Luiz Eduardo Costa
Luiz Eduardo Costa, é jornalista, escritor, ambientalista, membro da Academia Sergipana de Letras e da Academia Maçônica de Letras e Ciências.
TEXTOS ANTIVIRAIS (26)
10/08/2020
TEXTOS ANTIVIRAIS (26)

A ENERGISA “ENERGIPEZOU-SE”?

O COVID ERA UMA INVENÇÃO?

(A Energisa volta aos tempos da Energipe?)

A ENERGISA, que tanto nos fez crer nas evidentes vantagens das privatizações, desde que não feitas com o açodamento de quem pretende tapar rombos orçamentários, vem, todavia, dando nítidos sinais de que refunde-se com a finada ENERGIPE. Imaginamos, para denominar esse encontro do que seria o futuro, com aquilo que ficou no passado, um neologismo que sintetizasse o malsinado retrocesso: “Energipezação”.

A Energipe, nem mais lembra dela uma boa parte dos sergipanos, era uma estatal concessionária da distribuição de energia em Sergipe, exceto na região sul, onde opera a Sulgipe, criada no final dos anos cinquenta pelo engenheiro Jorge do Prado Leite. A Sulgipe é, até agora, uma empresa sem graves defeitos a lhe serem atribuídos. É gerida por um outro engenheiro elétrico, Ivan, filho do fundador. No governo militar, quando houve um forte impulso autoritário-estatizante, a Sulgipe escapou por muito pouco.

Bom lembrar que o governo era militar, resultante de um golpe, que, daquela vez sim, uma majoritária parte da sociedade pedia que dos tanques fossem esquentados os motores. Mas o Ministério sempre, durante os mandatos dos 5 generais presidentes foi, na maior parte, formado por tecnocratas civis, aliás da melhor estirpe, gente assim como Mário Henrique Simonsen, Delfim Neto, Hélio Beltrão, Quandt de Oliveira, este, engenheiro militar que modernizou as telecomunicações. A lista é extensa, seria fastidioso lembrar, mas apenas, por oportuno, acrescentando que todos os Ministros da Saúde foram médicos, professores de Universidades, entre eles, um sergipano, Mário Machado de Lemos, irmão de Eraldo Lemos, também sergipano, que foi até candidato pelo MDB, partido, conforme sabido, criado para simular oposição, e acabou fazendo-a de verdade, pagando o preço com muitas cassações pelo AI-5.

Mas, o que tem a ver a “ENERGIPEZADA” com isso? Rigorosamente nada. Quem está com COVID, como é o meu caso, e indignado com quem fez pouco caso da doença, e chegou ao necrófilo gosto de fazer piada, não pode perder a oportunidade, até de juntar coisas aparentemente desconexas, construindo possíveis comparações, assim, tentando clarear a memória das pessoas contaminadas por outro tipo de vírus, que não mata diretamente o ser humano, mas o faz esquecido, desprezado, e ofendido. Este é o vírus que enfurece, divide e conflagra a Nação, fazendo sumir tudo o que de civilizatório construímos; ameaça as instituições, faz brasileiros olharem uns aos outros com desconfiança, e até ódio, a assim, nos leva de roldão até o sentimento da caridade. No sábado, atingimos a cifra horrenda de cem mil mortos. O que se ouviu do Chefe da Nação, o homem no qual 74 milhões de brasileiros conferiram a responsabilidade de cuidar do país, do povo deste país? Apenas: “Lamento, é isso aí, é a vida.”

Não, não é a vida, é a morte, e ela chega dessa forma tão assustadora, porque houve erros calamitosos na condução do problema. O Chefe da Nação deveria ter assumido o comando da Nação, mas, ele preferiu desafiar o Covid, como se fosse um Dom Quixote, mais insano ainda, transformando em dragões da maldade e da vilania, aqueles que faziam graves advertências sobre a necessidade de unir o país, alertar a população, tomar as providências drásticas, em comum acordo com governadores, prefeitos, com a sociedade. Mandeta, no Ministério da Saúde, já dava início a um excelente trabalho, todo o sistema do SUS estava mobilizado, e os profissionais, também do setor privado, começando a jornada heroica que o presidente não cansou de desconstruir, e até de condenar, chegando ao extremo de sugerir a invasão de hospitais.

Agora, no sábado, quatro meses depois, quando a “gripezinha” já dizimara cem mil vidas, as bandeiras do Supremo e do Congresso estavam a meio mastro, a do Palácio do Planalto permanecia no alto. Já o presidente, tranquilo, almoçava no restaurante Coco Bambu, de Brasília, com uma deputada investigada por extremismo e crimes virtuais. O dono da Rede Coco Bambu é um dos financiadores daqueles grupos de azogados que pedem fechamento do STF, Senado, Câmara, e uma ditadura com Bolsonaro à frente.

Todos estavam muito felizes, e Bolsonaro ainda arrotando o almoço, postou nas redes sociais: a “Rede Globo comemorou hoje as cem mil mortes.”

Mas, explicando novamente que essas digressões se devem ao Covid, de certa forma intrometendo-se neste texto, voltemos à “ENERGIPEZADA”. Quando, no primeiro governo de Albano, FHC, fazia uma privatização seletiva, escolhendo aqueles setores mais travados da economia, como a telefonia e a distribuição de energia, o Ministro Pedro Malan insistia que Sergipe deveria privatizar a Energipe e o BANESE. Levantaram-se as bandeiras contra a privatização, embora Albano houvesse resistido, não concordando em desestatizar o BANESE, um banco que já estava em recuperação, e nunca pesou nos cofres públicos, pelo contrário até.

Formava-se na Assembleia uma ala que ameaçava não aprovar a venda da Energipe. Foi quando o prefeito de Aracaju, João Augusto Gama, com aquela forma jocosa que ele tem as vezes de dizer as coisas, soltou a frase fulminante: “Eu não entendo essa campanha contra a venda da Energipe, aquilo ali só serve como cabide para dar emprego a rapariga de deputado”.

Pronto, com isso, as esposas dos senhores legisladores tornaram-se intransigentes adeptas da privatização.

Um grupo até de pequeno porte, a distribuidora mineira Cataguazes, nome da cidade onde nascera, comprou a Energipe. Na época uma fabulosa bolada. Tudo facilitado pela magnanimidade do BNDES. O governo pagava para privatizar; o empresário tornava-se dono de um dos raros negócios que no capitalismo opera sem risco. As distribuidoras são indenizadas pelo Estado brasileiro quando, por qualquer motivo, deixam de receber da geradora a energia que operam, ou, como no caso da inepta Dilma, quando a tarifa é reduzida, e nós, consumidores, depois ressarcimos as elétricas.

Em todo caso a nascente ENERGISA fez um bom trabalho, modernizou, deu gerenciamento profissional, tornou-se ágil no atendimento ao cliente. Expandiu linhas, com a ressalva de que o custo disto, mais uma vez, fica com os cofres públicos.

Na sexta feira, antes do assustador sábado, a Energisa interrompeu o fornecimento em Canindé. Não houve aviso, nada. Parte da cidade ficou sem luz, inclusive o Perímetro Irrigado Califórnia. Isso num período de pandemia, quando as vezes a falta de luz pode impedir que uma vida seja salva. Não demorou muito, na sede, mas, numa vasta área do interior, a luz só chegou no dia seguinte, mais de vinte e quatro horas depois. Não parou por ai: a ENERGIPIZADA, fez um novo corte, logo cedo, no sábado; dessa vez a luz retornou por volta das quinze horas.

Essas falhas da ENERGISA fazem-na assemelhada à Energipe, que prestava péssimos serviços.

Só faltaria, agora, a ENERGEPIZADA voltar a ser “cabide de emprego para raparigas de deputado”, mais uma vez aqui, repetindo a frase candente do ex-prefeito João Gama.

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O GENERAL SANTOS CRUZ E O DIA TRISTE DOS PAIS

(O general Santos Cruz faz um alerta aos brasileiros)

O ex Ministro Chefe da Secretaria de Governo, general Carlos Alberto Santos Cruz, se fez respeitado no Exército e pelos brasileiros, pela sua integridade, altivez e coragem, e entre outros atributos, um deles, que o projetou internacionalmente, quando comandou tropas das Nações Unidas na África, em missões de combate.

No Dia dos Pais, que vivemos diante do impacto das cem mil mortes, o general Santos Cruz divulgou a seguinte nota:

Triste dia dos pais. O Brasil chora mais de cem mil mortos. Quantos órfãos, quantas famílias mutiladas? A dor maior é saber que parte dessas perdas poderia ter sido evitada, se houvesse liderança para a união de todos pela vida dos brasileiros. Até quando?”

Os brasileiros todos, sejam bolsonaristas ou não, deveriam, sem paixões, meditar sobre as palavras do general.

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