Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
SERIA UM DENDROCÍDIO?
14/12/2019
SERIA UM DENDROCÍDIO?

(Como compensar as árvores derrubadas é desafio para o prefeito)

Dendrocídio, é palavra que não existe, aparece aqui, apenas, como um petulante neologismo que forjamos, para classificar como criminoso, aquele que mata uma árvore.
A palavra dendrocídio ganharia efetividade, se utilizada por um dendólatra. E dendólatra não é invenção, faz parte do nosso léxico, está dicionarizada, trata-se de uma forma real de adoração às árvores, que persiste em algumas tribos primitivas, ou nem tanto assim.
Só no sentido figurado alguém poderia matar, assassinar uma árvore, até porque, matar é eliminar uma vida. Mas as árvores são vivas, possuem um organismo, até se alegram ou entristecem, dizem alguns, mesmo sem ser pela ação do clima. Quem encostar os “ouvidos” sensíveis de um estetoscópio ao caule de uma árvore, poderá sentir a pulsação da sua seiva, ou do seu sangue.


Os dendólatras condenariam, talvez mesmo à morte, aquele que abatesse uma árvore. Para eles seria um crime horrendo, mesmo inafiançável, se tivessem leis mais sofisticadas.
Há, na índia, uma comunidade que ultrapassa vinte milhões de indivíduos, (isso nas proporções indianas não é grande coisa) e eles não comem carne, são vegetarianos, veganos totais. Não matam sequer um simples inseto, se caminham à noite levam a clarear o chão um lume, para evitar que, inadvertidamente, acabem pisando e esmagando uma formiga. Para eles, a morte provocada, seria um pecado grave a ser expiado. 
Imagine-se o que é a vida de um Jaininista, sendo pasto para milhares de muriçocas, e sem poder dar-lhes um tapa, para não serem pecadores.
Agora, imaginem se os Jains, também fossem dendólatras? 
Conseguiriam viver sem carne e sem vegetais?
Assim, em face da relatividade das coisas, mesmo com a tristeza que sentimos quando centenas de árvores são derrubadas na Avenida Hermes Fontes, seria descabido classificar o prefeito Edvaldo Nogueira como um dendrocída. Se o fizéssemos, teríamos também de encontrar neologismos para quem mata boi, bode, suíno, galinha. Seriam boicidas, bodecidas, suinocidas, galinhocidas?
Também não devemos minimizar, ou naturalizar o fato da derrubada maciça de tantas árvores. Não serão apenas aquelas, bichadas de cupim, chamadas mata-fome, espinhentas, e com raízes invasoras. Há craibeiras já frondosas, algumas daquelas que foram plantadas aos milhares em Aracaju por Marcelo Déda, Edvaldo Nogueira, doadas pelo Instituto Vida Ativa, que produz mudas em Canindé do São Francisco.
Apesar de tudo, como não há assassinos de bois, bodes, suínos e galinhas, que são abatidos todos os dias aos milhões e aplacam, dessa forma, diríamos cruel, a fome dos habitantes do planeta, também derrubar, planejada e justificadamente algumas árvores, não seria um dendrocídio.
É ponto pacífico e até assertiva bíblica, que as “bestas” devem ser úteis aos humanos. Hoje, cresce a exigência para que o sacrifício colossal, seja sempre feito sem crueldade. Aqui entre nós, sergipanos, a vereadora Kitty Lima, saltou, no ano passado da vereança em Aracaju para a Assembleia Legislativa, pelo discurso convincente em defesa dos animais.


Os que queimam centenas de hectares da floresta amazônica, são sem dúvidas criminosos, até genocidas, pelas consequências planetárias danosas que a devastação da floresta causará.
Dezenas de árvores postas ao chão na avenida Hermes Fontes, sem dúvidas farão falta. Delas, sentirão a ausência não só passarinhos, mas, principalmente, os que habitam naquela avenida, que ficará destituída das sombras amenizadoras, do verde que apascenta.
Mas aí entra uma nova visão da coisa.  Haveria outra forma de resolver o angustiante problema do tráfego naquela região, sem o sacrifício das árvores, a fim de que sejam criados corredores livres para os ônibus?
Diz o Prefeito Edvaldo que não, porque a questão foi detidamente analisada por técnicos e não haveria outra solução menos traumática.
Existe a promessa da compensação pela perda das árvores, com o plantio a partir de agora, mais intenso por toda a cidade.
Se a Hermes Fontes sem a moldura civilizada das árvores, ajudar a desafogar o trânsito, melhorar a mobilidade urbana e tornar mais fácil a vida das pessoas, falar em dendrocídio seria exagero.


 Mas a compensação terá de vir em larga escala, com um compromisso solene de Edvaldo diante da população de intensificar o plantio. Na área de expansão, por exemplo, e que colocará verde, muito verde, no novo bairro 17 de Março, onde agora existe uma estrutura urbana moderna, mas há uma enorme carência do verde.
Nas avenidas aracajuanas com arborização central, há largos espaços entre uma árvore e outra, que podem ser preenchidos, com coqueiros, por exemplo. Como área de compensação, também deveria ser incluído o manguezal “urbanizado” do Tramandaí, que precisa ser revitalizado, o mesmo acontecendo com uma parte dos mangues da 13 de Julho.
Do Instituto Vida Ativa, Edvaldo já recebeu a promessa de que mais de 500 mudas de craibeiras ainda este ano poderão ser doadas.
A prefeitura vai assumir a administração da Orla da Atalaia. Há, no local, grandes espaços a merecer uma bem planejada arborização, o que era objetivo do seu criador o ex-governador João Alves.
No Parque da sementeira Augusto Franco, numa área desmembrada da EMBRAPA, por iniciativa do seu ex-chefe em Sergipe o agrônomo Manoel Moacir, o advogado Luiz Roberto Santana, dirigente da EMSURB, está criando um jardim Botânico da Restinga. Será um grande bosque formado por árvores, tais como: gragerú, murici, ingá, cajuí, maçaranduba, araticum, e tantas outras.
A conclusão o mais breve possível daquele Parque, poderá ser mais uma compensação a ser feita, em troca da Avenida Hermes Fontes transformada num corredor ágil, capaz de fazer fluir melhor o trânsito aracajuano.
 Sem se enfrentarem dendrocidas nem dendólatras, e o verde, apesar de tudo, triunfando.

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