembargador Edson Ulisses, a escritora sergipana e carioca Tina Correia, que se projeta nacionalmente com Essa Menina, seu primeiro livro.  Lá fez palestra o marido dela, Ancelmo  Gois, que é, nada mais nada menos o jornalista mais lido do Brasil. Sua coluna é publicada em dezenas de jornais pelo Brasil, tendo como matriz O Globo, indispensável para quem busca informação em estilo leve, sem dispensar o bom humor sempre, a síntese, e a ausência de todos os ranços.

Albano Franco, o ex-governador, autografava mais um livro, dessa vez coletânea de artigos, tratando de temas atuais da politica e economia, mas, reservando um espaço para o afeto e a saudade quando fala sobre o avô materno o Dr. Augusto Cezar Leite.

Antônio FJ Saracura estreava em livro, um gênero que há muito tempo cultiva e ao qual se dedica com a paixão telúrica de todo nordestino: o cordel. E através dos versos tão característicos da região ele se expressa descrevendo pessoas e fatos de Itabaiana. O livro é Os Curadores, de cobra e de gente.

João Carlos Maynard, estatístico aposentado e pescador em plena lida de mais olhar o rio, o mangue, as marés, do que propriamente fisgar, andava pela Bienal e também autografava o primeiro livro que recebia o aval pleno do irmão, comunicador e curador de tudo o que é cultura ou com ela aparentado, Pascoal ou Pascoalzinho Maynard, como todos os que lhe querem bem, e são incontáveis, o chamam. Segredo, é o nome do livro. Contem poesias, versos, mas o destaque maior fica para uma experiência mesclando prosa e poesia, que recebeu o nome de Radiola, e começa o livro.

Uma tobiense cheia de entusiasmos e amor com a sua terra adotada, e que a adotou, porque nascida em Itororó Bahia, e é cidadã de Tobias Barreto, Izabel Cristina Rodrigues Andrade. Ela também autografava livro na Bienal. Todo o acontecido em Tobias Barreto nas três últimas décadas, está lá no livro Festejos e Tradições, de Campos-Tobias Barreto, que é o segundo da escritora. Além de livros houve palestras, debates, e isso deu mais vida à festa literária.

Sobre o intelectual, historiador, jornalista, escritor, filósofo, Luiz Antônio Barreto, propagador da cultura, desbravador da Historia sergipana, falaram o seu irmão desembargador Artêmio Barreto, o professor Jorge Carvalho e o artista Neu Fontes. Fez-se, com a participação emocionada da plateia, um resumo da vida de Luiz, produtivamente engenhosa e devotamente voltada para o conhecimento e a sua difusão.

Luiz foi também um educador que quando secretário da educação, transformou, modernizou, alcançou improváveis metas, um aspecto ressaltado aliás com a autoridade de um professor doutor em educação na Alemanha, o secretário Jorge Carvalho. Artêmio, um irmão pai, revelou, sem ressentimentos, porque isso não cabe na sua alma que é grande, as agruras, as injustiças que sofreu Luiz Antônio e que certamente lhe abreviaram a existência.

Uma revelação de Artêmio que bem pode dar a dimensão do trauma. Luiz nos últimos anos da vida, depois do impacto das acusações nunca mais conseguiu chegar ao sono na posição horizontal. Dormia sentado numa poltrona, mas dizia que isso nunca o impediu de sonhar.

 Sobre literatura falaram o escrevinhador e o conselheiro Clóvis Barbosa. Clóvis, Intelectual de alargadas leituras, instigou a plateia ao debate, e mais uma vez revelou a sua paixão pela vida cultural parisiense nos anos que mediaram entre a Primeira e a Segunda Grande Guerra. (1914 -1918) e (1939-1945 - respectivamente).

A Bienal do Livro de Itabaiana foi registrada no Senado com destaque especial pelo senador Eduardo Amorim.

O BOI BRASILEIRO E A VAQUINHA SERGIPANA

A EMBRAPA saindo à frente das pesquisas inovadoras que geram tecnologias e resultados para o agronegócio e a agricultura familiar no país, está apresentando agora a novidade de uma raça de bovino desenvolvida nos centros experimentais da empresa. O trabalho foi iniciado há quase sete anos e o resultado é o Boi Tropical. É bicho resistente, se dá bem nas áreas mais inóspitas do país, como na caatinga do semiárido.

Afinal, ele é o resultado de cruzamentos contínuos entres bois pés-duros, o curraleiro, que ainda resiste em algumas partes do nordeste, com vacas Nelore, raça indiana que hoje forma mais de setenta por cento do rebanho de corte brasileiro. Diz um informe técnico da EMBRAPA: “O novo bovino criado em pastagens nativas impressiona pelo desempenho genético superior. É mais precoce do que o nelore, vai mais cedo para o abate, dois anos, e pesando 45 quilos a mais, nas mesmas condições de pastagem”.

O pesquisador Geraldo Magela Côrtes Carvalho que coordena o projeto assegura que os resultados obtidos apontam uma lucratividade maior para o criador o industrial e o consumidor, pela redução de custos e a qualidade da carne oferecida.

Já a vaquinha sergipana é projeto na área da pecuária leiteira que será lançado na Exposição Agropecuária de Nossa Senhora da Glória pelo governador Jackson Barreto, nesse começo de novembro.

Coordenado pelo vice Belivaldo Chagas o projeto envolveu a Secretaria da Agricultura, a ENDAGRO e o BANESE. O objetivo é inseminar vacas leiteiras de pequenos produtores, utilizando-se sêmen de alta qualidade genética. Se mantido ao longo de cinco anos o projeto melhorará a qualidade do rebanho leiteiro, propiciando um acréscimo na produção do leite entre 20 a 30 por cento. O Instituto Banese fornecerá os insumos e equipamentos necessários e o BANESE ampliará o projeto até pecuaristas de maior capacidade a eles oferecendo financiamento para que iniciem a reprodução através da clonagem. É a técnica mais avançada na área da pecuária leiteira e de corte, para ampliar e qualificar o rebanho.

NO FRONT CARIOCA A GUERRA, NO ACRE O PEDIDO DE SOCORRO

Em Rio Branco no Acre, a reunião de governadores convocada pelo governador Tião Viana para discutirem problemas de segurança, entre eles a deficiência da fiscalização nas fronteiras, acabou sem resultados concretos.

Segundo jornalistas que lá estavam, houve um sentimento de frustração entre os vinte governadores presentes ou representados, porque o governo federal nem levou propostas nem tratou com objetividade as que foram apresentadas pelos presentes.

Do governo federal estavam os ministros da Defesa, o atrapalhado Raul Jungman, da Justiça Torquato Jardim, no cargo apenas para fazer articulações em defesa do presidente, e o da Segurança Institucional, general Etchegoyen, que parece completamente desanimado.

Várias ideias entraram em pauta, os presentes se manifestaram, mas de concreto houve a proposta do governador de São Paulo Geraldo Alckimin, e outra apresentada conjuntamente por governadores entre eles Jackson Barreto, referente à criação de um fundo  de segurança, algo semelhante ao que existe no SUS.

Os representantes do governo federal apenas anotaram as propostas sem nada garantirem. E também sem nada sugerir. Enquanto a reunião se realizava no Acre, mais dois policiais morriam assassinados por bandidos no Rio de Janeiro e os tiroteios continuavam nas favelas, indicando um clima de deterioração e descontrole que envolve também as forças armadas, levadas inoportuna e apressadamente por Temmer, que queria fazer marketing pessoal com a tragédia carioca.

A proposta de Alckimin, apoiada por todos os governadores, parece ser o caminho para que o governo federal assuma o protagonismo que se espera dele, de forma planejada e sem açodamentos inúteis. Trata-se da criação de uma Agência Central de Inteligência para exercer atividades  e planejar as ações em todo o país, inclusive abordando a leniência registrada na Justiça em relação a bandidos, e a criação de leis adequadas ao momento de excepcionalidade que se vive.

O comandante da Polícia Militar do Rio depois de registrar a centésima décima quarta morte de policiais por bandidos este ano, disse que os assassinos teriam de ser tratados como terroristas, o que equivale mais ou menos ao fuzilamento sumário de quem for encontrado com armas na mão, ou reagindo aos órgãos de segurança.

Acontece que para fazer isso é preciso ter poder de fogo suficiente para dobrar a bandidagem ousada, e isso não existe, os policiais cariocas permanecem numa área de guerra até quando estão nas suas casas, porque o Rio está mesmo dominado pelas facções de traficantes e das milícias.

Enquanto isso, o governo, “hospitalizado” para curar a ressaca da monumental farra de compra e venda de deputados, fica felicíssimo porque a economia estaria se recuperando, algo que até agora só é sentido por uma parte do mercado, principalmente na área do cassino financeiro.

(Textos de Samarone que reproduzimos e que acrescentam qualidade ao nosso Blog):

SANTO DE CASA

A feira de livros de Itabaiana foi um sucesso de público e vendas. Com um detalhe: um escritor Itabaianense de sucesso, como Carlos Mendonça, vendeu 713 livros durante a feira; uma escritora conhecida nacionalmente, como Tina Correia, esposa do consagrado jornalista Ancelmo Gois, vendeu apenas 06 livros. Em Itabaiana, quem faz o milagre é o santo da casa. Quem conhece a tradição cultural de Itabaiana não tomou como surpresa.

Não estou comparando os escritores. Carlos Mendonça e Tina Correia são talentosos, cada um a seu modo, as razões são outras. A minha cisma é por que o livro de Tina Correia, “Essa menina – De Paris a Paripiranga”, cheio de poesia e erudição, um livro muito bom, bem escrito e bem editado, não emplacou no mercado Itabaianense de letras?

A tradição bairrista de Itabaiana vem de longe. Conta-se que o mestre Orpílio alfaiate afirmava sem hesitação: - nada do que acontecer no outro lado da Serra de Itabaiana me interessa. Depois explicava: - ninguém de fora nunca me encomendou um terno. A lógica do mestre Orpílio continua viva.

Recentemente um palestrante no Rotary de Itabaiana começou a louvar Sílvio Romero. Sílvio prá cá, Romero prá lá, e os ceboleiros entusiasmados. A certa altura, um desconfiado fez a pergunta básica: - venha cá, esse Sílvio Romero é de onde? O palestrante de pronto: - de Lagarto. Aquele “hummmm” de desaprovação entoou pela sala... De Lagarto? Foi aquela decepção.

Portanto, Tina Correia, não fique triste. Nem vende você, nem Machado de Assis, nem Carlos Drummond, nem a mãe de “calor de figo”.

Antônio Samarone.

UM ESCRITOR ANALFABETO

A indústria editorial em Sergipe passa por um surto de prosperidade. Nunca se publicou tantos livros, mais de duzentos nos últimos noventa dias. O poeta Amaral Cavalcante já pediu que não lhe convidem mais para lançamentos. O inusitado foi o lançamento do primeiro livro de Zé de Sobó, intitulado “Sinais dos Tempo”. O novo escritor, José da Silva Santos (Zé de Sobó), 27 anos, natural do Batula, nunca pôs os pés numa escola. É analfabeto de pai e mãe. O mundo já conhecia compositores surdos (Beethoven); cantores gagos (Nelson Gonçalves); escultores sem braços (Aleijadinho em Ouro Preto), mas escritor analfabeto esse é o primeiro. Eita povo inteligente.

Zé de Sobó já foi convidado para o programa do Bial, na Globo. Os departamentos de letras das universidades entraram em pânico: pode ser o fim das letras. Um doutor em informática simplificou: bobagem, um bom aplicativo transforma a fala em escrita, e ainda faz a correção ortográfica. Os espíritas acreditam que Zé de Sobó é médium e está apenas psicografando. Se o sujeito que recebe o dr. Fritz pode curar; por que o que incorpora um escritor não pode escrever? Já um amigo jornalista foi irônico: grande novidade, o que mais existe é escritor analfabeto. Eu não sei explicar.

A verdade é que Zé de Sobó adorou a novidade e já pensa em se tornar um escritor profissional. Finalmente, surgiu uma oportunidade de deixar o cabo da enxada.

Antonio Samarone.

(Publicamos aqui no Blog, o texto de Eduardo Almeida, filho do Cmte. Walmir Almeida).

DIA DO AVIADOR - A AVIAÇÃO SERGIPANA E O COMANDANTE WALMIR ALMEIDA

Nas comemorações do Dia do Aviador e da Semana da Asa, um nome não pode ser esquecido em Sergipe, o do Comandante Walmir Lopes de Almeida.

Sergipano de Riachão do Dantas, Walmir migrou para Aracaju ainda criança, aos 5 anos de idade com a família. Despertado pelo desejo de voar, o menino Walmir acordava ainda de madrugada e, sozinho, escondido da mãe, caminhando em completa escuridão, ia da Rua Estância, onde residia, até o Campo de Aviação, o atualmente extinto Aeroclube de Sergipe, vencendo morros, areais, pistas de lama e mato, vestindo apenas um short, devido às suas poucas condições e lá, encostava na cerca e deleitava-se observando os aviões de guerra decolarem e pousarem em seu ballet aéreo que tanto o encantava. Foi caso de amor à primeira vista e de quem nunca mais se separou, fazendo disso uma relação estável e apaixonada que perduraria até seus últimos dias.

“...Ave! Sobe ao ar, grande bólido alado, linda garça voadora...”

O Campo de Aviação, denominado de Campo de Anipum, era o antigo Aeroporto de Sergipe, onde as pessoas embarcavam para suas viagens a outros estados do Brasil, nos tempos áureos do glamour e do romantismo da aviação, a bordo invariavelmente dos Douglas DC-3, um dos ícones da aviação que interligou o país pelo ar. Depois veio a se tornar Aeroclube de Sergipe.

De tanto ficar na cêrca, certa feita alguém chamou aquele menino para empurar o avião para dentro do hangar e aí pronto(!), tocando a máquina, despertou definitivamente no menino o vírus das alturas que, depois de infectado, não há mais cura. Em outra ocasião, um dos pilotos o chamou para dar um vôo e lá se foi o menino Walmir, já com pose de aviador ao encontro do que sua alma clamava, tornando presença constante em seus sonhos, dormindo ou acordado, aquele momento mágico.

Tornou-se arrimo de família aos 13 anos de idade com a perda do Pai e dividia seu tempo entre o trabalho, a família e a aviação. Vindo a trabalhar no Palácio do Governo como fotógrafo oficial, obteve a ajuda do Interventor do estado, General Maynard, para concluir seu curso de piloto.

Desde então fez do campo de aviação a sua segunda morada ou talvez, a primeira. Lutou bastante por aquela instituição, se fez presente, ocupou cargos, entregou-se de corpo e alma, sem que houvesse reconhecimento por isso.

A aviação sergipana muito deve ao Comandante Walmir Almeida, pois, sempre comprometido com a aviação e com o próximo, sustentou durante 8 anos, às suas custas, todas as despesas do Aeroclube de Sergipe, em um período de crise, evitando assim seu fechamento e o encerramento das atividades aéreas no estado, sendo considerado um dos Patronos da Aviação Sergipana.

Foi proprietário da Concorde-Distribuidora de Combustíveis de Aviação, único posto do estado, à época, de revenda de gasolina para aeronaves. Venceu competições aéreas e ostenta até hoje o título de maior proprietário sergipano de aeronaves particulares, tendo possuído 13 aviões próprios, além de dedicar sua vida à aviação. Foi o piloto sergipano com maior número de horas de vôo. Visitou todos os países do mundo e um dos feitos de Walmir foi realizar a rota do Correio Aéreo Nacional pela Cordilheira dos Andes, sozinho, em seu próprio avião, em um vôo solitário e perigoso.

Como fotógrafo e cinegrafista aéreo, foi considerado pelos Governadores Leandro Maciel e Lourival Batista como o “Mestre das Lentes”, tendo este útilmo citado “...foram as imagens aéreas mais lindas do nosso estado que já tive o prazer de contemplar!”. Walmir registrou fatos sociais e políticos da época durante vários governos, também do alto, a bordo do seu Cessna que pilotava com maestria, à exemplo das imagens aéreas da inauguração do Estádio Lourival Batista, o 'Batistão', que foram amplamente veiculadas nos jornais do sul do país, bem como em um documentário cinematográfico, realizado pela sua produtora Cine-Produções Atalaia, que tinha como contratado niguém menos que Cid Moreira, sobre a sêca no nordeste que foi exibido em todo o Brasil pelo Canal 100 e pela Ponte Cinematográfica Nacional, bem como em diversos países da Europa, à exemplo da Suécia, Itália, Alemanha, França, entre outros, com imagens aéreas do Rio São Francisco e de algumas cidades do nosso estado, levando ao conhecimento do Brasil e do mundo os problemas enfrentados e que gerou a sensibilização de governos desses países, conseguindo assim ajuda internacional para o combate ao mal que assolava o nosso sertão, sendo inclusive condecorado pessoalmente em Brasíllia pelo Presidente João Goulart por duas vezes.

Seu maior orgulho era ter ensinado seus filhos e seu neto, o "Cmte. Dudu", a voar, inserindo-os na aviação desde os 2 anos de idade, dando-lhes asas, ao invés de raízes, como ele costumava dizer. Foi revendedor de aviões Cessna em Sergipe. Iniciou o primeiro serviço de táxi-aéreo sergipano, utilizando suas aeronaves para transportar autoridades, enfermos e quem necessitasse, entre eles o Ministro Mário Andreazza, Amyr Klink-o navegador solitário, entre outros,  chegando inclusive a pousar nas areias da Praia 13 de julho e na Colônia 13, em Lagarto, contratado por Dom José Vicente Távora para uma inauguração no povoado. Nessa passagem com D. Távora, Walmir, sempre espirituoso e com um tirocínio que lhe era peculiar, foi questionado pelo Padre se eles conseguiriam pousar lá, visto que naquele tempo as estradas eram intransitáveis e Walmir então respondeu rapidamente:

Padre, não se preoucupe, porque lá em cima a gente não fica não!”.

Walmir era um daqueles românticos da aviação, que tinha o voar no sangue e reconhecia aeronaves pelo cantar dos motores e pelo perfume deixado em sua passagem, inebriando-se com isso. Conversas sobre aviação invariavelmente duravam horas, sem que se percebesse a passagem do tempo, pois os ouvintes deleitavam-se em suas histórias e 'causos' da sua experiência de vida, ávidos por aprender a essência dos 'velhas águias'. Todos os anos participava, por força de uma promessa, da Procissão de Bom Jesus dos Navegantes, efeuando evoluções com suas aeronave, tornando-se uma tradição aquele aviador junto à procissão, e elogiado pelo Governador Leandro Maciel, que disse ser “as acrobacias aéreas mais bonitas que já presenciei. Esse rapaz nasceu pra isso e é um talento legitimamente nosso. Dá-nos orgulho!”

Realizava gratuitamente “vôos de coqueluche”, após o encerramento dessa atividade pela FAB em nosso estado e que era um efetivo remédio para os acometidos dessa enfermidade. Mesmo tendo perdido uma de suas aeronaves em um acidente em Vitória, no Espírito Santo, no qual ele comandou uma aterrissagem forçada em um morro e a aeronave logo após explodiu, Walmir, apesar do susto, não abandonou a aviação, ao contrário, narrava em tom jocoso o fato aos alunos. Devido à sua reconhecida e notória experiência na área, foi o único sergipano autorizado pelo Comando da Força Aérea Brasileira a trasladar um avião doado pelo Governo Federal para o ensino de alunos, à noite e sem que a aeronave possuísse equipamentos para vôo noturno! Foi homenageado pela Força Aérea Brasileira no Aeroporto Santa Maria, na Semana da Asa. Membro da FAA-Federal Aircraft Association, foi homenageado na maior feira de aviação do mundo, a Air Venture, em Oshkosh, nos Estados Unidos, a qual visitou por vários anos. Pioneiro na revenda de aeromodelos em Sergipe, deu inicio à modalidade no estado. Foi também capa da maior e mais respeitada publicação mundial sobre aviação, a revista FLYING.

Quando os aviões do Aeroclube se encontravam parados por manutenção ou falta de recursos, Walmir empregava seus aviões gratuitamente para o ensino dos alunos, sempre evitando que a aviação fosse interrompida em nosso estado. Apesar de ter perdido um de seus filhos, o Cmte. Walmir Jr., em um acidente aéreo, Walmir não abandonou a aviação, realizando um vôo solitário poucos dias após; um vôo em homenagem ao filho morto…

O mesmo conselho que dava aos seus filhos e neto, dava aos alunos. Quando algum deles  tinha medo de entrar em nuvens de chuva, ele dizia: “pois é para lá que nós vamos! Feche os olhos e nivele o avião, inclusive nas curvas, aí eu vou saber que você esta preparado. Limpe sua mente, faça de vocês dois um só. O bom avião é como o bom piloto, ele gosta de voar.”.

Um exemplo de homem, cidadão, trabalhador, vencedor em todas as áreas que atuou, fllho, irmão e Pai, infelizmente o espaço que dispomos é muito curto para falarmos de Walmir Lopes de Almeida e da sua extensa experiência de vida, tanto que seu filho, o Cmte.Eduardo ou "Carlinhos", como seu querido Pai o chamava, seu maior admirador, pré-lançou com o Pai ainda em vida, sua biografia, durante seu aniversário, na Maçonaria, no ano de 2010, intitulado "Meu Pai, o Comandante Walmir / A história que se tornou um livro, um livro que se tornará história" e o primeiro de uma série de volumes em literatura de cordel que fará sobre a vida do seu querido Pai.

Todos os anos, o Alto Comando do Ministério da Aeronáutica envia mensagem oficial ao seu filho, parabenizando o Comandante Walmir pela data, agradecendo pela sua valorosa contribuição à aviação brasileira, eternizando-o.

Walmir é um legítimo exemplo dos abnegados, um palinuro da aviação que escreveu seu nome na história para a eternidade criando uma relação de amor puro entre homem e máquina que jamais se extinguiria, fazendo deles um só.

Walmir nos deixou em 2012 e, na sua última mensagem, disse: “Quando eu partir para meu último vôo, não se preocupem comigo, eu estarei bem, estarei nas nuvens, onde eu sempre quis estar. Lá é o meu lugar.”

Fica então a nossa homenagem a esse nosso orgulho legitimamente sergipano.

Câmbio final...

AVE, Walmir!

 

 

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