Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
TEXTOS ANTIVIRAIS (103)
26/07/2022
TEXTOS ANTIVIRAIS (103)

 

UM POUCO DE HISTÓRIA E ONDE FICA O BRASIL (2)

Ao longo da história, onde fica o Brasil?

 

Quando iniciou-se a Segunda Grande Guerra o Brasil vivia uma ditadura, inspirada, exatamente, no modelo fascista nascido na Itália com Benito Mussolini, que assumiu o poder em 1922. Adolf Hitler, em eleições vencidas em 1933 pelo partido que criara, e comandava, tornou-se Primeiro Ministro na Alemanha, e logo colocou em prática a sua visão totalitária, colocando o nazismo muito além do fascismo, em termos de radicalização de práticas genocidas, como o extermínio dos judeus, e de outras raças, classificadas por ele como “untermensch”, subumanas.
Getúlio, chegando ao poder após a Revolução de 1930 liderando o “tenentismo”, movimento de militares insatisfeitos com a “Fazenda Brasil“, e querendo atualização com o mundo moderno, era um político pragmático, que professava, como devoto crente, a “religião do poder”. Em relação às outras, ele era indiferente, como positivista e agnóstico. Tinha uma afinada visão de Brasil, unindo o tema econômico ao discurso social. Chefiando um governo autoritário que se exarcebara em 1937, quando deu um autogolpe, eliminando a Constituição feita em 34 para agradar os paulistas, que se rebelaram em 1932, e foram vencidos pelas armas. Ele fez muito mais do que rasgar aquilo que o presidente Dutra chamaria de “livrinho”; convocou Francisco Campos, o “Chico Ciência”, jurista fascistão de quatro costados, e o mandou redigir o que ficou sendo conhecido como a “Polaca”. Nela, todos os autoritarismos eram permitidos, e fechou tudo, desde o Congresso Nacional às Câmaras de Vereadores; acabou a autonomia dos estados, as liberdades individuais, e deu a um  sergipano, Lourival Fontes, através do DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda a tarefa ignóbil e dupla: santificar o regime, e calar a boca de quem dele duvidava. Lourival Fontes, um intelectual e também declaradamente fascista, executou a missão com obediência, devotamento e prazer. Ele, além de tudo, tinha, de fato, um fascínio por Getúlio e o poder que ele representava.
Um parêntese para uma curiosidade apimentada: Lourival era muito feio, diziam, porém, que era mais feio “por dentro do que por fora”, todavia, ele se considerava sedutor das mulheres, pela inteligência, e outros atributos que não chegava a explicitar. Nesse diapasão, seduz a jornalista e escritora Adalgisa Nery, exatamente o contrário do que ele representava em termos existenciais e ideológicos. Adalgisa era de esquerda, linda, exuberante, sensual, e casada com o pintor Ismael Nery, com quem viveu na Europa, transitou nos meios intelectuais e artísticos, teve casos com gente célebre, como o pintor Juan Miró, entre outros, e, no Brasil, entre outros, com o maestro Villa-Lobos. Mas, a paixão avassaladora entre os dois superou tudo isso. Getúlio mandou baixar um decreto criando o divórcio no Brasil, para que eles casassem, depois, o revogou apressado, atendendo aos reclamos do escandalizado Cardeal Leme. Mas isso foi depois que Adalgisa Nery e Lourival já estavam divorciados e casados civilmente.
Havia insistente rumores de que se formará um “triângulo amoroso” entre Getúlio, Lourival e Adalgisa. Porém, essa figura geométrica tão usual para caracterizar tríplices parcerias amorosas, era minimizada por muitos, que preferiam a metáfora de um poliedro.
Alguns áulicos iam insinuar a Getúlio que havia murmúrios sobre a suposta relação dele com Adalgisa, a esposa do amigo, e seu prestigiado ministro.
O Ditador os tranquilizava: “não tem nada disso, é o Lourival querendo se gabar”.
São sarcasmos assim, desse gênero, que costumam fazer as delícias das “Cortes”. 
Quando criou o “Estado Novo” em 10 de novembro de 1940, Getúlio, guardando na cadeia os comunistas que fizeram a fracassada rebelião de 1935, e outros, que nem chegaram a tomar conhecimento de que a quartelada iria acontecer, foi surpreendido na noite de 11 maio de 1938, quando dormia com sua família no Palácio das Laranjeiras, no Rio, por uma intensa fuzilaria dos atacantes que tentavam tomar o Palácio e o poder.
Era um punhado de Integralistas, os fascistas brasileiros, insatisfeitos com a ambiguidade de Getúlio e querendo instalar um regime nitidamente fascista, alinhando o Brasil aos propósitos da Alemanha e da Itália. 
Ficaram confinados nos mesmos presídios, inclusive no arquipélago oceânico de Fernando Noronha e na Ilha da Trindade, mais distante ainda, tanto comunistas como fascistas, que tiveram meses e meses para esgrimir com palavras, num duelo ideológico que o tempo acabou agora de tornar anacrônico e obsoleto. Todos, estupefatos, tiveram de engolir o que argumentavam, quando, em 23 de agosto de 1939 os chanceleres Molotov e Ribentrop, representando respectivamente, a União Soviética comunista e a Alemanha nazista, assinaram o repugnante pacto, para, dez dias depois, deflagrarem o arrasador ataque contra a Polonia, dando inicio ao que logo se transformaria em guerra mundial.
Getúlio viu-se livre do conflito interno, e tratou de tirar o maior proveito possível dos dois lados em confronto tentando ampliar as nossas raquíticas reservas cambiais. (CONTINUA)

 

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OS INCÔMODOS QUE AGUARDAM JACKSON

JB faz jogo arriscado, trocando de grupo.

 

Tendo consumado mesmo a anunciada adesão a Rogério Carvalho, Jackson Barreto terá de acomodar-se a algumas situações incômodas. Ele sabe que nunca foi tratado no PT com um mínimo de deferência. Pelo contrário, a companheirada nunca votou nele, a não ser quando candidato à reeleição, depois de ter substituído Marcelo Déda, que morreu sem completar o mandato. Setores influentes no PT, onde sobressai-se Rogério Carvalho, nunca o viram com bons olhos, mesmo contemplados com cargos importantes, quando ele governou Sergipe. Existiram sempre aquelas idiossincrasias, que, a depender da ocasião, sempre aparecem, tal como resilientes malquerenças, e isso fará de JB um corpo quase estranho, rejeitado nos aglomerados petistas. Não se quer dizer que o sentimento seja unânime, há setores do partido pensando mais objetivamente, observando os exemplos de Lula, e entendendo que somar apoios é a sutileza  mais construtiva da política. Foi somando apoios que Lula conseguiu eleger-se, saindo do nicho exclusivo da esquerda onde operava, e hoje, mais ainda, buscando tornar heterogênea uma frente que se formou, e se amplia em defesa da nossa hoje periclitante democracia. 
Havia também, lá no início, restrições a Jackson pelo caráter populista da sua atuação, que se tornaram mais fortes nos tempos em que JB exercia uma liderança quase absoluta em Aracaju, com aprovação aproximando-se dos 70 %. E assim  causava ciúmes.
Esses tempos passaram, e hoje “tudo o que é sólido derrete no ar”. Lembramos aqui, esta frase no preâmbulo do Manifesto Comunista, que depois surpreenderia, se vivos fossem os próprios autores, pois até o comunismo, que se supunha solidamente instalado na União Soviética, derreteu, no ar da glasnost (transparência) e da perestroika, (reforma) o conjunto das revelações, autocríticas, ou mea culpa que Gorbtchev incentivou.
Tudo o que é sólido derrete no ar. Alianças, amizades, projetos, ideias, convicções.
A coisa bem clara é que, faz pouco tempo, alguns petistas, entre eles Rogério, classificavam o governo de Jackson como o pior já havido em Sergipe, e Rogério ia mais longe, dizendo que JB, em termos políticos, era como se fosse uma sandália havaiana falsificada.
Vai daí, depreende-se: a convivência não será nada fácil. A sorte de JB é que ele não é candidato para depender do apoio petista.  Se o próprio Lula, que sem ele o PT não existiria, e muito menos teria chegado ao poder, agora começa a ser prejudicado em Sergipe pelo egocentrismo de Rogério, e sua sofreguidão incontrolável em votar a favor do Orçamento Secreto, o que não poderá acontecer ao novo aliado, JB, hoje com pouca “munição”.
Mas Jackson tanto sabe disso, que armou uma arapuca para os que dele não gostam nos arraiais de Rogério: indicou Sérgio Gama, empresário, filho do ex-prefeito de Aracaju, e também empresário João Gama, para ser o vice de Rogério. Assim, não terão como negar o voto ao escolhido por Jackson.
Se Rogério ganhar, JB terá o Vice Sérgio Gama para lhe dar sustentação política, porque lhe será leal, tanto quanto tem sido o pai em relação a ele, JB. Mas, com certeza, não indicará o Secretário de Obras, tal como fez a Belivaldo, que o atendeu em todas as suas reivindicações. E não são poucas.
Se ele falar mal do grupo ao qual estava até ontem ligado, revelará, tão somente, um comportamento leviano, tal como fez Rogério em relação a Edvaldo Nogueira, a Belivaldo, e ao próprio Jackson.
Jackson tem um nome a zelar, e uma história política de coerência, por isso, não iria cometer o equívoco de cuspir no prato após o jantar, imitando o seu agora aliado Rogério Carvalho. Uma atitude que não foi apenas deselegante ou  oportunista, mas, algo bem sintomático, a revelar uma volubilidade do próprio caráter.
Em todo caso, registre-se a posição de Jackson em ser solidário a Lula, posição que poderia ser mantida, da mesma forma, no lado em que estava, onde, quase todos, têm a mesma tendência de votar no ex-presidente, com exceção do deputado federal Laércio Oliveira, pré-candidato ao Senado, e bolsonarista convicto.

 

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O BANESE ATRAVESSA O RIO SÃO FRANCISCO

O investimento em Alagoas foi bem aplicado e o hotel está quase pronto.

 

O assunto não é novo, e a crítica feita é agora requentada. Em tempo de campanha isso é frequente e até normal. O radialista Messias Carvalho, um vigilante repórter, atravessou o rio São Francisco, foi a Piranhas, onde o desenvolvimento resulta da existência de prefeitos eficientes, e de um empreendedorismo ágil e inteligente. Descobriu, para surpresa sua, que o BANESE havia feito a mesma travessia, e estava financiando um empreendimento hoteleiro. Fez então um vídeo onde externa a sua estranheza pelo fato de um banco sergipano estar dando suporte a um empreendimento em terras alagoanas, e disse que haveria a possibilidade de outros empreendimentos em território sergipano estarem à míngua de recursos.
Faz alguns meses que o BANESE havia emitido uma nota, porque suscitara-se uma dúvida sobre a legalidade do empréstimo que  teria sido feito a um magistrado, supostamente sócio do projeto. Dúvidas esclarecidas nesse aspecto, surgiu a outra questão da “travessia do rio”. 
Essa agora, levada insistentemente às redes sociais, como se houvesse sido praticado por parte do banco estatal, um dos 4 que restam no país, algo, em detrimento dos interesses sergipanos.
Não existe na legislação específica, nenhuma cláusula restritiva aos poucos bancos estaduais, limitando as suas ações ao próprio território do estado. Nada, por conseguinte, impede o BANESE de atravessar o rio e chegar à Alagoas. No passado, antes que no governo FHC, fosse feito o saneamento ou extinção de bancos estaduais que andavam cambaleantes, havia uma variedade deles operando em todo o país. Em Aracaju, existiam agências do Banco da Bahia, do gaúcho Banco da Província, do BANESPA, e BANERJ. Todos foram extintos ou incorporados à rede privada, e com mais fusões de particulares, motivando o agigantamento do BRADESCO e ITAU, que seria bom, desde que houvesse competitividade. O BANESE, naquela ocasião, tinha agências em Maceió, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Não consta que nenhum alagoano, baiano, ou de qualquer outro estado, tenha feito reclamações pela invasão do seu território por “agentes sugadores dos seus recursos”. Pelo contrário, as agências desses bancos eram sempre recebidas com festa, na inauguração, as autoridades e o empresariado local compareciam prestigiando.
Para salvar-se da sanha privatizante, o BANESE fez um enxugamento, fechou suas agências, conseguiu sair de uma pesada crise que o levaria a extinção pelo Banco Central, e isso se deve à posição firme assumida pelo então governador Albano Franco, que chegou a ouvir sutis ameaças do Ministro da 
Fazenda Pedro Malan.
Tendo alcançado solidez e recorde em produtividade, ocupando considerável espaço nos negócios sergipanos, o BANESE é procurado por empresários de diversos setores de Alagoas e do nordeste baiano. No caso do hotel em Piranhas o empresário é sergipano, e tem, na margem direita, a maior parte dos seus empreendimentos turísticos. Nada, por conseguinte, que venha a indicar equívocos no empréstimo feito, que aliás é comum. Do contrário, o BANESE se limitaria ao nosso exíguo território, e não se fortaleceria mais para oferecer aos acionistas, o próprio Estado de Sergipe, e privados, os  rendimentos crescentes pelos seus lucros em ascensão.
Um dos bancos estaduais que sobraram, o BRB, do governo de Brasília, fez agora ao Governo de Pernambuco e à Prefeitura do Recife, financiamentos que ultrapassam a casa de seiscentos milhões de reais. Coincidentemente, o governo de Sergipe já tem, quase concluídas, as negociações para um empréstimo de 250 milhões de reais, e sabe-se, ainda, que o BANESE e o BRB estariam em negociações para a formação de uma joint-venture.
O BRB tem, no seu portfólio, um número de clientes superior a 4 milhões. Se ficasse restrito aos limites do Território Federal,  jamais chegaria a essa cifra, mesmo, na hipótese impossível de que todos os moradores de Brasília e entorno, se tornassem  usuários dos seus múltiplos serviços.
Os rios delimitam territórios, mas não limitam a inteligência.

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