Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
O GENERAL MOURÃO E A BUSCA DA SENSATEZ
19/12/2019
O GENERAL MOURÃO E A BUSCA DA SENSATEZ

(O vice Mourão e os excessos do clã Bolsonaro)

Fica difícil encontrar um norte guiando-se pela bússola errática do presidente Bolsonaro. Há quem garanta que todas essas confusões, todas essas trapalhadas, todas essas odiosidades, fazem parte de um bem articulado xadrez, onde o xeque-mate seria a supremacia das ideias extremistas que ele absorveu de forma desconexa, a partir dos esquisitos ensinamentos do seu Rasputin, o seboso Olavo de Carvalho.

Para alcançar o objetivo que o presidente e os seus filhos teriam traçado, seria essencial, em primeiro lugar, manter o clima de polarização, alimentando o grupo radical que os acompanha, ao que parece, com fidelidade inabalável, sejam quais forem às circunstâncias.

Quem segue através da história recente a ascensão dos totalitarismos de direita e esquerda observa: em todo o trajeto a linha de frente é sempre ocupada pelos que fazem da própria crença uma obsessão fanática, e pela qual se dizem dispostos a dar à vida.

Na Marcha Sobre Roma, liderada por Mussolini, e que levou o fascismo ao poder, havia, como simploriamente se diz: “todo tipo de gente”.

Marchavam intelectuais enfatiotados, burgueses rotundos, a soldadesca carente de soldo, até rufiões e criminosos de todos os matizes.

Para a ascensão de Hitler, ajudaram desde marechais e magnatas, até mendigos famintos, dividindo comida com cachorros, nas ruas empobrecidas de Berlim.

 Vindo da Suíça, onde se exilara, e atravessando a Alemanha no trem especial que o Kaiser Guilherme lhe permitiu que cruzasse a Alemanha, o revolucionário Vladimir Lenin, ao desembarcar na Estação Finlândia, em São Petersburgo, começou a fazer muito mais do que esperavam os alemães, que seria apenas estimular a deserção no exército russo inimigo.

 Sob o lema “pão, terra, liberdade”, Lênin iniciou a revolução comunista, provocando a deserção nos exércitos, a rebelião na Marinha, e no Palácio de Inverno instalou os “comissários do povo”, que criaram o poder dos sovietes.  Em pouco tempo, coletivizaram todos os meios de produção. Fuzilaram o Tzar, a Tzarina e seus filhos, assim, simbolizaram tragicamente o fim dos aristocratas, e anunciaram a ditadura do proletariado.

Para que esses objetivos de poder total sejam alcançados, é preciso que haja o colapso da razão, e o despojamento de todos os sentimentos que, em última análise, representam a própria dignidade humana. Talvez, estejamos a fazer comparações  desproporcionais, e é possível que sim, mas, há no Brasil de hoje um cenário de tendências autoritárias e fanatismos que assustam.

Os séculos das revoluções já ficaram para trás, hoje, essas experiencias tumultuárias de mudanças nos paradigmas da civilização, nas conquistas que o mundo moderno alcançou, nos fazem lembrar, com justificada preocupação, de excentricidades perigosas, tais como as carnificinas resultantes da nazificação da Alemanha, ou da “revolução cultural” chinesa.

Existe, no Planalto, um núcleo militar que, com todas as discrições possíveis, busca apaziguar as tensões criadas pelo clã, onde os filhos se fazem incendiários conscientes. Todavia, alguns integrantes desse núcleo, até generais, já foram defenestrados pelo presidente.

A economia começa a dar bons sinais, e entre os que não se contaminam pela absurda guerrilha ideológica, há o sentimento de que é preciso com urgência, conter o radicalismo, apaziguar os ânimos, dar um basta no discurso extremado, por fim ao desfile de sandices que podem fazer até a delicia de alguns, mas, prejudicam o  ambiente de negócios, afugentam investidores  estrangeiros, e inibem os nacionais  .

Um simples exemplo: Se, ao invés de atritar-se com a adolescente sueca Greta Thumberg e chamá-la desdenhosamente de “pirralha”, o presidente Bolsonaro a elogiasse pela preocupação com a causa ambiental, e lhe fizesse um elegante convite para que ela viesse percorrer a Amazônia, seguramente não teríamos sido alvo de chacota através do mundo.

Se ela é “pirralha” bem ou mal intencionada, isso não importa, o fato é que a “pirralha” foi desenhada   como uma precoce defensora de uma causa simpática, que é a  ambiental, enquanto ao Brasil só restaram  as críticas demolidoras.

Nesses episódios todos, tem sido providencial um personagem que transita com discrição, medindo as palavras, blindando-se com a sensatez, e vem conseguido reverter situações bastante complicadas, que nos trariam graves problemas.

No ultimo episodio da série de turbulências desnecessárias, o vice-presidente Hamilton Mourão, a figura que encarna o equilíbrio indispensável, recebeu emissários da Argentina que vieram agradecer a presença dele na posse do novo presidente, e pedir-lhe que tente aplainar o caminho, para que haja uma produtiva conversa entre Bolsonaro e Fernandez.

Essa conversa, sem dúvidas acontecerá, se mais não for, apenas, pelo pragmático reconhecimento, embora tardio, de que a Argentina é um nosso importante e estratégico parceiro comercial.

De que adiantariam então todos os tumultos anteriores?

Essa é uma pergunta que o bom senso recomendaria merecer resposta.

 

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