Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
QUEM VAI RESPONDER PELO PREJUÍZO DA “HIBERNAÇÃO”?
03/05/2019
QUEM VAI RESPONDER PELO PREJUÍZO DA “HIBERNAÇÃO”?

Bastaria encontrar-se com o bom senso, e ninguém o procurou, então, ainda no governo Temer resolveram, autoritariamente na PETROBRAS, desativar as fábricas de amônia e ureia, as FAFENs, em Sergipe e Bahia. Para disfarçar a decisão arbitrária e absurda buscaram um nome, ou um eufemismo, e encontraram no estranho verbo intransitivo, também transitivo direto hibernar, a palavra que buscavam para encobrir a mal intencionada decisão, ou a preconcebida farsa.

As Fafens iriam “hibernar”, ficar semimortas, entorpecidas. Portas fechadas, máquinas desativadas, trabalhadores sem rumo certo. Esqueceram, ou propositalmente ignoraram que, dependendo das FAFENs há uma portentosa cadeia produtiva. São dezenas de fábricas de fertilizantes, uma frota de caminhões, e tantas atividades que giram em torno. Pousadas, restaurantes, comércio variado, fornecedores, e mais a dependência enorme de municípios, aos impostos que as “hibernadas” recolhiam. Os dois estados, Sergipe e Bahia, também sofrem as consequências diretas dos impostos das FAFENs não pagos, e indiretas, maiores ainda, com a queda drástica no consumo de todas as atividades girando em torno das duas fábricas.

Em resumo, a “hibernação” é uma calamidade.

Ainda no governo Temer foram feitos vários apelos, diversas tratativas no sentido de que fossem mantidas em funcionamento as duas indústrias, até que a transferência para a iniciativa privada acontecesse. Não houve jeito, apenas deixaram a data fatal para o próximo governo.

Acalentou-se, então, a esperança de que no governo Bolsonaro a decisão fosse revista. O que não aconteceu. Mas na PETROBRAS, nos Ministérios, houve sensibilidade para o problema, e aceleraram a passagem rumo ao modelo preferido que foi o arrendamento. Três empresas do ramo de fertilizantes já estão alinhadas no ponto de partida, e o martelo será batido ainda neste semestre. Alivia-se o drama com a esperança do reinicio das atividades das “hibernadas”. Mas o despertar do sono forçosamente letárgico não será um processo simples. Presumindo-se que a manutenção dos equipamentos parados tenha sido feita adequadamente, mesmo assim, será preciso percorrer etapas até deixá-los outra vez funcionando na plenitude.

A PETROBRAS não poderá deixar passar sem maiores consequências a atitude dos gestores responsáveis que cometeram a insanidade.

Existe na sociedade hoje um sentimento forte contra a corrupção, e quase sempre entram na mira exclusiva dos indignados as instituições, e ainda mais os políticos.

E então explodem nas redes sociais acusações assim: “Os ministros do STF estão comendo caviar e o povo passando fome”.

Num país que tem agora mais de treze milhões de desempregados, e o desemprego está aumentando, fechar fábricas chega a ser um crime de lesa pátria, porque no caso das FAFENs a paralisação só aumentou o prejuízo.

Os governos de Sergipe e da Bahia prepararam minuciosos documentos que foram levados aos Ministérios e à PETROBRAS, demonstrando os efeitos calamitosos que adviriam como resultado da “hibernação”.

Agora, todas as previsões feitas, todos os alertas acionados demonstram onde estava a razão. Absolutamente ela não anda do lado dos arrogantes gestores que decidiram e anunciaram a “hibernação”.

O jornal Valor Econômico publica uma extensa reportagem sobre os efeitos na balança de pagamentos do aumento da importação de fertilizantes, consequência da queda na produção brasileira que não chega a trinta por cento da nossa demanda, mas, nesse período de “hibernação” das FAFENs foi encolhida a quase zero.

Causar prejuízos ao país, provocar transtornos econômicos, infernizar a vida de pessoas que vivem do seu trabalho, não seria algo tão pernicioso quanto a corrupção?

(Na íntegra: Matéria do Jornal Valor Econômico)

SETOR QUÍMICO AGUARDA POLÍTICA DO GÁS

A aprovação da resolução que cria o Comitê de Promoção da Concorrência do Mercado de Gás Natural no Brasil, no início de abril pelo Conselho Nacional de Política Energética, foi comemorada pelo setor químico. Há anos, a indústria tenta sensibilizar o governo quanto aos benefícios da confecção de uma política específica para o insumo, seja como fonte de energia, seja como matéria-prima - a indústria química é a que mais consome gás no Brasil. Sem essa política, diz o setor, o déficit comercial, que foi recorde no primeiro trimestre, continuará avançando.

Nos três primeiros meses do ano, o saldo negativo na balança comercial de produtos químicos totalizou US$ 6,9 bilhões, com alta de 23,9% na comparação anual, segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Em 12 meses até março, o déficit somou US$ 30,9 bilhões, 4,4% acima dos US$ 29,6 bilhões negativos de 2018.

Houve avanço importante das importações no trimestre. As compras externas cresceram 9,9%, para US$ 9,9 bilhões, só menores do que os US$ 10,1 bilhões apurados no mesmo período de 2013-naquele ano, o déficit comercial foi recorde em US$ 32 bilhões. Segundo a Abiquim, se as perspectivas de retomada da economia e a expectativa de safra favorável se confirmarem, o saldo negativo em 2019 vai superar esses US$ 32 bilhões.

Fertilizantes, defensivos agrícolas e intermediários seguem liderando a pauta de importações, com

aumentos acima de 50%. Além disso, diz a Abiquim, com a hibernação da fábrica de fertilizantes

nitrogenados da Petrobras na Bahia, o preço dos importados avançou 14,4% no trimestre.

Os números da balança comercial em volume dão força ao pleito da indústria. De janeiro a março, as importações chegaram a 10,4 milhões de toneladas, com avanço de 22,5%, enquanto as exportações caíram 18,7%, para 3,1 milhões de toneladas.

Ao mesmo tempo, as exportações de químicos seguem afetadas pela crise na Argentina, principal parceiro comercial do país nesse setor. As vendas externas recuaram 12,4% no trimestre, para US$ 3 bilhões, pressionadas também pela menor competitividade do produto brasileiro frente à concorrência internacional.

Por essa razão a indústria comemorou o avanço no programa "Novo Mercado de Gás", que pode resultar na formação de um mercado de gás natural aberto. Se houver mais concorrência, os preços do gás natural tendem a cair, aliviando os custos do setor. Para o presidente-executivo da Abiquim, Fernando Figueiredo, a decisão do ministro da Economia, Paulo Guedes, de eliminar os entraves existentes ao uso do gás natural no país "é absolutamente correta e imprescindível para proporcionar mais competitividade para a indústria".

Conforme a entidade, entre os resultados esperados do programa estão o aproveitamento do gás do pré-sal e de outros campos relevantes, investimentos em infraestrutura de escoamento, processamento e transporte de gás, aumento da geração termelétrica a gás (com redução do preço da energia) e a "reindustrialização" de diferentes setores.

Fonte: Valor Econômico

(https://www.valor.com.br/empresas/6236725/setor-quimico-aguarda-politica-do-gas)

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